quinta-feira, 29 de setembro de 2011

MarginalS - (Disco Sem Nome) [2011]


Existe algum debate entre os músicos sobre até que ponto aquela que se chama free improvisation é realmente free. Com o tempo a coisa se tornou quase idiomática, quando a improvisação livre prevê justamente o abandono de qualquer idioma musical. Acabou que quando se fala em improvisação livre se pensa que o resultado sonoro tem que ser aquela coisa caótica, barulhenta e que não dá em lugar nenhum - na verdade não é bem assim.

No Brasil, pelo menos até onde eu conheço, há poucos grupos que se dediquem à livre improvisação, e a maior parte deles está ligada à academia ou aos círculos mais experimentais e obscuros do mundo da música. E em 2010, em São Paulo, do meio de um círculo de músicos que fazem parte de uma cena não muito bem definida, mas que inclui Romulo Fróes, Criolo, Kiko Dinucci e o Instituto, surge um trio tocando uma música bastante diferente. O MarginalS é formado por Thiago França no sax e na flauta, Tony Gordin na bateria e Marcelo Cabral no baixo.

Thiago França é uma das figuras centrais do samba que se faz em São Paulo atualmente, toca com Romulo Fróes e Criolo, tem projetos próprios de música instrumental e recentemente se tornou mais conhecido graças ao seu trabalho com Kiko Dinucci e Juçara Marçal, o disco Metá Metá. Tony Gordin, irmão do legendário guitarrista da Tropicália, Lanny Gordin, já tocou com CéU, com o Instituto, e no tempo em que morou nos EUA tocou com Airto Moreira, Mike Patton e até com o Rivers Cuomo da Weezer. Marcelo Cabral foi skatista nos anos 80, entrou pra música e produziu o "Nó na Orelha" de Criolo e o disco de estréia de Lurdez da Luz.

Nessa entrevista do trio, explicam o processo criativo do grupo, que no final é uma aula do que é o processo criativo da livre improvisação. O engraçado é que o trio, como o nome diz, é de maloqueiros skatistas que já tocaram de punk a sambinhas sem vergonha: estão longe da abstração teórica da academia sobre a livre improvisação, e de uma certa maneira - talvez por causa disso - conseguem tocar o gênero e escapar de sua única amarra: a busca obsessiva por não ser idiomático. Se Thiago toca uma frase que poderia ter sido tocada por um saxofonista de Fela Kuti ou que poderia ser parte de uma improvisação modal de Coltrane, a improvisação não é menos livre por causa disso. O CD em si é reflexo da abertura que a música traz: o disco não tem capa, nem nome, e as faixas na verdade são divisões de um único take de quarenta minutos, dividido em células que demarcam idéias fechadas. Não há nada no CD que tendencie o ouvinte a qualquer lado, que leve a uma interpretação prévia. Tudo fica a cargo de quem ouve. Seria fácil e desnecessário listar todos os tipos de música que aparecem no disco em um momento ou outro, mas no final o que interessa é o resultado final dessa amálgama. Listar gêneros talvez fosse até injusto à proposta de não-tendenciamento de quem ouve - se eu escutei um afrobeat e você não encontrou onde ele entra, então não teve afrobeat pra você.


Tracklist:

01 - Prólogo
02 - Parte 1, Parte 1
03 - Parte 1, Parte 2
04 - Parte 1, Parte 3
05 - Parte 1, Parte 4
06 - Intermissão, Parte 1
07 - Intermissão, Parte 2
08 - Parte 2, Parte 1
09 - Parte 2, Parte 2
10 - Parte 2, Parte 3

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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Irakere & Leo Brouwer - Concierto / Teatro Karl Marx / Ciudad de la Habana [1978]


Imagine o cenário: num teatro lotado do Rio de Janeiro da década de setenta, Heitor Villa-Lobos magicamente reaparece dos mortos, senta com seu violão no meio do palco e começa a tocar um chorinho sozinho. No meio da música, as luzes do resto do palco se acendem, e a banda toda entra: é A Cor do Som fazendo um arranjo quase jazzístico do mesmo chorinho. O show dura mais de uma hora, passa por elaboradas jams de música brasileira instrumental, percussões africanas, arranjos sambados de obras de Mozart, forrós conhecidos de todo mundo. Um evento desse tipo não passaria despercebido na história da música mundial.

