quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Orquestra de Tambores de Alagoas - Bantus e Caetés [2008]


A Orquestra de Tambores de Alagoas, mais do que só uma orquestra, é um laboratório de experimentações sonoras e de resgate de tradições. A própria formação do grupo, em 2004, explica isso. O mentor e "regente" da orquestra é o percussionista alagoano Wilson Santos, que desde 1989 se dedica ao estudo da tradição percussiva africana. A partir de oficinas e aulas que ministrava, juntou alguns de seus alunos e a orquestra estava formada - e o enfoque já não era apenas a música africana, mas a sua influência no Brasil. A tradição de música popular alagoana é em parte o fruto do encontro de duas culturas distintas: os escravos bantus trazidos da África subsaariana e os índios caetés, que habitavam a região de Alagoas. Essa dupla influência é o enfoque desse disco de 2008.

O duplo eixo de trabalho da Orquestra - tradição e experimentação - talvez seja a principal razão do resultado sonoro ser tão interessante. O grau de intimidade com o trabalho começa da matéria prima: assim como os bantus e caetés de séculos atrás, os membros da Orquestra de Tambores constroem seus próprios instrumentos. A pesquisa musical, histórica e cultural é extensa, a música é feita com a propriedade de quem vive aquele contexto. E ao mesmo tempo, há espaço para o moderno. Efeitos eletrônicos, instrumentos não convencionais e todas as sonoridades que só o século XXI pode nos proporcionar. Mas nada soando fora do lugar.

Vale mencionar a participação especial de Naná Vasconcelos na última faixa, Mundo Nagô.


Tracklist:

01 - Áyàn Enluará
02 - Tempestade Festa
03 - Zumba
04 - Helena
05 - Banzo
06 - Ação Dinâmica ao Caçador
07 - Tambor ou Bola
08 - Luanda pra Cá
09 - Ancestralidade
10 - Zé
11 - Dandalunda
12 - Baianá
13 - Mooyo (Horizontal)
14 - Mundaú-Nagô

Clique na capa do álbum pra baixar.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Pedro Santos - Viva Pedro Santos! Antologia Musical [2005]


O post de hoje vem comemorar uma coisa e homenagear outra. A comemoração é modesta: é só porque um ano atrás publiquei a primeira postagem desse blog. Eu até imaginei que o blog fosse dar uma crescidinha com o tempo, mas foi bem mais rápido do que eu pensava: obrigado a vocês que vieram baixando as coisas nesse último ano. Como eu disse lá na introdução ao blog, não fiz nenhuma escolha consciente por algum tipo de música específico para as postagens do blog, mas os padrões aparecem e, querendo ou não, acabei priorizando a música paraibana - de preferência aquela que não seja (ou não seja mais) tão divulgada por aí.

O que nos leva ao homenageado da vez. Vinte e cinco anos atrás, no dia 29 de agosto, faleceu o maestro amazonense Pedro Santos (não confundir com o percussionista carioca Pedro Sorongo Santos). Nasceu em Manaus em 1932, e em 1958 se radicou permanentemente em João Pessoa. O rapaz, um careca-cabeludo de jeans, camisa xadrez e sandálias franciscanas, tinha tido aulas com ninguém menos do que Heitor Villa-Lobos. Ao chegar na Paraíba, tornou-se um dos principais agentes de movimentação cultural. A lista de contribuições é extensa: fundou inúmeros corais, regeu inúmeras orquestras e grupos de câmara, fundou cineclubes, fez trilhas sonoras pra teatro e cinema e ainda foi professor e jornalista. Junto a Elpídio Navarro e Altimar Pimentel, foi um dos responsáveis por levar o teatro paraibano a um patamar de reconhecimento nacional durante cerca de três décadas.

Sem nem ao menos ter um piano em casa, compôs um número enorme de obras - canções de natal, missas, músicas folclóricas, música de vanguarda, sambas, choros, aboios... Uma produção tão vasta que espanta que hoje em dia ele seja tão pouco lembrado. Talvez ele seja, junto a José Alberto Kaplan, uma das figuras mais importantes para a música paraibana da segunda metade do século XX. Essa antologia, em forma de CD duplo, foi feita numa tentativa de resgatar o legado do maestro de jeans. Foi um esforço coletivo de vários músicos paraibanos, populares e eruditos, novos e velhos, amigos íntimos de Pedro e pessoas que nunca tinham ouvido falar dele. Eu na minha pequenez tento fazer a minha parte, introduzindo finalmente esse trabalho à era da internet.

Os agradecimentos dessa postagem vão a Nara Limeira, filha de Pedro que gentilmente disponibilizou o CD ao blog.

Abaixo, uma versão da música Zefa Cajá, feita para o filme Menino de Engenho de Walter Lima Jr., tocada pela banda de Cajazeiras Tocaia da Paraíba:


Tracklist:

CD 1

01 - Depoimento de Pedro Santos

Músicas do filme Romeiros da Guia (1962)
02 - Fugato sobre um Tema Folclórico
03 - Tema para Assobio

Músicas do filme Menino de Engenho (1965)
04 - Dobrado
05 - Primeira Valsa
06 - Juraci
07 - Segunda Valsa
08 - Zé Cotia
09 - Maxixe
10 - Zefa Cajá

Músicas do filme A Volta Pela Estrada da Violência (1971)
11 - Desfile
12 - Adágio
13 - Marcha

Música do filme O Salário da Morte (1970)
14 - Canção de Serviço

Missa de Nossa Senhora do Carmo (1966)
15 - Senhor
16 - Glória
17 - Credo
18 - Santo e Bendito
19 - Cordeiro de Deus

20 - Canaro Cantadô (1958)
21 - Cantiga (1956)
22 - Hino do Centenário da Cidade de Cajazeiras
23 - Hino da Escola de Serviço Social (1958)
24 - A Criação

CD 2

Suíte para Banda (sem data)
01 - Abertura
02 - Valsa
03 - Choro
04 - Bela Infanta

Músicas da peça Viva a Nau Catarineta (1970)
05 - Bela Infanta
06 - Saudades
07 - A Mulher do Mestre
08 - Trabalha Marujo
09 - Homens do Mar

Músicas da peça O Auto de Maria Mestra (1967)
10 - É Paz na Terra
11 - No Mundo Há Promessas
12 - Velho Lucas
13 - Vamos, Companheiras!

Músicas da peça Coiteiros (1983)
14 - A Princesa
15 - A Fome
16 - A Estrela

Músicas da peça O Auto da Cobiça (1970)
17 - Ao Senhor Dono da Casa
18 - Baiano
19 - Aboio
20 - Na Testa do meu Garrote
21 - Despedida

22 - Feliz Natal (1984)
23 - Canto de Natal (1955)
24 - Suíte Lapinha

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terça-feira, 22 de novembro de 2011

The Flying Luttenbachers - The Void [2004]


The Flying Luttenbachers foi uma banda de Chicago que em seu tempo de vida de 1991 a 2007 se tornou uma referência local de tudo o que é dissonante. Começou como um trio de punk jazz (saxofone, trompete e bateria), e um ano depois de sua origem começou sua fase eterna de instabilidade de pessoas saindo e entrando da banda. O membro condutor da história, o único que esteve lá do começo ao fim, foi o baterista Weasel Walter - que hoje toca em bandas de metal experimental como Behold... the Arctopus.

O som da banda mudou muito com o tempo, mas permaneceu o mesmo. Weasel Walter inventou um nome pro que eles fazem: brutal prog. Em seus anos em Chicago, a banda agregou os músicos mais interessantes do free jazz e do rock experimental da cena local, o que fez o som crescer muito. A partir de 1996, a banda começou a trabalhar em um tema só: a aniquilação do planeta Terra, as conseqüências dessa aniquilação e o embate intergalático entre duas entidades monolíticas: o planetóide Behemoth Iridescente e o Vazio - The Void, que dá nome ao álbum que vocês baixam aqui.

Eles têm um site, que (evidentemente) parou de ser atualizado. Prometem que a banda vai voltar quando a raça humana estiver finalmente preparada para o armageddon. Esse disco talvez seja uma boa maneira para criar o clima.


Tracklist

01 - The Void Introduction
02 - The Void Part One
03 - The Void Part Two
04 - The Void Part Three
05 - The Void Part Four
06 - The Void Part Five
07 - The Void Part Six
08 - The Void Part Seven
09 - Sword of Atheism

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Milton Dornellas - Sete Mares [2000]


Milton Dornellas é um carioca que chegou em João Pessoa em 1973, aos 14 anos, e se tornou uma das figuras mais importantes da cultura paraibana - tanto que em 2009 recebeu o título de cidadão pessoense. A partir da década de 80, Milton começou a se integrar ao cenário musical da cidade. Juntou-se a Pedro Osmar, Paulo Ró, Adeíldo Vieira, Totonho e outros músicos da época e fundou o Musiclube da Paraíba, um grupo que impulsionou imensamente a produção musical paraibana. Colaborou com grupos como Jaguaribe Carne, fundou o grupo Etnia e, junto a Xisto Medeiros e Marcos Fonseca, fez parte do projeto Assaltarte, que levou a música paraibana para os bairros mais remotos da capital em apresentações relâmpago.

