terça-feira, 26 de julho de 2011

Marco Pereira - Ritmos Brasileiros Para Violão [2007]


Marco Pereira é um violonista paulista de formação clássica, mas que é principalmente um músico da MPB. Foi premiado em dois dos principais concursos de violão clássico do mundo, o Francisco Tárrega e o Andrés Segovia – mas quase toda sua produção é voltada para a música popular: participou brevemente do Grupo D'Alma, trio de violões com influência jazzística que ficou conhecido nos anos 80, tocou ao lado de Wagner Tiso e Edu Lobo, arranjou o disco Gal de 1992 de Gal Costa e tem vários discos dedicados ao violão solo popular brasileiro.

Em 2007, lançou esse livro/CD didático com um compêndio, segundo o próprio autor "sem nenhum rigor acadêmico" com o objetivo de registrar a enorme variedade de ritmos brasileiros do violão como instrumento de acompanhamento da música popular. São setenta ritmos cobrindo o Brasil inteiro (e olhe que ainda fica muita coisa de fora), incluindo desde o maxixe até o samba-funk, passando pelo boi-do-maranhão e o maracatu rural, com partituras, cifras e pequenas notas históricas sobre cada ritmo – às vezes o ritmo original do violão, às vezes transcrições feitas a partir dos instrumentos de percussão de cada estilo, uma vez que o violão na música popular brasileira tem um papel quase que percussivo.

Nesse arquivo .rar, além das 70 faixas de exemplo de cada estilo (para demonstrar as sutilezas que a partitura não mostra), vem o livro em si, em .pdf. O arquivo não é muito bom, é um scan da xérox de uma xérox, e tem uma página da introdução faltando, mas todos os ritmos estão lá, legíveis, e é uma ferramenta didática preciosíssima para quem estuda violão popular.

Clique na capa do livro pra baixar.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Ubella Preta + Jaguaribe Carne - Em Tubos de Ensaio no Laboratório Experimental [2011]


Jaguaribe Carne
já teve um post aqui. Só pra relembrar: Jaguaribe Carne é muito mais do que uma banda. Surgiu em 1974 justamente no bairro de Jaguaribe, e tem funcionado como um front de guerrilha cultural, explorando todas as partes obscuras do mapa da música – é criminosamente pouco conhecida inclusive em sua cidade natal, o que é curioso vendo-se por exemplo seu CD de 2003, que conta com participações de Lenine, Zeca Baleiro, Lula Queiroga e tantos grandes nomes da música brasileira. Mas mesmo com público restrito, Jaguaribe Carne talvez ainda seja o grupo mais criativo e mais ousado da Paraíba.

Ubella Preta, por outro lado, é muito mais nova. Com cerca de dois anos de existência e apenas um EP lançado, a Ubella incorpora o lado mais moderno da música experimental instrumental, uma linhagem que incorpora desde os conterrâneos do Burro Morto até os artistas do noise extremo como o japonês Merzbow. Com influências tão diversas quanto o afrobeat e o krautrock, é até perigoso falar de influências na Ubella, que simplesmente não tem medo de experimentar nada. Uma prova disso é esse CD.

Num encontro histórico, os irmãos Pedro Osmar e Paulo Ró de Jaguaribe Carne se juntam à dupla de David Neves e Felipe Nicolau, acompanhados de CH Malves, baterista da banda pernambucana de neo-psicodelia Anjo Gabriel, e colocam a Paraíba no cenário da livre improvisação – campo quase inexplorado por essas partes. O resultado foram horas e horas de música editadas e separadas em duas faixas: Alfaiars e Espancamento no Juliano Moreira. Quem é de João Pessoa entende logo a referência ao Juliano Moreira, principal manicômio da cidade, e já dá pra sentir o drama. A primeira faixa tem 27 minutos, completamente instrumentais com apenas algumas intervenções vocais como tosses coletivas e a voz inconfundível de Pedro Osmar conversando com a música e com os músicos. A segunda faixa chega aos 40 minutos, e passa do meditativo ao cacofônico sem que você perceba a transição. Esse disco é basicamente o que você teria se James Joyce fosse músico e tivesse nascido no sertão.



Tracklist:

01 - Alfaiars
02 - Espancamento no Juliano Moreira

Clique na capa do álbum pra baixar.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Carlos "Patato" Valdes - The Legend of Cuban Percussion [2000]


Muitas décadas atrás, existiu um tempo em que cubanos podiam ir e vir e que estadunidenses recebiam latino-americanos de braços abertos. Nesse tempo, latinos e americanos podiam fazer música juntos para se divertir, sem precisar ficar protestando contra o governo ou sem o resultado precisar parecer com Brujeria (nada contra Brujeria, muito pelo contrário). Um dos principais músicos dessa época foi Carlos Valdes, vulgo Patato.