E voltando ao mundo real, algo muito similar já aconteceu e ninguém sabe. Leo Brouwer, nascido em Havana em 1939 (vinte anos antes da morte de Villa-Lobos), é um compositor e violonista dos mais importantes para a história do instrumento no século XX. A importância que teve Villa-Lobos - no Brasil e no mundo - no repertório do violão clássico do início do século é análoga à importância de Brouwer a partir dos anos 60 e até hoje. Conhecido pelas suas obras de vanguarda, peças para violão solo e vários concertos para violão e orquestra, pouca gente sabe das (significativas) incursões de Leo na música popular - tal qual seu colega Villa-Lobos. Nas palavras de Brouwer: quem disse que uma música é popular e a outra é culta? Que uma é para as massas e a outra para as minorias? Quem disse que a música de concerto - que é a que eu toco - é elitista e a música popular é para dançar?

A principal canalização das forças de Brouwer no mundo da música popular foi o Grupo de Experimentación Sonora del ICAIC, formado no final dos anos 60 e que atingiu o auge da fama nos anos 70. Mas há também essa fantástica colaboração feita em 1978 com o Irakere. O nome irakere vem do idioma iorubá, e significa vegetação - era o nome de uma região da África cuja fama era a de ser o berço dos melhores percussionistas, que segundo alguma lenda teriam desembarcado em Cuba. Embora o grupo com esse nome só tenha se oficializado em 1973, o núcleo já existia pelo menos desde 1967, mais ou menos liderados pelo pianista Jesús "Chucho" Valdés. Eram músicos populares que não estavam interessados em música comercial. Não queriam criar um ritmo novo - como mandava o marketing para as bandas da época - que no final das contas tinha pouquíssimo de novo. O interesse deles era explorar as possibilidades rítmicas da tradição cubana e latino-americana em geral, experimentar combinações percussivas, sem tentar recriar nem criar nada: simplesmente fazer. O resultado foi um dos grupos de música latina mais empolgantes que já existiram - teriam facilmente se tornado um nome incontestável do jazz mundial (muito embora o jazz servisse apenas de base estética, mais do que qualquer coisa), se não fossem as óbvias dificuldades que um grupo cubano de músicos fiéis à Revolução tem de despontar num cenário mundial. Para a nossa sorte, tudo isso foi registrado e pode ser encontrado por quem tiver disposição.


Tracklist:

01 - Scott Joplin - Ragtime: The Entertainer
02 - Misa Negra
03 - Joaquín Rodrigo - Concierto de Aranjuez (segundo movimento)
04 - W. A. Mozart - Adagio
05 - Romance (Juegos Proibidos)
06 - Heitor Villa-Lobos - Prelúdio no. 3 [o verso do vinil erroneamente identifica a peça como sendo o Prelúdio no. 4]

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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Caçapa - Elefantes na Rua Nova [2011]


Para muitos, o nome de Rodrigo Costa Rodrigues Barbosa, ou Rodrigo Caçapa, pode ser novo. Mas ele está há 15 anos trabalhando com música Brasil afora. Violeiro, arranjador e compositor, se integrou ao mundo da música quando surgiu o movimento manguebeat, e se aprofundou na coisa. Em 1996 fez parte da banda Chão e Chinelo com Maciel Salu, filho do lendário Mestre Salustiano. Depois disso já fez arranjos para Siba e a Fuloresta, Nação Zumbi, trabalhou com Alessandra Leão, Kiko Dinucci e um sem número de músicos pelo Brasil inteiro.

O Elefantes na Rua Nova é sua primeira tentativa de projeto solo. São oito temas instrumentais gravados com um baixolão, algumas percussões e três violas caipiras ligadas em pedais de efeitos. Os temas são ritmos de danças populares: côcos, baianos, rojões e um samba - daqueles de fazer Clementina de Jesus parecer moderna demais. É como se tivessem colocado uma roda de violeiros do sertão dentro de um estúdio, com todo o conforto que a modernidade traz - mas quem dita as ordens ainda é o violeiro. Um disco de estréia à altura da importância que Caçapa teve (e tem) na cena musical brasileira.


Tracklist

01 - Baiano-Rojão nº1
02 - Coco-Rojão nº1
03 - Coco-Rojão nº3
04 - Baiano-Rojão nº3
05 - Coco-Rojão nº2
06 - Samba de Rojão nº1
07 - Rojão nº1
08 - Coco-Rojão nº4

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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thiago França - Metá Metá [2011]


O nome do álbum, Metá Metá, já leva quem vai ouvir pra muito longe. A palavra metá vem do iorubá, e significa três - o trio por trás da obra: o violonista Kiko Dinucci, a cantora Juçara Marçal e o saxofonista e flautista Thiago França. Metá metá é uma construção que em iorubá significa "três em um" - o trio entra em simbiose como se fosse uma coisa só.