Além disso, Milton também tem vários discos de suas próprias composições. Sete Mares, de 2000, é um disco quase conceitual, com músicas de temas bucólicos. Um espirito de simplicidade, aquela coisa da música folclórica, paira por todo o disco, que conta com composições de Milton em parceria com Pedro Osmar, Chico César, Totonho e vários outros nomes importantes da música paraibana.

Tracklist:

01 - Sete Mares
02 - Pernas e Bocas
03 - Lual
04 - Mar de Dentro
05 - Mural
06 - Lembrete
07 - Berço das Pedras
08 - Flamboyant
09 - Soma
10 - Dona Mariana
11 - Quer Dançar
12 - Da Roupa a Renda

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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

MC Priguissa - Original RaggaMuffin de Natal Vol. I [2011]


O raggamuffin é um subgênero do reggae que surgiu no meio dos anos 80 e se popularizou pelos Estados Unidos e pela Jamaica durante os anos 90. Desde o início de sua popularização, o Brasil teve representantes no estilo, mas foi só a partir de 2002 que o ragga começou realmente a se espalhar pelo país, principalmente em São Paulo. Recentemente, o Nordeste tem aparecido com nomes de peso. Em João Pessoa, Sacal se tornou um nome quase unânime. E em Natal (que também tem o Neguedmundo), parece ser a vez de MC Priguissa.

Desde 2003, MC Priguissa faz parte da cena do ragga nordestino, tendo participado de várias bandas em Natal. Nesse tempo, fez parcerias com músicos do Brasil inteiro e de fora. Oito anos depois, lança seu primeiro disco solo, com 23 faixas muito bem produzidas e com participações de vários desses parceiros, que incluem DJs da França, de Portugal, PumpKilla (que já trabalhou com Sacal), os conterrânes DuSouto e até Mr. Catra, um dos principais nomes do funk carioca.

É melhor não falar mais nada: baixem o original raggamuffin de Natal.


Tracklist:

01 - Essa Boe
02 - Menina Loucura (feat. PumpKilla)
03 - Louka
04 - Jeito Sensual
05 - Mulher Verão
06 - Swing Louco
07 - A Cura (feat. Manifestarte $A)
08 - Extresse
09 - Amor Bandido
10 - Bote Fé
11 - Bomba
12 - Marcas
13 - Única Certeza
14 - Uma Tequila (feat. DuSouto)
15 - Essa Boe (feat. Pro EFX)
16 - A Cura
17 - Extresse (feat. Jimmy Luv & Mr. Catra)
18 - Samba
19 - Esse Omi É Um Galado
20 - Ragaxote (feat. Pro EFX)
21 - Dignidade (feat. Fred Gomes)
22 - Babilon
23 - Nova Sensação (feat. Arcanjo Ras)

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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Procura-se Fabiano - Procura-se Fabiano [2011]


Procura-se Fabiano apareceu em João Pessoa em 2010: um power trio instrumental formado por três Fabianos. Fabiano Lira na bateria, percussão e pífano (que já participou da Conspiração Apocalipse e faz parte da banda de Naldinho), Fabiano Formiga na guitarra e efeitos (também conhecido como Furmiga Dub) e Fabiano Soares no baixo e nos efeitos vocais. Os três têm bagagens musicais diferentes que se harmonizam na hora de tocar, e o resultado vai de um experimentalismo extremo a elementos regionais.

O EP homônimo, gravado no Estúdio Peixe-Boi nesse ano, traz poucas músicas mas uma boa amostra do que é o grupo. Em cinco faixas, os Fabianos vão da Jamaica ao Pará, e o disco está recheado de referências sutis e nem tão sutis à cultura paraibana: um xote escondido no dub e uma longa sessão de baile de coco com pífanos. Mais uma banda para a safra de música instrumental paraibana.


Tracklist:

01 - Usina Dub
02 - Procura-se Fabiano
03 - Sambinha
04 - No Alto Sertão
05 - Carimblé

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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Ongo Trogodé - Banda Linda Horns


Os banda são a principal etnia da República Centro-Africana, uma ex-colônia da França e um dos países mais pobres do mundo. Os linda são o principal ramo dos banda. Trogodé é um vilarejo na região de Ouaka, uma savana no coração do país. Ongo são instrumentos feitos pelos banda que podem ser de dois tipos: os maiores são feitos de raízes de kapok (uma árvore tropical também presente na América do Sul) que foram comidas por dentro por cupins e ficaram ocas. Adiciona-se um bocal e a raiz se torna uma espécie de trombeta que emite apenas uma nota (parecido com o didgeridoo dos aborígenes australianos). Outro tipo de ongo é feito com chifres de antílopes - esses são capazes de fazer trinados e linhas melódicas simples. Esses instrumentos são usados em cerimônias e rituais - por exemplo em ritos de passagem de meninas adolescentes - onde grupos de até 20 músicos tocam uma polifonia hipnótica e ritmicamente complexa.


Tracklist:

01 - Linga
02 - Kambali
03 - Dangaye
04 - Ameya
05 - Dangaye
06 - Ameya
07 - Etoman
08 - Azou Baidou
09 - Alissa
10 - E Tchene Letro
11 - Eye Damba
12 - Eye Kouzouma
13 - Mambo
14 - Wanza Tilago
15 - Wanza Tilago
16 - Kro Kro Tche Pa Kada
17 - Gbangapou
18 - Tchebou Ganza Tche Gate
19 - Mbariga
20 - Zakalla Kuta

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Romulo Fróes, Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Marcelo Cabral - Passo Torto [2011]


O Passo Torto, junto com o Metá Metá e o disco do MarginalS, é mais uma colaboração entre figuras chave de uma das cenas mais interessantes musicalmente de São Paulo. Um núcleo de compositores e intérpretes com trabalhos individuais, fazendo o que a mídia já chamou de "a nova MPB", que têm cada vez mais se juntado para trabalhar juntos - cada combinação diferente desses artistas gera um resultado diferente. Esse disco é o mais recente desses, e traz quatro nomes: Romulo Fróes, Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Marcelo Cabral.

Romulo Fróes talvez seja dos quatro o de mais visibilidade - tem quatro discos solo, num trabalho que tem o samba como base. Ficou famoso também pelas suas entrevistas e opiniões sólidas, despertou comparações com Caetano e se tornou um ícone do que se começou a chamar de nova MPB.

Kiko Dinucci também é sambista, mas seu samba é bem diferente do de Romulo. A raiz africana está muito presente, e entre suas colaborações mais interessantes está Juçara Marçal, que participou do grupo de pesquisa de música folclórica nordestina A Barca. Esse ano, Kiko lançou o disco Metá Metá junto a Juçara Marçal e ao saxofonista Thiago França (que também toca na banda de Romulo Fróes).

Rodrigo Campos toca cavaquinho, lançou seu primeiro álbum em 2009 e no ano seguinte apareceu tocando Tempo de Amor junto a Céu, Curumin e Herbie Hancock no Imagine Project de Hancock.

Marcelo Cabral aparece no disco como baixista, arranjador e produtor. Junto a Thiago França e ao baterista Tony Gordin, Marcelo integra o trio MarginalS, fazendo música de livre improvisação. Mas os trabalhos mais conhecidos de Marcelo Cabral são provavelmente a produção de dois dos principais discos do novo rap nacional: o de Lurdez da Luz e o polêmico Nó na Orelha de Criolo, junto a Daniel Ganjaman.

Tracklist:

01 - A Música da Mulher Morta
02 - Da Vila Guilherme Até o Imirim
03 - Faria Lima Pra Cá
04 - É Mesmo Assim
05 - Cidadão
06 - Samuel
07 - Por Causa Dela
08 - Três Canções Segunda-Feira
09 - Sem Título Sem Amor
10 - Detalhe Azul
11 - Cavalieri

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O álbum também está disponível para download gratuito no site oficial do projeto, com encarte, release e mais informações: http://passotorto.com.br/site/

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Da Silva & D'MalassomBROSband - E o Pior Qu'Isso Tudo Não é Ficção [2011]


Paulo Ricardo da Silva, ou Maguinho da Silva, trabalha com música a mais de quinze anos, já fez parte das bandas potiguares Zaratustra, Casa de Orates e daSilva e a Síncope. E esse ano, finalmente, lança o primeiro disco que leva seu nome: dessa vez acompanhado da big band d'malassomBROSband - de um DJ a uma sessão de metais, os músicos não deixam o som cair em nenhum momento.

Para um disco que contém músicas compostas em épocas completamente diferentes, o resultado é surpreendentemente coeso e contemporâneo. Uma espécie de manguebeat que cresceu e aglutinou mais referências, um funk de BNegão ou um samba de Mundo Livre - inclusive a imagem de Maguinho da Silva no palco empunhando um cavaquinho faz logo pensar em um Fred 04 natalense. Num momento em que Natal parece estar acordando e buscando uma identidade própria que seja tão forte quanto aquela que se idealiza nos pernambucanos, uma vontade de criar uma cena coesa, identificável de longe, auto-suficiente (uma crise de identidade parecida com a que João Pessoa tem passado nos últimos anos - e que só agora dá sinais de que vai passar), o E o Pior Qu'isso Tudo Não é Ficção funciona muito bem como a afirmação de uma identidade natalense. Se dá pra dizer que o trabalho é influenciado pelos conterrâneos - e colegas - como MC Priguissa, DuSouto, Orquestra Boca Seca... - dá pra ver que ele também influenciará muita gente. Aí pra vocês, uma amostra da cena natalense.