Patato nasceu em Havana no final de 1926. Sua história com a conga começou nos carnavais de rua de sua cidade natal. Nos anos 40, já era um congueiro conhecido na capital cubana. Em 1954, muda-se para Nova Iorque – e causa uma sensação. Já no começo do ano seguinte faz sua primeira aparição num disco de jazz, o Afro-Cuban do trompetista Kenny Dorham, até hoje considerado uma de suas obras-primas. Na década anterior, quando Dizzy Gillespie conheceu o trompetista cubano Mario Bauzá e o congueiro Chano Pozo, começou a se formar a cena do jazz afro-cubano – Patato chegou em tempo oportuno. No começo dos anos 60, o gênero afro cubano clássico começou a sair de moda, mas Patato estava à frente. Tinha um senso de melodia e harmonia incomuns para um percussionista, e foi o primeiro a implementar os tensores que permitiam afinar as congas. Integrou a banda de Herbie Mann, tocou com Tito Puente, Art Blakey, Elvin Jones e até apareceu dando aula de mambo para Brigitte Bardot no filme que a fez famosa, E Deus Criou a Mulher. Além disso, ainda foi o responsável por criar uma cena musical de rumba nos Estados Unidos nos anos 60, ao gravar um disco com seu amigo de infância, Totíco.

Esse disco é um best of de dois projetos, de 1995 e 1996, os Ritmo y Candela 1 e 2, produzidos por Greg Landau. Foram shows para resgatar o já velhinho Patato, com uma line-up de músicos incríveis do mundo inteiro, tocando um jazz afro-cubano que em alguns momentos quase beira o avant-garde – o projeto rendeu uma nominação ao Grammy na recém formada categoria de Jazz Latino. O cd é toda uma grande festa cubana, e Patato mostra que mesmo depois de tantos anos ainda consegue segurar uma banda com propriedade.



Tracklist:

01 - San Francisco Tiene Su Propio Son
02 - Descarga en Faux
03 - Desde el Fondo del Río
04 - Luz
05 - Yo Tengo Ritmo
06 - Guloya Swing
07 - Oguerre
08 - Son de Patato
09 - Señor Blues/Mbuka Enoka
10 - Guajira en el Espacio
11 - Sangre de Africa
12 - Kora-Son

Clique na capa do álbum pra baixar

terça-feira, 19 de julho de 2011

Cheb i Sabbah - La Ghriba - La Kahena Remixed [2006]


O primeiro post desse blog foi dedicado a esse DJ argelino, que a partir de 2005 tirou o "DJ" do nome e se tornou simplesmente Cheb i Sabbah. Tendo tido mentores como o trompetista de free jazz Don Cherry e experiências em grupos de teatro ativistas, ele é hoje um dos principais DJs devotados à pesquisa da música popular do terceiro mundo. Seus primeiros discos, do final dos anos 90, fizeram uma grande releitura eletrônica da música tradicional do sul da Ásia – Índia, Paquistão, Afeganistão. Em 2005, Cheb i Sabbah volta para suas raízes norte-africanas, e lança o disco La Kahena, com música bérbere, gnawa e de toda a região do Maghreb.

Em 2006, lança esse disco de remixes das faixas originais, feitos por DJs do mundo inteiro. O resultado é um retrato hipnótico da música popular bérbere moderna – nostálgica mas não conservadora, tradicional e atual. É um disco longe do mundo techno-trance-house da música eletrônica pouco inventiva e repetitiva que tanto depõe contra o gênero: é o trabalho de alguém que sabe o que faz.



Tracklist:

01 - Toura Toura: The Nav Deep Remix [DJ Sandeep Kumar]
02 - Sadats: Les Filles de Marrakech Remix [Fnaïre]
03 - Alkher Illa Doffor: The Necatar Remix [Bassnectar]
04 - Jarat Fil Hub: The Chalice Remix [Yossi "Ex-Centric" Fine]
05 - Esh 'Dani, Alash Mshit: The Rai of Light Club Remix [Temple of Sound]
06 - Sadats: The Sufi Sonic Remix [MoMo]
07 - Alla Al 'Hbab: The Hydrophobia Remix [Dar Beida 04]
08 - Toura Toura: The Medina Remix [The Chakadoons]
09 - Madh Assalhin: The Zen Breaks Remix [Makyo]
10 - Esh 'Dani, Alash Mshit: The Constantine Remix [Bill Laswell]
11 - Im Ninalou: The Groovio Deep End Remix [Gaurav Raina (Midival Punditz)]