Kiko Dinucci é um violonista e compositor paulista que tem uma carreira rica em parcerias - talvez a mais conhecida seja a música "Mariô", com Criolo, mas talvez não seja a mais empolgante. Uma delas foi em 2007, com o disco Padê. Quem o acompanhava era Juçara Marçal. Ela já tinha uma bagagem musical riquíssima: fazia parte do grupo paulista A Barca, que se dedica a expedições de pesquisa musical pelo Brasil, um pouco como Mário de Andrade fazia, catando um pouco daqui e um pouco dali. Mário de Andrade fez um livro, A Barca fez discos, passando a experiência que tinham adquirido. Toda essa experiência já está no Padê, moldada pelos arranjos minimalistas de Kiko Dinucci, que está longe de ser um virtuose em seu instrumento mas está talvez ainda mais longe de ser desinteressante.

No meio do caminho, Kiko e Juçara conheceram Thiago França, que é não só um instrumentista, mas também um criador. Os três uniram forças e criaram um trabalho conjunto. O disco tem muito do minimalismo bem trabalhado do Padê, mas traz o ponto culminante dessa estética. A maior parte das músicas conta só com o trio, e algumas poucas têm percussão, uma tem bateria e outra tem um cavaquinho. A africanidade transpira em cada música, e a paulistanidade fica escondida - mas não muito atrás.

E ao mesmo tempo que o disco ignora - propositalmente - todo tipo de modernidade previsível e soa como se fosse um vinil de sessenta anos atrás magicamente pousando em nossa era, ele aborda genialmente uma das principais questões para quem faz música no século XXI - a "pirataria". No meio da discussão sobre copyright, copyleft, download remunerado, trama virtual, Radiohead e tudo o mais, o trio (e vários outros músicos) resolveram deixar tudo de lado e criar sua própria solução: criaram o Projeto Axial e o software Bagagem. O Bagagem é um player que toca os álbuns dos artistas do Projeto Axial, e que permite que se tenha acesso - grátis - a todas as músicas, letras, releases, encartes, capas e clipes dos participantes do projeto. O Metá Metá tem para cada música um clipe feito por um artista plástico diferente, que pode ser assistido pelo software.


Tracklist:

Entre colchetes, o compositor

01 - Vale do Jucá [Siba]
02 - Umbigada [Lincoln Antônio]
03 - Papel Sulfite [Jonathan Silva]
04 - Trovoa [Mauricio Pereira]
05 - Samuel [Kiko Dinucci e Rodrigo Campos]
06 - Vias de Fato [Kiko Dinucci, Douglas Germano e Edu Batata]
07 - Oranian [Kiko Dinucci e Douglas Germano]
08 - Obá Iná [Douglas Germano]
09 - Obatalá [Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thiago França]
10 - Orá Iê Iê O [Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thiago França]

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Néctar do Groove - Néctar do Groove [2011]


Néctar do Groove surgiu em João Pessoa em 2006 - os irmão suíços Stephan Tomas (saxofone) e Peter Bühler (percussão) se meteram a fazer jam sessions com Victorama (bateria), Orlando Freitas (baixo) e Cristiano Oliveira (viola caipira), e o resultado foi essa banda - que hoje também conta com o guitarrista Marcelo Macedo. Durante muito tempo, Néctar do Groove fez seu nome tocando em bares e restaurantes do meio underground pessoense - uma espécie de pequena revolução: nunca foi daquelas bandas que servem apenas de trilha sonora para o bar, chamavam a atenção tocando jazz com viola de dez cordas e baião com saxofone. Naturalmente acabaram tocando em vários eventos alternativos da cidade.

Até agora, seu único registro tinha sido um EP com poucas músicas e difícil de encontrar (já quis postar no blog, mas não consegui uma cópia). Agora, depois de cinco anos de banda, lançam um disco à altura. Arranjos muito bem trabalhados de músicas já conhecidas de quem freqüentava seus shows e algumas novidades compõem o álbum, que consegue recriar o principal aspecto da banda: aquela sensação de jam, aquele improviso de quem já se conhece muito bem. E em algumas músicas, uma pequena jóia: a participação especial de Larissa Montenegro, ex-vocalista da ChicoCorrea & Electronic Band (da qual também fez parte Stephan Tomas e onde Victorama ainda toca), que não era ouvida há algum tempo, mas que tem uma voz hipnotizante que bem condiz com o som da banda.