Tracklist

01 - Me Chame Com'eu Sou(l)
02 - No Ar
03 - Cinicamente Romântico
04 -Eu só Quero Amar
05 - Tô Dizendo a Vc
06 - Tem a Ver
07 - Iiiisso
08 - Beat and Explosion
09 - Some Wonders Music
10 - Eita Beat
11 - Avenida da Canção
12 - Clareou
13 - Que Fantasia
14 - Se é Pra Chorar
15 - Clareou
16 - Some Wonders Music (itsallinmind)
17 - Dub-Me (remix)

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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

I Gufi - Cantano Due Secoli di Resistenza [1965]


I Gufi talvez seja um dos grupos mais interessantes da Itália dos anos 60. Existiu apenas por cinco anos, entre 1964 e 1969, mas deixou um legado profundo na música italiana. Surgiu em Milão como um grupo de espetáculo de cabaret aos moldes do que se fazia na França, mas da maneira mais italiana possível. Seus shows misturavam teatro, pantomima, crítica política e social, e tudo era ligado pelo fio condutor da música. A Milão sessentista era um ambiente fértil para esse tipo de coisa: na mesma época estavam em alta artistas como Dario Fo, Giorgio Gaber e Enzo Jannacci, comediantes, músicos e atores que tinham em comum, em maior ou menor grau, a sátira social, a releitura da tradição local, o uso do dialeto. Nanni Svampa, o membro fundador dos Gufi, não era diferente. Começou sua carreira traduzindo canções de Georges Brassens para o dialeto milanês, e começou uma jornada de aprofundamento na tradição lombarda. Em 64 conhece o jazzista Lino Patruno e a partir daí monta I Gufi, com a adição de Gianni Magni e Roberto Brivio.

Embora sejam mais conhecidos por sua sátira bem humorada, o segundo disco do grupo mostra um lado mais sério. I Gufi Cantano Due Secoli di Resistenza (I Gufi cantam dois séculos de resistência) foi o fruto de uma pesquisa que resgatou canções desde o século XVIII, e é um panorama dos principais dramas vividos pelo italiano médio nesses duzentos anos de história. A mais antiga, Partire, partirò, partir bisogna, de 1799, data da época em que foi instituída a obrigatoriedade do serviço militar, durante as guerras napoleônicas, e as mais recentes são todas da época da Segunda Guerra, incluindo os dois hinos mais representativos da resistência anti-fascista: Bella Ciao e Fischia il Vento, que foram gravadas por artistas do mundo inteiro e que ainda hoje fazem raiva à direita italiana. Esse disco é uma ode a toda alma revolucionária, que fala direto ao ser humano que quer ser livre.


Tracklist:

01 - Partire, Partirò, Partir Bisogna (1799)
02 - Inno a Oberdan (1882)
03 - Addio a Lugano (1894)
04 - Ninna Nanna della Guerra (1914)
05 - O Gorizia Tu Sei Maledetta (1916)
06 - Il Bersagliere ha Cento Penne (1915-18 / 1943-45)
07 - Bella Ciao (1943-45)
08 - Fischia il Vento (1943-45)
09 - Cosa Rimiri Mio Bel Partigiano (1943-45)
10 - Pietà l'è Morta (1943-45)
11 - Se Non Ci Ammazza i Crucchi (1943-45)

Clique na capa do álbum pra baixar.

Squizopop - Polvo [2011]


Numa João Pessoa em que o Galpão 14 fechou, em que ninguém mais vai pra um estacionamento de terra batida num sábado de tarde pra passar o dia pogando pra bandas cover de Ramones que mal sabem as letras - e não precisam saber, em que as pessoas vão pros shows pra ver a banda de longe, sentados, ouvindo do lado de fora e depois dizendo que foi ótimo; pra quem estava vivo alguns anos atrás, hoje tem muito progresso mas também muito tédio. Do tédio surge Squizopop, uma baforada de ar quente na madrugada da Anthenor Navarro. Uma banda contra a apatia, que quer que você suba no palco no meio do show, tome o microfone, grite uma putaria e jogue as calças em cima do público. Isso não vai acontecer ainda, o pessoal tem que se reacostumar.

Depois de mais ou menos um ano se preparando, ensaiando e juntando dinheiro, lançam seu primeiro EP: Polvo. Polvo é aquele bicho estranho com um monte de tentáculos apontando pra todas as direções, um cérebro desgarrado do seu corpo, que é feio mas que todo mundo quer ver de perto, e que se for grande o suficiente pode derrubar uma caravela de navegadores portugueses. Entendam como for, é o que melhor define Squizopop: o EP é quase um cartão de visita cínico, uma semente de revolução a ser incubada em quem a ouvir. Se conseguirem completar sua missão de implodir o tédio e a apatia, o que hoje é polvo pode se tornar um kraken.



Tracklist:

01 - Galleries
02 - The Same
03 - Harvest
04 - The Lost Ones

Você pode clicar na capa do álbum pra baixar, ou também pode usar o "Pay With a Tweet", um serviço que disponibiliza o disco para download por um preço mínimo: um tweet divulgando o álbum. Você ajuda a banda e não gasta nada. Para pagar com um tweet, clique no link abaixo:

terça-feira, 4 de outubro de 2011

The Honkers - Roll Up Your Sleeves and Help Us Rock Up This Honker World [2007]


The Honkers é uma banda punk de Salvador, daquelas bandas de bêbados mazelados que geralmente são as melhores bandas punk. A idéia da banda surgiu em 1997, mas foi só em 2000 que fizeram o primeiro show com esse nome. Nesses três anos, não ensaiaram quase nada, fizeram pouquíssimos shows mas criaram um mito ao redor deles. A história turbulenta e hilária do início da banda inclui destruição de equipamento emprestado em shows, o vocalista só de cuecas num lugar que não permitia nem que se tirasse a camisa e um baterista que não sabia como as músicas da banda começavam mas que tocava muito.

Vi um show da banda no Galpão 14 em 2008, quando a banda já tinha mais de dez anos, mas a energia era de uma banda recém formada: foi uma das performances de palco mais instigantes que já vi, daquelas que te lembram que punk não é só um power chord atrás do outro. Com direito ao vocalista subindo no balcão do bar e bebendo cerveja diretamente da sua bota.

E ao mesmo tempo, o CD deles é muito bem trabalhado para uma banda do gênero. Ficam claras as influências além do punk: o ska, o psychobilly, o rock de garagem dos anos 60. Talvez o CD seja até bem trabalhado demais em comparação ao que é a banda ao vivo, mas continua sendo um grande disco punk por uma grande banda punk.


Tracklist:

01 - She'll Be My Little One
02 - Psychedelic Yellow Sugars
03 - People Love Hate
04 - Devil Girl
05 - Let Me Feel The Sun
06 - Be Your God
07 - These Things Happen ALL the Time
08 - This Is An Old World
09 - Distorced Party
10 - Something's Wrong With My Girl
11 - Where Do I Go
12 - Pretty Punk Girl
13 - Between the Devil and the Deep Blue Sea

Clique na capa do álbum pra baixar

Ou siga a dica do vocalista Rodrigo Sputter e vá no fotolog deles: http://www.fotolog.com/thehonkers/ e baixe o CD mais dois EPs em boa qualidade

domingo, 2 de outubro de 2011

Parahyba Art Ensemble - Ao Vivo - Festival MIMO 2011


Reunindo instrumentistas de diferentes bagagens e nacionalidades que se encontraram na Paraíba, vos apresento um concerto com influências do jazz, da música eletroacústica e, claro, da música nordestina. Surpresas visuais vão criar o ambiente que alimenta os rumos sonoros do coletivo. O ensemble é formado pelo baterista americano Gregg Mervine, o multi-instrumentista belga Henry Krutzen, o francês Didier Guigue nos sintetizadores e flauta baixo, o DJ Guirraiz, o trompetista alemão Burgo, o baixista Mateus Alves e o VJ Spencer. Solicitamos que sejam desligados os aparelhos celulares e desejamos a todos um ótimo concerto. E agora, com vocês, Parahyba Art Ensemble!
Apresentação da banda no início do CD

No último post, falei do MarginalS, um trio paulista que se dedica à livre improvisação. Do outro lado do país, em terras paraibanas, o Parahyba Art Ensemble também se dedica a essa prática. O MarginalS é a livre improvisação "de rua", sem nenhum vínculo com a academia ou com as teorizações sobre o gênero. Já o Parahyba Art Ensemble junta as duas coisas: entre seus integrantes há desde professores da Universidade Federal da Paraíba até DJs.