Clique na capa do álbum pra baixar

domingo, 3 de julho de 2011

Harry Belafonte - Paradise in Gazankulu [1988]


Harry Belafonte, americano com ascendência jamaicana, é conhecido mundialmente como o Rei do Calipso. Começou sua carreira no final dos anos 40, e se diz que na primeira vez que se apresentou em público foi acompanhado por nada menos do que a banda de Charlie Parker – que incluía o próprio Charlie, Miles Davis, Max Roach e daí pra cima. Apareceu em alguns musicais de Hollywood, lançou alguns singles de sucesso e em pouco tempo era uma estrela internacional do calipso. Seu principal sucesso é a Banana Boat Song, que ficou famosa numa cena do Beetlejuice de Tim Burton e numa versão do Quanta Ladeira de 2009. A imagem que fica pra quem não conhece muito é de um cantor que tá lá só pra divertir a platéia, meio engraçado meio galã, o star latino ideal. Mas ele também é um ativista social, um humanitário politicamente ativo – inclusive chamou a atenção por suas críticas ao governo Bush, quando já tinha deixado de atuar como músico.

Gazankulu era um bantustão da África do Sul na época do apartheid, para abrigar a etnia shangaan – e deixá-la longe da população branca do país. Paradise in Gazankulu, o último disco de estúdio de Belafonte, é um manifesto contra o apartheid, uma mensagem positiva para os sulafricanos oprimidos. Foi gravado em Johannesburg, e conta com participações de grandes nomes da música africana e mundial, como o senegalense Yossou N'Dour, o peruviano Alex Acuña e a banda sulafricana Makgona Tsohle, que acompanhou Belafonte em sua turnê subseqüente. Um dos melhores discos de Belafonte, e muito pouco conhecido por aí a fora.



Tracklist:

01 - We Are the Wave
02 - Paradise in Gazankulu
03 - Skin to Skin
04 - Amandla
05 - Kwela (Listen to the Man)
06 - Monday to Monday
07 - Global Carnival
08 - Capetown
09 - Sisiwami
10 - Move It

Clique na capa do álbum pra baixar

sábado, 2 de julho de 2011

Forward Kwenda - Svikiro: Meditations From an Mbira Master


A mbira é um instrumento africano muito parecido com a kalimba, onipresente em consultórios de homeopatia – uma caixinha ressonante de madeira com lâminas de metal afinadas tocadas com os dedos. Para os shona, povo do Zimbábue, a música da mbira é de importância espiritual – é geralmente tocada em cerimônias religiosas, para invocar os espíritos certos para a ocasião. Tocar mbira para eles é algo que transcende a música. Geralmente há dois tocadores de mbira: o kushaura, o chamador, que faz a parte principal da música, e o kutsinhira, o que responde – um tocando durante o silêncio do outro.

Forward Kwenda nasceu no distrito rural de Buhera, no Zimbábue, em 1963. Desde pequeno demonstrou interesse pela poesia, pela música e pela tradição shona. Aos oito anos começou a tocar vários instrumentos de percussão tradicionais. Poucos anos depois, conseguiu uma mbira e começou a estudar, sem nenhum professor além de ocasionais programas de rádio com música de mbira. Aos 21 anos, mudou-se para a capital, Harare, onde começou a tocar com outros músicos, e começou a ser conhecido. Tocadores de mbira mais velhos que ele se impressionaram com o estilo do rapaz, que tocava sozinho peças que precisariam de vários músicos – apesar disso, Forward nunca adotou a postura de virtuoso: ele diz que quem toca a mbira são os espíritos, e que quando pega o instrumento ele nunca sabe o que vai sair. "Eu só tenho que sair do caminho para os espíritos poderem tocar – eu fico impressionado". Já foi considerado o Coltrane da mbira.

Esse disco, gravado em 1997 depois de uma turnê nos Estados Unidos, como o nome sugere, é transcendental – Forward toca mbira e canta melodias tradicionais de sua cultura. Para quebrar com a idéia de que música tradicional africana tem sempre que ser rítmica, vigorosa e corporal.



Tracklist:

01 - Kanhurura
02 - Gonamombe Rerume
03 - Zvichapera Chete
04 - Chipembere Nhimutimu
05 - Tadzungaira
06 - Chipembere
07 - Mukai Tiende
08 - Mandarendare
09 - Chpindura
10 - Mahororo
11 - Chidhangechidhange

Clique na capa do álbum pra baixar