Tracklist:

01 - Terra
02 - Rosa
03 - 03
04 - Intermezo
05 - Harmonia Sateliteana
06 - Vôo da Viúva
07 - Jammix

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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Alessandra Leão - Dois Cordões [2009]


A geração de músicos pernambucanos que surgiu nos anos 90 talvez ainda seja uma das mais ativas atualmente. Só a partir de Nação Zumbi e Mundo Livre S/A saíram bandas e músicos como Otto, Maquinado, Los Sebosos Postizos, 3namassa e Almaz, só pra citar as mais conhecidas. Outra banda importante da época é a Comadre Fulozinha, uma espécie de Nação Zumbi feminina, de onde saiu Karina Buhr, que está fazendo sucesso numa carreira solo. Outra cria da Comadre Fulozinha é Alessandra Leão.

Alessandra começou a sua carreira solo em 2006, com o disco Brinquedo de Tambor. A partir daí, teve a oportunidade de trabalhar com grandes nomes da música pernambucana e brasileira, de Siba a Lia de Itamaracá. Seu disco de 2009, Dois Cordões, é quase uma continuação natural do trabalho da Comadre Fulozinha. Arranjos contidos emolduram uma música de raiz poderosa, que encurta a distância entre os ritmos pernambucanos e os africanos - mas ao mesmo tempo com uma suavidade que contrasta com a euforia da música percussiva da África.


Tracklist:

01 - Varanda
02 - Boa Hora
03 - Bom Dia
04 - Atirei
05 - Fogo
06 - Luzia, Rainha do Baiana - Tombo do Navio
07 - Trancelim
08 - Andei
09 - Partilha
10 - Vou Me Balançar
11 - Ai, Dendê
12 - Chave de Ouro

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sábado, 17 de setembro de 2011

Brassil - "Brassil" Toca Brasil [1992]


O quinteto de metais Brassil foi um dos grupos musicais mais competentes da Paraíba. Surgiu em 1980, formado por professores do Departamento de Música da UFPB e músicos de orquestras da Paraíba e de Pernambuco, e se jogou em cima de todo o repertório para a formação a que conseguiam ter acesso, além de terem transcrito inúmeras peças. Durante sua carreira, em que tocaram pelo Brasil inteiro e fora dele, já tocaram de música renascentista a bossa nova a música de concerto contemporânea (como nesse CD que já foi postado aqui).

Esse disco, de 1992, mostra a versatilidade do grupo. Começa com clássicos da MPB e da Bossa Nova, e gradativamente vai chegando a peças como o Quinteto de Kaplan, a Bachiana noº 5 de Villa-Lobos, para terminar numa série de fanfarras, chorinhos e marchinhas tocadas com um esmero raro de se encontrar.

Faziam parte do Quinteto durante a gravação desse CD: Nailson Simões e Anor Luciano nos trompetes, Cisneiro de Andrade na trompa, Valmir Vieira na tuba e o falecido Radegundis Feitosa no trombone.


Tracklist:

01 - Aquarela do Brasil
02 - Brasileirinho
03 - Tico-Tico no Fubá
04 - Música Para Uma Avenida
05 - Garota de Ipanema
06 - Wave
07 - Samba de Verão
08 - O Barquinho
09 - Samba do Orfeu
10 - Radegundizando
11 - Quinteto - I. Allegro
12 - Quinteto - II. Allegreto (Caboclinho)
13 - Quinteto - III. Allegro (Candomblé)
14 - A Invasão - Parte "A"
15 - A Invasão - Parte "B"
16 - Cisne Branco
17 - Bachianas Brasileiras Nº 5 - Aria
18 - Carinhoso
19 - Espinha de Bacalhau
20 - Burundanga
21 - Zinzinho nos States (Choro)
22 - Gizelle (Valsa-Modinha)
23 - Movimento (Choro-Gafieira)
24 - Gilmacy (Valsa)
25 - Lucinha no Frêvo

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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Paulo Ró - Cantus Popularis [2011]


Paulo Ró é uma das principais forças criativas da Paraíba. Começou sua carreira na cena musical em 1974 com o lendário Jaguaribe Carne, junto com seu irmão Pedro Osmar, juntando a música popular local com as experimentações mais impensáveis. Paralelamente a este trabalho mais vanguardista, tem vários discos dedicados à pesquisa da música de raiz de todo o Brasil, e ainda rápidas aventuras pelo brega, pela música eletrônica e até música celta. Graças a esse trabalho prolífico foi chamado, e sem exagero, de um dos maiores compositores do estado.