Além dos músicos citados na apresentação, o Ensemble conta também com Esmeraldo Marques, o ChicoCorrea, que reuniu o grupo pela primeira vez em 2010, para uma apresentação no Festival Mundo. A apresentação durou cerca de quarenta minutos (foram duas improvisações que duraram mais ou menos vinte minutos cada), e seguiu um pouco nos moldes de projetos precursores, como o extinto Volante Filipéia, que era um coletivo de discotecagem e videotecagem (que também incluía Esmeraldo), ou algumas apresentações da Burro Morto. A experiência da banda não se limita ao auditivo - e aí vocês baixando esse CD vão sair perdendo -, mas também há um VJ improvisando superposições de imagens, que são projetadas em cima da banda. Mas ao mesmo tempo o Ensemble traz algo de novo ao cenário ao popularizar a livre improvisação e trazer uma espécie de big band de jazz eletrônico. Ornette Coleman aprovaria.


Tracklist:

01 - Improv 1
02 - Improv 2
03 - Improv 3
04 - Improv 4
05 - Improv 5
06 - Improv 6

Clique na capa do álbum pra baixar

Baixe também aqui dois artigos acadêmicos do músico Cesar Villavicencio sobre livre improvisação: "A Retórica do Silêncio" e "The Discourse of Free Improvisation" (este último em inglês).

E acesse http://freeformfreejazz.blogspot.com/ para mais informações, discos, vídeos e resenhas sobre livre improvisação e free jazz

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

MarginalS - (Disco Sem Nome) [2011]


Existe algum debate entre os músicos sobre até que ponto aquela que se chama free improvisation é realmente free. Com o tempo a coisa se tornou quase idiomática, quando a improvisação livre prevê justamente o abandono de qualquer idioma musical. Acabou que quando se fala em improvisação livre se pensa que o resultado sonoro tem que ser aquela coisa caótica, barulhenta e que não dá em lugar nenhum - na verdade não é bem assim.

No Brasil, pelo menos até onde eu conheço, há poucos grupos que se dediquem à livre improvisação, e a maior parte deles está ligada à academia ou aos círculos mais experimentais e obscuros do mundo da música. E em 2010, em São Paulo, do meio de um círculo de músicos que fazem parte de uma cena não muito bem definida, mas que inclui Romulo Fróes, Criolo, Kiko Dinucci e o Instituto, surge um trio tocando uma música bastante diferente. O MarginalS é formado por Thiago França no sax e na flauta, Tony Gordin na bateria e Marcelo Cabral no baixo.

Thiago França é uma das figuras centrais do samba que se faz em São Paulo atualmente, toca com Romulo Fróes e Criolo, tem projetos próprios de música instrumental e recentemente se tornou mais conhecido graças ao seu trabalho com Kiko Dinucci e Juçara Marçal, o disco Metá Metá. Tony Gordin, irmão do legendário guitarrista da Tropicália, Lanny Gordin, já tocou com CéU, com o Instituto, e no tempo em que morou nos EUA tocou com Airto Moreira, Mike Patton e até com o Rivers Cuomo da Weezer. Marcelo Cabral foi skatista nos anos 80, entrou pra música e produziu o "Nó na Orelha" de Criolo e o disco de estréia de Lurdez da Luz.

Nessa entrevista do trio, explicam o processo criativo do grupo, que no final é uma aula do que é o processo criativo da livre improvisação. O engraçado é que o trio, como o nome diz, é de maloqueiros skatistas que já tocaram de punk a sambinhas sem vergonha: estão longe da abstração teórica da academia sobre a livre improvisação, e de uma certa maneira - talvez por causa disso - conseguem tocar o gênero e escapar de sua única amarra: a busca obsessiva por não ser idiomático. Se Thiago toca uma frase que poderia ter sido tocada por um saxofonista de Fela Kuti ou que poderia ser parte de uma improvisação modal de Coltrane, a improvisação não é menos livre por causa disso. O CD em si é reflexo da abertura que a música traz: o disco não tem capa, nem nome, e as faixas na verdade são divisões de um único take de quarenta minutos, dividido em células que demarcam idéias fechadas. Não há nada no CD que tendencie o ouvinte a qualquer lado, que leve a uma interpretação prévia. Tudo fica a cargo de quem ouve. Seria fácil e desnecessário listar todos os tipos de música que aparecem no disco em um momento ou outro, mas no final o que interessa é o resultado final dessa amálgama. Listar gêneros talvez fosse até injusto à proposta de não-tendenciamento de quem ouve - se eu escutei um afrobeat e você não encontrou onde ele entra, então não teve afrobeat pra você.


Tracklist:

01 - Prólogo
02 - Parte 1, Parte 1
03 - Parte 1, Parte 2
04 - Parte 1, Parte 3
05 - Parte 1, Parte 4
06 - Intermissão, Parte 1
07 - Intermissão, Parte 2
08 - Parte 2, Parte 1
09 - Parte 2, Parte 2
10 - Parte 2, Parte 3

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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Irakere & Leo Brouwer - Concierto / Teatro Karl Marx / Ciudad de la Habana [1978]


Imagine o cenário: num teatro lotado do Rio de Janeiro da década de setenta, Heitor Villa-Lobos magicamente reaparece dos mortos, senta com seu violão no meio do palco e começa a tocar um chorinho sozinho. No meio da música, as luzes do resto do palco se acendem, e a banda toda entra: é A Cor do Som fazendo um arranjo quase jazzístico do mesmo chorinho. O show dura mais de uma hora, passa por elaboradas jams de música brasileira instrumental, percussões africanas, arranjos sambados de obras de Mozart, forrós conhecidos de todo mundo. Um evento desse tipo não passaria despercebido na história da música mundial.

E voltando ao mundo real, algo muito similar já aconteceu e ninguém sabe. Leo Brouwer, nascido em Havana em 1939 (vinte anos antes da morte de Villa-Lobos), é um compositor e violonista dos mais importantes para a história do instrumento no século XX. A importância que teve Villa-Lobos - no Brasil e no mundo - no repertório do violão clássico do início do século é análoga à importância de Brouwer a partir dos anos 60 e até hoje. Conhecido pelas suas obras de vanguarda, peças para violão solo e vários concertos para violão e orquestra, pouca gente sabe das (significativas) incursões de Leo na música popular - tal qual seu colega Villa-Lobos. Nas palavras de Brouwer: quem disse que uma música é popular e a outra é culta? Que uma é para as massas e a outra para as minorias? Quem disse que a música de concerto - que é a que eu toco - é elitista e a música popular é para dançar?

A principal canalização das forças de Brouwer no mundo da música popular foi o Grupo de Experimentación Sonora del ICAIC, formado no final dos anos 60 e que atingiu o auge da fama nos anos 70. Mas há também essa fantástica colaboração feita em 1978 com o Irakere. O nome irakere vem do idioma iorubá, e significa vegetação - era o nome de uma região da África cuja fama era a de ser o berço dos melhores percussionistas, que segundo alguma lenda teriam desembarcado em Cuba. Embora o grupo com esse nome só tenha se oficializado em 1973, o núcleo já existia pelo menos desde 1967, mais ou menos liderados pelo pianista Jesús "Chucho" Valdés. Eram músicos populares que não estavam interessados em música comercial. Não queriam criar um ritmo novo - como mandava o marketing para as bandas da época - que no final das contas tinha pouquíssimo de novo. O interesse deles era explorar as possibilidades rítmicas da tradição cubana e latino-americana em geral, experimentar combinações percussivas, sem tentar recriar nem criar nada: simplesmente fazer. O resultado foi um dos grupos de música latina mais empolgantes que já existiram - teriam facilmente se tornado um nome incontestável do jazz mundial (muito embora o jazz servisse apenas de base estética, mais do que qualquer coisa), se não fossem as óbvias dificuldades que um grupo cubano de músicos fiéis à Revolução tem de despontar num cenário mundial. Para a nossa sorte, tudo isso foi registrado e pode ser encontrado por quem tiver disposição.


Tracklist:

01 - Scott Joplin - Ragtime: The Entertainer
02 - Misa Negra
03 - Joaquín Rodrigo - Concierto de Aranjuez (segundo movimento)
04 - W. A. Mozart - Adagio
05 - Romance (Juegos Proibidos)
06 - Heitor Villa-Lobos - Prelúdio no. 3 [o verso do vinil erroneamente identifica a peça como sendo o Prelúdio no. 4]

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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Caçapa - Elefantes na Rua Nova [2011]


Para muitos, o nome de Rodrigo Costa Rodrigues Barbosa, ou Rodrigo Caçapa, pode ser novo. Mas ele está há 15 anos trabalhando com música Brasil afora. Violeiro, arranjador e compositor, se integrou ao mundo da música quando surgiu o movimento manguebeat, e se aprofundou na coisa. Em 1996 fez parte da banda Chão e Chinelo com Maciel Salu, filho do lendário Mestre Salustiano. Depois disso já fez arranjos para Siba e a Fuloresta, Nação Zumbi, trabalhou com Alessandra Leão, Kiko Dinucci e um sem número de músicos pelo Brasil inteiro.