Seu trabalho mais recente, o Cantus Popularis, que começou a ser gravado em 2010 e lançado recentemente, é uma síntese do melhor que há no trabalho de Paulo Ró. A pequena faixa de abertura já é uma insinuação do tom do álbum - uma cambinda típica da praia de Lucena, ao norte de João Pessoa, que aos poucos dá lugar a manipulações sonoras eletrônicas. O disco é entrecortado por citações de cocos, cirandas e aboios tradicionais de vilarejos e comunidades tradicionais da Paraíba, e temperado com solos virtuosísticos de guitarra, batidas de hardcore, efeitos eletrônicos. Mas esses elementos não aparecem com o intuito de contrastar, mas de somar. Os dois elementos não destoam nem aparecem como coisas separadas numa mesma faixa, mas casam perfeitamente, como se as músicas sempre tivessem sido tocadas assim. O disco é um sopro de ar fresco na safra mais recente de trabalhos regionalistas da Paraíba, super saturados por tentativas de modernizar a todo custo. Paulo Ró faz parte da geração mais antiga que atua hoje, mas talvez esteja mais à frente do que a geração mais nova.


Tracklist:

01 - Abertura
02 - Boa Noite a Todos
03 - Tia Beta
04 - Cajueiro / Eu Vou, Eu Vou
05 - Loas de Cambindas
06 - Barreira Mar / Eu Tenho Prata... / Riacho de Pedra
07 - Santana Dá Louvor
08 - Ô Moça / Que É Que Tu Tens...
09 - Eu Vi a Pancado do Mar / Meu Deus Que Vento é Esse
10 - Minha Ciranda
11 - Pisa, Pisa / Ô Vitô
12 - Coco Aboiado
13 - Ôlerê Carolina
14 - Na Força da Lua
15 - Lancear
16 - Quem Nos Guia

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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Música de Parahyba [2011]



Historicamente, na Paraíba, a intervalos regulares aparecem coletâneas que fazem uma pequena amostra do que vem sendo produzido no estado. A primeira delas saiu em 1982, a Música da Paraíba: Hoje, um disco duplo que continha gravações de nomes como Chico César, Jarbas Mariz ou Pedro Osmar. Essa primeira coletânea continha principalmente forrós e ritmos regionais acústicos, uma seleção bem homogênea de músicas - é bem verdade que havia muito mais sendo feito pelo estado, mas os artistas da Música da Paraíba: Hoje foram os primeiros a se organizar com o objetivo comum de divulgar a própria arte e a de seus colegas.

Esse núcleo primordial viria a se tornar o Musiclube da Paraíba, uma das principais organizações artísticas do estado. Em 1997, lançam outra coletânea. As técnicas de gravação e a tecnologia disponível eram muito superiores às da época da primeira coletânea, e o resultado é muito mais heterogêneo, com instrumentações bem diferentes e até com uma peça de música eletrônica de Paulo Ró. E o comecinho do século XXI viu os três volumes do Cantata Popular, quando o Musiclube já não existia mais. Mas o senso de união dos artistas paraibanos crescia cada vez mais, e pela primeira vez aparecem juntos sambas, forrós, rocks e raps.

Esse ano vê o nascimento de outra coletânea, para atualizar os arquivos. Dessa vez, o grupo por trás do trabalho é o Fórum de Música de João Pessoa, um grupo parecido com o Musiclube no seu objetivo. O CD traz desde uma boa amostra do incipiente movimento auto-intitulado Movimento Varadouro, que já tem uma variedade musical enorme em si mesmo, e ainda músicas de artistas periféricos, pouco conhecidos mas que têm um trabalho tão consistente quanto os mais famosos. Uma excelente coletânea para quem quer começar a entender o que é a Paraíba musicalmente hoje em dia - mas sabendo que esse CD é só a superfície da coisa.

Tracklist:

01 - Abiarap - Bom Viajar
02 - Ubella Preta - Savana Grossman, o Velho
03 - Madalena Moog - Ela Só Gosta é de Carnaval
04 - Nublado - No Ar
05 - Febuk - Queimação
06 - Círculo de Tambores - Degue Dedegue Dá
07 - Baluarte - Cordas
08 - Pablo Scobá - Um Brinde
09 - Cerva Grátis - O Castigo
10 - Tribo Éthnos - Kworo Kango
11 - Zé Viola Progressive Band - A Diferença Entre o Igual e o Diferente
12 - Mr. Soh SDS - A Prova Tá Aqui
13 - Maracatu Nação Pé de Elefante - Evolução de Bateria
14 - Miss Ya Juste SDS - Sansão e Dalila
15 - Orquestra de Berimbaus - Aquele Que Sabe Tudo
16 - Alê da Guerra - Chii Lá Vem Ela
17 - Atitude Urbana - Sete Chaves
18 - Tribo Ras - Raízes Esquecidas
19 - General Frank e Preta Sam - Pode Chorar

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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Grupo de Experimentación Sonora del ICAIC - Vol. II [1974]


O Grupo de Experimentación Sonora del ICAIC, criado em Cuba no final de 1969 foi um marco importantíssimo da música popular cubana. A Revolução Cubana completava dez anos, mas ainda estava longe de atingir o ideal socialista, tendo que lutar para sobreviver a despeito do embargo dos Estados Unidos e para reformular toda a sociedade a partir do zero. Nesse cenário, o governo não tinha condições econômicas de bancar os jovens músicos da ilha para deixá-los no mesmo patamar tecnológico do resto do mundo. Com o objetivo de contornar estes problemas, instrumentistas, compositores e técnicos de som vinculados ao ICAIC (Instituto Cubano de Arte e Industria Cinematográficos, o primeiro órgão de Cultura criado após a Revolução) formaram o Grupo de Experimentación Sonora.

A mente por trás do grupo é ninguém menos que Leo Brouwer, um dos principais compositores e violnistas do século XX. Pouco conhecido pelo público em geral que não é ligado ao violão erudito, Brouwer é respeitado como uma das maiores forças criativas de seu tempo, comparável a Béla Bartók ou Villa-Lobos pela maestria com que conseguiu fundir a música popular de seu país com técnicas experimentais de composição. E nessa época, nos anos 1970, flertou bastante com a música pop.

O Grupo de Experimentación funcionou também como uma espécie de oficina. Brouwer chamou vários músicos cubanos que já tocavam bem, e começou a instruí-los na música erudita. Deu-lhes aulas de contraponto, fuga, harmonia, formas musicais e composição. Em pouco tempo, todos os membros do grupo eram capazes de compor uma trilha sonora ou fazer o arranjo de uma música numa partitura. Nos encontros do grupo, escutava-se e tocava-se de tudo: de Frank Zappa a Gilberto Gil a Ravi Shankar a Iannis Xenakis. Experimentava-se com equipamentos de estúdio, se colocava a música cubana num patamar internacional, equiparável ao movimento musical que existia no Brasil nessa época (no qual o Grupo de Experimentación se inspirou em parte). Embora tenham gravado vários LPs, eles são apenas uma pequena amostra de todo o trabalho que foi feito pelo grupo. Os resultados mais famosos são músicas escritas na linguagem pop, com letras politicamente conscientes, mas que não perdem a ternura e a poesia - uma receita que lembra as obras de Mercedes Sosa ou do grupo latino-americano Tarancón - com temas camponeses, rurais e de exaltação à Revolução Cubana.

Esse disco, de 1974, registra uma pequena parcela da produção do Grupo. É parte integrante e inseparável da história da canção latino-americana, infelizmente esquecida no tempo, mas que sem dúvidas contribuiu para o desenvolvimento do estilo, e influenciou milhares de músicos que vieram depois - mesmo que nem eles saibam disso.

Tracklist:

01 - Cuba va
02 - Para una imaginaria María del Carmen
03 - Canción de todos
04 - El paplote se fue a Bolina
05 - Fragmentos de 27 Noviembre
06 - Éramos
07 - Danzaria
08 - Madre
09 - Quién me Tienda la Mano al Pasar
10 - El Rey de las Flores
11 - Campesina
12 - Un Hombre se Levanta
13 - Si El Poeta Eres Tú
14 - Canción de los CDR
15 - Bachiana Popular Cubana nº 2
16 - La Nueva Escuela
17 - Comienzo el Dia

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