O Elefantes na Rua Nova é sua primeira tentativa de projeto solo. São oito temas instrumentais gravados com um baixolão, algumas percussões e três violas caipiras ligadas em pedais de efeitos. Os temas são ritmos de danças populares: côcos, baianos, rojões e um samba - daqueles de fazer Clementina de Jesus parecer moderna demais. É como se tivessem colocado uma roda de violeiros do sertão dentro de um estúdio, com todo o conforto que a modernidade traz - mas quem dita as ordens ainda é o violeiro. Um disco de estréia à altura da importância que Caçapa teve (e tem) na cena musical brasileira.


Tracklist

01 - Baiano-Rojão nº1
02 - Coco-Rojão nº1
03 - Coco-Rojão nº3
04 - Baiano-Rojão nº3
05 - Coco-Rojão nº2
06 - Samba de Rojão nº1
07 - Rojão nº1
08 - Coco-Rojão nº4

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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thiago França - Metá Metá [2011]


O nome do álbum, Metá Metá, já leva quem vai ouvir pra muito longe. A palavra metá vem do iorubá, e significa três - o trio por trás da obra: o violonista Kiko Dinucci, a cantora Juçara Marçal e o saxofonista e flautista Thiago França. Metá metá é uma construção que em iorubá significa "três em um" - o trio entra em simbiose como se fosse uma coisa só.

Kiko Dinucci é um violonista e compositor paulista que tem uma carreira rica em parcerias - talvez a mais conhecida seja a música "Mariô", com Criolo, mas talvez não seja a mais empolgante. Uma delas foi em 2007, com o disco Padê. Quem o acompanhava era Juçara Marçal. Ela já tinha uma bagagem musical riquíssima: fazia parte do grupo paulista A Barca, que se dedica a expedições de pesquisa musical pelo Brasil, um pouco como Mário de Andrade fazia, catando um pouco daqui e um pouco dali. Mário de Andrade fez um livro, A Barca fez discos, passando a experiência que tinham adquirido. Toda essa experiência já está no Padê, moldada pelos arranjos minimalistas de Kiko Dinucci, que está longe de ser um virtuose em seu instrumento mas está talvez ainda mais longe de ser desinteressante.

No meio do caminho, Kiko e Juçara conheceram Thiago França, que é não só um instrumentista, mas também um criador. Os três uniram forças e criaram um trabalho conjunto. O disco tem muito do minimalismo bem trabalhado do Padê, mas traz o ponto culminante dessa estética. A maior parte das músicas conta só com o trio, e algumas poucas têm percussão, uma tem bateria e outra tem um cavaquinho. A africanidade transpira em cada música, e a paulistanidade fica escondida - mas não muito atrás.

E ao mesmo tempo que o disco ignora - propositalmente - todo tipo de modernidade previsível e soa como se fosse um vinil de sessenta anos atrás magicamente pousando em nossa era, ele aborda genialmente uma das principais questões para quem faz música no século XXI - a "pirataria". No meio da discussão sobre copyright, copyleft, download remunerado, trama virtual, Radiohead e tudo o mais, o trio (e vários outros músicos) resolveram deixar tudo de lado e criar sua própria solução: criaram o Projeto Axial e o software Bagagem. O Bagagem é um player que toca os álbuns dos artistas do Projeto Axial, e que permite que se tenha acesso - grátis - a todas as músicas, letras, releases, encartes, capas e clipes dos participantes do projeto. O Metá Metá tem para cada música um clipe feito por um artista plástico diferente, que pode ser assistido pelo software.


Tracklist:

Entre colchetes, o compositor

01 - Vale do Jucá [Siba]
02 - Umbigada [Lincoln Antônio]
03 - Papel Sulfite [Jonathan Silva]
04 - Trovoa [Mauricio Pereira]
05 - Samuel [Kiko Dinucci e Rodrigo Campos]
06 - Vias de Fato [Kiko Dinucci, Douglas Germano e Edu Batata]
07 - Oranian [Kiko Dinucci e Douglas Germano]
08 - Obá Iná [Douglas Germano]
09 - Obatalá [Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thiago França]
10 - Orá Iê Iê O [Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thiago França]

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Néctar do Groove - Néctar do Groove [2011]


Néctar do Groove surgiu em João Pessoa em 2006 - os irmão suíços Stephan Tomas (saxofone) e Peter Bühler (percussão) se meteram a fazer jam sessions com Victorama (bateria), Orlando Freitas (baixo) e Cristiano Oliveira (viola caipira), e o resultado foi essa banda - que hoje também conta com o guitarrista Marcelo Macedo. Durante muito tempo, Néctar do Groove fez seu nome tocando em bares e restaurantes do meio underground pessoense - uma espécie de pequena revolução: nunca foi daquelas bandas que servem apenas de trilha sonora para o bar, chamavam a atenção tocando jazz com viola de dez cordas e baião com saxofone. Naturalmente acabaram tocando em vários eventos alternativos da cidade.

Até agora, seu único registro tinha sido um EP com poucas músicas e difícil de encontrar (já quis postar no blog, mas não consegui uma cópia). Agora, depois de cinco anos de banda, lançam um disco à altura. Arranjos muito bem trabalhados de músicas já conhecidas de quem freqüentava seus shows e algumas novidades compõem o álbum, que consegue recriar o principal aspecto da banda: aquela sensação de jam, aquele improviso de quem já se conhece muito bem. E em algumas músicas, uma pequena jóia: a participação especial de Larissa Montenegro, ex-vocalista da ChicoCorrea & Electronic Band (da qual também fez parte Stephan Tomas e onde Victorama ainda toca), que não era ouvida há algum tempo, mas que tem uma voz hipnotizante que bem condiz com o som da banda.


Tracklist:

01 - Terra
02 - Rosa
03 - 03
04 - Intermezo
05 - Harmonia Sateliteana
06 - Vôo da Viúva
07 - Jammix

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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Alessandra Leão - Dois Cordões [2009]


A geração de músicos pernambucanos que surgiu nos anos 90 talvez ainda seja uma das mais ativas atualmente. Só a partir de Nação Zumbi e Mundo Livre S/A saíram bandas e músicos como Otto, Maquinado, Los Sebosos Postizos, 3namassa e Almaz, só pra citar as mais conhecidas. Outra banda importante da época é a Comadre Fulozinha, uma espécie de Nação Zumbi feminina, de onde saiu Karina Buhr, que está fazendo sucesso numa carreira solo. Outra cria da Comadre Fulozinha é Alessandra Leão.

Alessandra começou a sua carreira solo em 2006, com o disco Brinquedo de Tambor. A partir daí, teve a oportunidade de trabalhar com grandes nomes da música pernambucana e brasileira, de Siba a Lia de Itamaracá. Seu disco de 2009, Dois Cordões, é quase uma continuação natural do trabalho da Comadre Fulozinha. Arranjos contidos emolduram uma música de raiz poderosa, que encurta a distância entre os ritmos pernambucanos e os africanos - mas ao mesmo tempo com uma suavidade que contrasta com a euforia da música percussiva da África.


Tracklist:

01 - Varanda
02 - Boa Hora
03 - Bom Dia
04 - Atirei
05 - Fogo
06 - Luzia, Rainha do Baiana - Tombo do Navio
07 - Trancelim
08 - Andei
09 - Partilha
10 - Vou Me Balançar
11 - Ai, Dendê
12 - Chave de Ouro

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sábado, 17 de setembro de 2011

Brassil - "Brassil" Toca Brasil [1992]


O quinteto de metais Brassil foi um dos grupos musicais mais competentes da Paraíba. Surgiu em 1980, formado por professores do Departamento de Música da UFPB e músicos de orquestras da Paraíba e de Pernambuco, e se jogou em cima de todo o repertório para a formação a que conseguiam ter acesso, além de terem transcrito inúmeras peças. Durante sua carreira, em que tocaram pelo Brasil inteiro e fora dele, já tocaram de música renascentista a bossa nova a música de concerto contemporânea (como nesse CD que já foi postado aqui).

Esse disco, de 1992, mostra a versatilidade do grupo. Começa com clássicos da MPB e da Bossa Nova, e gradativamente vai chegando a peças como o Quinteto de Kaplan, a Bachiana noº 5 de Villa-Lobos, para terminar numa série de fanfarras, chorinhos e marchinhas tocadas com um esmero raro de se encontrar.

Faziam parte do Quinteto durante a gravação desse CD: Nailson Simões e Anor Luciano nos trompetes, Cisneiro de Andrade na trompa, Valmir Vieira na tuba e o falecido Radegundis Feitosa no trombone.


Tracklist:

01 - Aquarela do Brasil
02 - Brasileirinho
03 - Tico-Tico no Fubá
04 - Música Para Uma Avenida
05 - Garota de Ipanema
06 - Wave
07 - Samba de Verão
08 - O Barquinho
09 - Samba do Orfeu
10 - Radegundizando
11 - Quinteto - I. Allegro
12 - Quinteto - II. Allegreto (Caboclinho)
13 - Quinteto - III. Allegro (Candomblé)
14 - A Invasão - Parte "A"
15 - A Invasão - Parte "B"
16 - Cisne Branco
17 - Bachianas Brasileiras Nº 5 - Aria
18 - Carinhoso
19 - Espinha de Bacalhau
20 - Burundanga
21 - Zinzinho nos States (Choro)
22 - Gizelle (Valsa-Modinha)
23 - Movimento (Choro-Gafieira)
24 - Gilmacy (Valsa)
25 - Lucinha no Frêvo

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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Paulo Ró - Cantus Popularis [2011]


Paulo Ró é uma das principais forças criativas da Paraíba. Começou sua carreira na cena musical em 1974 com o lendário Jaguaribe Carne, junto com seu irmão Pedro Osmar, juntando a música popular local com as experimentações mais impensáveis. Paralelamente a este trabalho mais vanguardista, tem vários discos dedicados à pesquisa da música de raiz de todo o Brasil, e ainda rápidas aventuras pelo brega, pela música eletrônica e até música celta. Graças a esse trabalho prolífico foi chamado, e sem exagero, de um dos maiores compositores do estado.

Seu trabalho mais recente, o Cantus Popularis, que começou a ser gravado em 2010 e lançado recentemente, é uma síntese do melhor que há no trabalho de Paulo Ró. A pequena faixa de abertura já é uma insinuação do tom do álbum - uma cambinda típica da praia de Lucena, ao norte de João Pessoa, que aos poucos dá lugar a manipulações sonoras eletrônicas. O disco é entrecortado por citações de cocos, cirandas e aboios tradicionais de vilarejos e comunidades tradicionais da Paraíba, e temperado com solos virtuosísticos de guitarra, batidas de hardcore, efeitos eletrônicos. Mas esses elementos não aparecem com o intuito de contrastar, mas de somar. Os dois elementos não destoam nem aparecem como coisas separadas numa mesma faixa, mas casam perfeitamente, como se as músicas sempre tivessem sido tocadas assim. O disco é um sopro de ar fresco na safra mais recente de trabalhos regionalistas da Paraíba, super saturados por tentativas de modernizar a todo custo. Paulo Ró faz parte da geração mais antiga que atua hoje, mas talvez esteja mais à frente do que a geração mais nova.


Tracklist:

01 - Abertura
02 - Boa Noite a Todos
03 - Tia Beta
04 - Cajueiro / Eu Vou, Eu Vou
05 - Loas de Cambindas
06 - Barreira Mar / Eu Tenho Prata... / Riacho de Pedra
07 - Santana Dá Louvor
08 - Ô Moça / Que É Que Tu Tens...
09 - Eu Vi a Pancado do Mar / Meu Deus Que Vento é Esse
10 - Minha Ciranda
11 - Pisa, Pisa / Ô Vitô
12 - Coco Aboiado
13 - Ôlerê Carolina
14 - Na Força da Lua
15 - Lancear
16 - Quem Nos Guia

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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Música de Parahyba [2011]



Historicamente, na Paraíba, a intervalos regulares aparecem coletâneas que fazem uma pequena amostra do que vem sendo produzido no estado. A primeira delas saiu em 1982, a Música da Paraíba: Hoje, um disco duplo que continha gravações de nomes como Chico César, Jarbas Mariz ou Pedro Osmar. Essa primeira coletânea continha principalmente forrós e ritmos regionais acústicos, uma seleção bem homogênea de músicas - é bem verdade que havia muito mais sendo feito pelo estado, mas os artistas da Música da Paraíba: Hoje foram os primeiros a se organizar com o objetivo comum de divulgar a própria arte e a de seus colegas.

Esse núcleo primordial viria a se tornar o Musiclube da Paraíba, uma das principais organizações artísticas do estado. Em 1997, lançam outra coletânea. As técnicas de gravação e a tecnologia disponível eram muito superiores às da época da primeira coletânea, e o resultado é muito mais heterogêneo, com instrumentações bem diferentes e até com uma peça de música eletrônica de Paulo Ró. E o comecinho do século XXI viu os três volumes do Cantata Popular, quando o Musiclube já não existia mais. Mas o senso de união dos artistas paraibanos crescia cada vez mais, e pela primeira vez aparecem juntos sambas, forrós, rocks e raps.

Esse ano vê o nascimento de outra coletânea, para atualizar os arquivos. Dessa vez, o grupo por trás do trabalho é o Fórum de Música de João Pessoa, um grupo parecido com o Musiclube no seu objetivo. O CD traz desde uma boa amostra do incipiente movimento auto-intitulado Movimento Varadouro, que já tem uma variedade musical enorme em si mesmo, e ainda músicas de artistas periféricos, pouco conhecidos mas que têm um trabalho tão consistente quanto os mais famosos. Uma excelente coletânea para quem quer começar a entender o que é a Paraíba musicalmente hoje em dia - mas sabendo que esse CD é só a superfície da coisa.

Tracklist:

01 - Abiarap - Bom Viajar
02 - Ubella Preta - Savana Grossman, o Velho
03 - Madalena Moog - Ela Só Gosta é de Carnaval
04 - Nublado - No Ar
05 - Febuk - Queimação
06 - Círculo de Tambores - Degue Dedegue Dá
07 - Baluarte - Cordas
08 - Pablo Scobá - Um Brinde
09 - Cerva Grátis - O Castigo
10 - Tribo Éthnos - Kworo Kango
11 - Zé Viola Progressive Band - A Diferença Entre o Igual e o Diferente
12 - Mr. Soh SDS - A Prova Tá Aqui
13 - Maracatu Nação Pé de Elefante - Evolução de Bateria
14 - Miss Ya Juste SDS - Sansão e Dalila
15 - Orquestra de Berimbaus - Aquele Que Sabe Tudo
16 - Alê da Guerra - Chii Lá Vem Ela
17 - Atitude Urbana - Sete Chaves
18 - Tribo Ras - Raízes Esquecidas
19 - General Frank e Preta Sam - Pode Chorar

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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Grupo de Experimentación Sonora del ICAIC - Vol. II [1974]


O Grupo de Experimentación Sonora del ICAIC, criado em Cuba no final de 1969 foi um marco importantíssimo da música popular cubana. A Revolução Cubana completava dez anos, mas ainda estava longe de atingir o ideal socialista, tendo que lutar para sobreviver a despeito do embargo dos Estados Unidos e para reformular toda a sociedade a partir do zero. Nesse cenário, o governo não tinha condições econômicas de bancar os jovens músicos da ilha para deixá-los no mesmo patamar tecnológico do resto do mundo. Com o objetivo de contornar estes problemas, instrumentistas, compositores e técnicos de som vinculados ao ICAIC (Instituto Cubano de Arte e Industria Cinematográficos, o primeiro órgão de Cultura criado após a Revolução) formaram o Grupo de Experimentación Sonora.

A mente por trás do grupo é ninguém menos que Leo Brouwer, um dos principais compositores e violnistas do século XX. Pouco conhecido pelo público em geral que não é ligado ao violão erudito, Brouwer é respeitado como uma das maiores forças criativas de seu tempo, comparável a Béla Bartók ou Villa-Lobos pela maestria com que conseguiu fundir a música popular de seu país com técnicas experimentais de composição. E nessa época, nos anos 1970, flertou bastante com a música pop.

O Grupo de Experimentación funcionou também como uma espécie de oficina. Brouwer chamou vários músicos cubanos que já tocavam bem, e começou a instruí-los na música erudita. Deu-lhes aulas de contraponto, fuga, harmonia, formas musicais e composição. Em pouco tempo, todos os membros do grupo eram capazes de compor uma trilha sonora ou fazer o arranjo de uma música numa partitura. Nos encontros do grupo, escutava-se e tocava-se de tudo: de Frank Zappa a Gilberto Gil a Ravi Shankar a Iannis Xenakis. Experimentava-se com equipamentos de estúdio, se colocava a música cubana num patamar internacional, equiparável ao movimento musical que existia no Brasil nessa época (no qual o Grupo de Experimentación se inspirou em parte). Embora tenham gravado vários LPs, eles são apenas uma pequena amostra de todo o trabalho que foi feito pelo grupo. Os resultados mais famosos são músicas escritas na linguagem pop, com letras politicamente conscientes, mas que não perdem a ternura e a poesia - uma receita que lembra as obras de Mercedes Sosa ou do grupo latino-americano Tarancón - com temas camponeses, rurais e de exaltação à Revolução Cubana.

Esse disco, de 1974, registra uma pequena parcela da produção do Grupo. É parte integrante e inseparável da história da canção latino-americana, infelizmente esquecida no tempo, mas que sem dúvidas contribuiu para o desenvolvimento do estilo, e influenciou milhares de músicos que vieram depois - mesmo que nem eles saibam disso.

Tracklist:

01 - Cuba va
02 - Para una imaginaria María del Carmen
03 - Canción de todos
04 - El paplote se fue a Bolina
05 - Fragmentos de 27 Noviembre
06 - Éramos
07 - Danzaria
08 - Madre
09 - Quién me Tienda la Mano al Pasar
10 - El Rey de las Flores
11 - Campesina
12 - Un Hombre se Levanta
13 - Si El Poeta Eres Tú
14 - Canción de los CDR
15 - Bachiana Popular Cubana nº 2
16 - La Nueva Escuela
17 - Comienzo el Dia

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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Pedro Osmar e Loop B - Farinha Digital [2007]


Na música, a maior parte das coisas que deram os resultados mais interessantes surgiram a partir da fusão de elementos contrastantes, muitas vezes até opostos e à primeira vista inconciliáveis. Visto daí, esse disco deve ser uma das obras mais interessantes desse começo de século.

Por um lado, temos Pedro Osmar, paraibano, veterano de música experimental com o Jaguaribe Carne, fundado em 1974, um dos primeiros e até hoje ainda poucos praticantes da livre improvisação no estado. Sua especialidade são percussões, violas, violões, a sonoridade acústica da música popular nordestina. Junto a ele, temos Loop B. Paulista, programador de sons, um mestre da música eletrônica, dos samples, do que há de mais moderno em relação à tecnologia musical. Dois perfis aparentemente tão distantes, mas na verdade muito próximos, graças ao prazer pela experimentação. Entre a instrumentação usada por Loop B, além dos xing lings eletrônicos temos uma geladeira, uma furadeira, um bujão, um tanque de chevette (que aparece ligado num pedal delay) cápsulas vazias de balas de canhão, um serrote, um monitor de computador, um painel de carro, uma placa e uma espada de brinquedo.

Entretanto, se você espera um disco barulhento, experimentações que vão longe demais e não chegam em lugar nenhum, aquela excentricidade pelo mero prazer da excentricidade, está enganado. O cuidado com a sonoridade é tão grande que mal dá pra notar que tem um tanque de chevette cantando - algumas músicas quase beiram o easy-listening. Um disco para provar que não necessariamente o que é experimental é barulhento e que nem necessariamente o agradável tem que ser simples e desinteressante - uma concepção comum entre os experimentadores mais brabos.


Tracklist:

01 - Farinha Digital
02 - Ninguém Leva Nada a Sério
03 - Suíte Negona
04 - Racuntá
05 - Que Carro de Boi é Esse?
06 - Nordeste Indiano
07 - Pirão de Viola
08 - Nega Dida
09 - Maracatu Colibri
10 - Tema de Lira
11 - Uma Espada ou Tosse

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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Quaternaglia - Quaternaglia [1995]

O Quaternaglia Guitar Quartet é um dos, senão o mais importante quarteto de violões do Brasil. Formou-se em 1992, em São Paulo, e passou seus primeiros anos de existência estudando, experimentando e transcrevendo peças para a linguagem pouco usual do quarteto de violões. Em 1995 gravaram seu primeiro CD e em 1998 ganharam o "Ensemble Prize" do Concurso Internacional de Violão de Havana, em Cuba. Começou então uma carreira internacional e o reconhecimento como autoridades dessa linguagem musical - tanto na música erudita quanto em arranjos de música popular -, tendo trabalhado junto a compositores como Egberto Gismonti e Leo Brouwer, um dos principais compositores de violão do século XX.

Seu CD de estréia, o homônimo Quaternaglia, foi um marco. Trouxe interpretações das três únicas obras de Leo Brouwer até então para quarteto de violões, formação com a qual o compositor estava experimentando; transcrições feitas por Sérgio Abreu de obras de Villa-Lobos; oito peças do compositor russo Igor Stravinsky e uma suite escrita especificamente para o grupo, a Suiternaglia de Estércio Marquez Cunha. Estabeleceu um nível de interpretação e sonoridade para o violão brasileiro da segunda metade da década de 90, e consolidou o formato do quarteto.


Tracklist

01 - Heitor Villa-Lobos - Bachianas Brasileiras no. 1 - Embolada
02 - Heitor Villa-Lobos - Modinha (Prelúdio)
03 - Heitor Villa-Lobos - Conversa (Fuga)
04 - Heitor Villa-Lobos - A Lenda do Caboclo
05 - Leo Brouwer - Paisaje Cubano con Rumba
06 - Leo Brouwer - Toccata
07 - Igor Stravinsky - March
08 - Igor Stravinsky - Waltz
09 - Igor Stravinsky - Polka
10 - Igor Stravinsky - Andante
11 - Igor Stravinsky - Española
12 - Igor Stravinsky - Balalaika
13 - Igor Stravinsky - Napolitana
14 - Igor Stravinsky - Galop
15 - Estércio M. Cunha - Suiternaglia
16 - Leo Brouwer - Paisaje Cubano con Lluvia

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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Hermigervill - Lausnin [2003]


Escutando bandas da Islândia, dá pra chegar à conclusão de que o clima de um país talvez realmente influencie na sua música. Quando se fala em Islândia todo mundo lembra de Björk, Sigur Rós, múm, e é sempre aquela coisa meio etérea, meio flutuante, meio de outro mundo. A Islândia realmente é um país meio à parte do resto do mundo. É desse mundo paralelo que vem Hermigervill. O DJ da capital islandesa Reykjavík faz uma música eletrônica não muito diferente do normal, nada de experimental, mas de uma beleza incomum para o gênero. Um trip-hop quente, mas não nosso calor tropical, o calor de quem está aquecido num frio abaixo de zero, um frio confortável e contido.

Lausnin, lançado em 2003, foi seu primeiro disco (já fez três ao todo, até hoje). Em meio a batidas tradicionais de trip-hop, um contraponto de timbres cuidadosamente escolhidos formam aos poucos uma teia atmosférica envolvente. Lá pela metade do disco já se está tão sugado pela música que quase dá pra entender os poucos vocais em islandês.

Para escutar de preferência em algum lugar mais ou menos assim.

Tracklist:

01 - Upphitun
02 - Hristikista
03 - Eggjahvíta
04 - Tímabundin Tilviljun
05 - Brauð í Bobba
06 - Hávaðaseggurinn
07 - Bommlinn
08 - Gulur froskur
09 - Fermingarfræðsla
10 - Náttblinda
11 - Stolið frá pabba
12 - Furðufuglar
13 - Augun Endurgerð
14 - Frónbútar
15 - Drops
16 - Vorkvöld í París
17 - Yamaha Yoga

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Coletivo Rádio Cipó - Formigando na Calçada do Brasil [2005]


O Coletivo Rádio Cipó é na minha humilde opinião uma das melhores bandas que esse país já viu. Em alguns posts anteriores eu já citei um grupo de bandas que surgiram a partir dos anos 90, cada uma em um canto do Brasil, que têm uma característica em comum: a fusão de música pop moderna (rock, dub, hip-hop, jazz) com elementos tradicionais da cultura local. A mais famosa é sem dúvida nenhuma Chico Science & Nação Zumbi, talvez por ter sido uma das primeiras. Na Paraíba temos várias: As Parêa, Tocaia da Paraíba e Cabruêra (especialmente na época em que Zé Guilherme era a força criativa); no Ceará, o Maracatu Vigna Vulgaris, e provavelmente vários outros estados devem ter suas versões. A do Pará é o Coletivo Rádio Cipó .

A centelha inicial do Coletivo Rádio Cipó foi em 2001, quando começaram as primeiras experimentações e brincadeiras sonoras. A coisa evoluiu, fizeram oficinas de percussão e ritmos eletrônicos, e durante quatro meses chegaram inclusive a ter uma rádio pirata, a Rádio Cipó, no bairro da Pedreira que foi devidamente recolhida pelas autoridades. Mas a partir daí a coisa só cresceu - eles não se dizem uma "banda", mas um "núcleo de produção de mídias sonora, vídeo e arte". Em 2004, o coletivo estava pronto para gravar um disco. Esse período do grupo foi quase um happening em Belém. A integração entre o global e o popular e entre o urbano e o periférico foi muito mais abrangente do que com a Nação Zumbi. O processo contou com duas figuras históricas e até então mais ou menos obscuras da música paraense: Dona Onete, nascida em 1939 e cantora desde os nove anos, compositora de matutos, pássaros, quadrilhas, boi bumbás, sambas e carimbós; e o Mestre Laurentino, nascido em 1926, de acordo com o site da banda "completou 81 anos de vida e 60 de carreira sem ter gravado um único disco – um autêntico marginal". Cantadores populares acompanhados de uma band de electro-rap dub/jazz ou como você quiser chamar, letras que vão de jovem encontrado morto em rave após ter fritado a noite inteira a toda vez que eu vejo você meu corpo se desloca nas ondas da pororoca. Um espetáculo raríssimo, e muito bonito de se ver.


Tracklist:

01 - Cowboy Sem Lei
02 - Matinha do Cruzeiro
03 - Foguete
04 - Majey - o Terror do Setor
05 - Brasil Especial
06 - Me Considera
07 - Homem Sem Baralho
08 - Planeta Canal
09 - Choque Elétrico Piau
10 - Maresia
11 - Amor Brejeiro
12 - Paixão Cabocla
13 - Louirinha Americana versão DubMix

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domingo, 21 de agosto de 2011

Maria Farantouri & John Williams - Songs of Freedom [1971]


Esse disco, que veio à tona em plena época de ditadura militar na Grécia, guerra do Vietnã e ainda no embalo sessentista de contra-cultura, protesto e consciência política, junta três músicos importantíssimos.

John Williams (que não é o mesmo John Williams que faz trilhas sonoras hollywoodianas) é um violonista clássico australiano, considerado junto com Julian Bream um dos melhores violonistas do século XX. É conhecido pela sua técnica impecável, pelo seu som limpo e brilhante, por fazer o violão soar como um piano. Além de sua carreira monumental na música clássica, a partir dos anos 70 ele também se aventurou na música pop, teve um grupo (meio brega, pra ser sincero) de jazz fusion, o SKY, que fez coisas como uma versão rock-anos-80 da Toccata e Fuga em Ré menor de Bach. E em 1971, se juntou a uma cantora grega para protestar contra a ditadura.

Maria Farantouri nasceu em Atenas em 1947. Começou sua carreira aos dezesseis anos, descoberta por Mikis Theodorakis, e encabeçou com ele um movimento de ressureição da música folclórica grega, com suas raízes bizantinas, porém com letras feitas por poetas contemporâneos, e alinhada ao movimento de folk de protesto dos Estados Unidos, com Bob Dylan e Joan Baez, e também no Brasil, com Nara Leão e Maria Bethânia no começo da carreira. Maria, com sua voz grave e forte, era um porta-voz feroz da situação política da Grécia. Em 1967, quando começa a ditadura militar, a música de Theodorakis é proibida no país, e Maria tem de fugir. Mikis Theodorakis é um compositor mais famoso pelas trilhas sonoras de Zorba, o Grego e de Z, um filme político sobre a ditadura grega. Embora seja músico, desde cedo foi um ativista político. Foi preso pelos nazistas durante a ocupação da Grécia, depois foi preso pelo regime monarquista durante a Guerra Civil da segunda metade da década de 1940, e foi preso duas vezes pela ditadura dos anos 60. Nessa jornada ele foi torturado, enterrado vivo, exilado em ilhas distantes e expulso do país. Nada mais natural que ele se tornasse o idealizador do movimento político de canções políticas, tentando mostrar que a arte tem uma ligação estreita com o dia-a-dia de uma sociedade.

Em 1971, quando Maria e Mikis estavam exilados, se juntaram a John Williams para gravar esse disco, Songs of Freedom, no melhor estilo voz e violão. Mas não qualquer voz nem qualquer violão. No meio do disco, há quatro peças instrumentais tocadas por Williams, do ciclo de Epitáfios de Theodorakis, em homenagem às vítimas de uma operação policial que reprimiu e matou dezenas de manifestantes numa greve de operários da indústria de tabaco em 1936. Além disso, há varias poesias de Federico García Lorca traduzidas para o grego e musicadas por Mikis. Embora as letras em grego não seja compreendidas facilmente pela maior parte das pessoas, esse disco é talvez uma das obras mais fortes pela liberdade produzidas pelos anos 60.

Abaixo, o primeiro show de Theodorakis e Farantouri depois de seu retorno à Grécia, cantando To Yelasto Pedi, "O Garoto Sorridente", trilha sonora de Z e hino contra a ditadura grega:


Tracklist:

01 - Tou Pikramenou [O Triste]
02 - Antonio Torres Xepentia I [Captura de Antoñito el Camborio]
03 - Antonio Torres Xepentia II [Morte de Antoñito el Camborio]
04 - Xamos Apo Agapi [Perda pelo Amor]
05 - I Kalogria i Tsingana [A Freira Cigana]
06 - Tou Anemou [O Vento]
07 - I Pandermi
08 - Epitafios no. 2
09 - Epitafios no. 3
10 - Epitafios no. 4
11 - Epitafios no. 5
12 - To Yelasto Pedi [O Garoto Sorridente]
13 - Silva
14 - Irthan i Anthropoi [Os que foram levados pela estrada]

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sábado, 13 de agosto de 2011

Marcelo Kayath - Guitar Classics from Latin America Vol. 01 [1987] e Vol. 02 [1992]


Marcelo Kayath, nascido em Belém do Pará em 1964 e criado no Rio de Janeiro, é um dos violonistas clássicos mais impressionantes do país, com uma história igualmente interessante. Começou a estudar música por insistência de sua mãe, pianista. Não gostava de piano, e por ser fã dos Beatles pediu à mãe uma guitarra - em vez disso ela lhe comprou um violão. Segundo ele, começou a estudar violão tarde: aos doze anos. Estudou com os melhores professores do Rio, entre os quais o mundialmente conhecido Turíbio Santos. Durante o tempo que estudou violão, conheceu figuras como Sérgio Abreu, ex-integrante do Duo Abreu, hoje famoso luthier. Por se sentir tão inferior tecnicamente às pessoas que ele conhecia, adotou um nível de exigência altíssimo consigo mesmo, e começou a estudar fanaticamente. Aos 16 anos, após apenas quatro anos de estudo de violão clássico, venceu o concurso internacional de violão Villa-Lobos, que acontecia no Rio. Foi quando Turíbio sugeriu que ele fosse para fora do país. Trancou a faculdade de Engenharia, e estudou durante um ano com a meta clara de passar nos concursos internacionais. No mesmo ano, venceu os concursos da Rádio de Paris e de Toronto, feito nunca antes alcançado.

A partir daí começou sua carreira internacional nas salas de concerto e no estúdio. Aí também ele decidiu tirar o máximo de proveito da situação: em sua brevíssima carreira, que abrangeu apenas a segunda metade da década de 80, gravou seis discos (quatro deles no intervalo de quinze meses) e viajou o mundo inteiro, adquirindo uma técnica e uma musicalidade que pareciam vir de outro mundo. Mas tão abruptamente quanto ele se jogou nessa carreira, Kayath desistiu dela. A rotina estressante de um concertista, estudando em quartos de hotel, tratando com agentes e empresários e no fim das contas mexendo tão pouco com música, acabou afugentando Marcelo. Alguns anos depois, se tornara o Co-CEO do Credit Suisse.

Sua carreira rápida e intensa deixou uma marca profunda na música clássica brasileira, mas hoje poucos o conhecem. Kayath faz parte de um grupo de violonistas quase em extinção que pensa no violão como uma "pequena orquestra", com uma variedade enorme de timbres e possibilidades a serem exploradas - e não como um piano, em que cada nota só tem um timbre, preciso e imponente. Na contramão da tendência de sons de violão cada vez mais precisos, enxutos e secos, Kayath nos trouxe um legado cheio de sentimento, expressão, nuances e colorido. (Leia mais aqui sobre a concepção do som do violão de Marcelo Kayath)

Esses dois discos são coleções de música de violão latino-americana. O primeiro volume traz de João Pernambuco a Astor Piazzolla, enquanto o segundo volume foca no mexicano Manuel María Ponce e no paraguaio Agustín Barrios, dois dos principais compositores de violão do final do período romântico.






Guitar Classics from Latin America Vol. 01
Tracklist:

01 - M. M. Ponce - Valse
02 - Astor Piazzolla - La Muerte del Ángel
03 - Agustín Barrios - Vals op. 8, no 3
04 - Agustín Barrios - Choro da Saudade
05 - Agustín Barrios - Julia Florida
06 - Antonio Lauro - Vals Venezolano no. 2
07 - Antonio Lauro - El Negrito
08 - Antonio Lauro - El Marabino
09 - Leo Brouwer - Canción de Cuna
10 - Leo Brouwer - Ojos Brujos
11 - João Pernambuco - Sons de Carrilhões
12 - João Pernambuco - Interrogando
13 - Dilermando Reis - Se Ela Perguntar
14 - João Pernambuco - Sonho de Magia
15 - Heitor Villa-Lobos - Prelúdio no 1 em mi menor
16 - Heitor Villa-Lobos - Prelúdio no 2 em mi maior
17 - Heitor Villa-Lobos - Prelúdio no 3 em lá menor
18 - Heitor Villa-Lobos - Prelúdio no 4 em mi menor
19 - Heitor Villa-Lobos - Prelúdio no 5 em ré maior

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Guitar Classics from Latin America Vol. 02
Tracklist:

01 - Agustín Barrios - Mazurka Apassionata
02 - Agustín Barrios - Danza Paraguaya
03 - Agustín Barrios - Tango no 2
04 - Agustín Barrios - Confesión-Romanza
05 - Agustín Barrios - La Catedral: Prelúdio
06 - Agustín Barrios - La Catedral: Andante Religioso
07 - Agustín Barrios - La Catedral: Allegro
08 - Agustín Barrios - Study in b minor
09 - Agustín Barrios - Study in A "Las Abajas"
10 - Agustín Barrios - Tremelo - Una Limosna por el Amor de Diós
11 - M. M. Ponce - Preambulo & Allegro
12 - M. M. Ponce - Gavotte
13 - M. M. Ponce - Suite in a minor: Preludio
14 - M. M. Ponce - Suite in a minor: Allemande
15 - M. M. Ponce - Suite in a minor: Sarabande
16 - M. M. Ponce - Suite in a minor: Gavotte
17 - M. M. Ponce - Suite in a minor: Gigue
18 - M. M. Ponce - Balletto
19 - M. M. Ponce - Mazurka

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