sábado, 31 de março de 2012

Duo N-1 - Jardim das Gambiarras Chinesas [2009]


O Duo N-1 (lê-se "ene menos um") é um ensemble audio-visual de sonoplastas experimentadores. O que se escuta aqui é apenas um fragmento do trabalho de Giuliano Obici e Alexandre Fenerich, que compõem o duo. Só numa performance ao vivo é possível apreender de uma vez tudo a que o grupo se propõe. O set de instrumentos do grupo é um teatro de objetos, micro-coisas barulhentas, brinquedos, coisas rasteiras, usadas das maneiras mais incomuns. É o que o grupo chama de "gambioluteria", a luteria da gambiarra. E acima desse jardim de gambiarras, microcâmeras capturam toda a dança dos objetos e a projetam no espaço da performance. A música é a sonoplastia do vídeo e o vídeo é o complemento visual da música.


Tracklist:

01 - Dialonírico
02 - Jogo de Sombras
03 - Marulho Oceânico
04 - O Escrivão e a Baleia
05 - Ahab
06 - Hipnóquio
07 - Improviso em Fundo Branco
08 - Ewig und die Zeit

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Leo Brouwer & Cergio Prudencio - Música Nueva Lationamericana nº 8 [1981]


"Quando se fala em cultura, se pensa em Europa", diz o compositor cubano Leo Brouwer em 1978. De fato, se pedirmos para um cidadão médio, mesmo latino-americano, citar compositores de música erudita, as respostas vão em sua maior parte consistir em compositores alemães ou de outras partes da Europa, geralmente mortos há mais de cem anos. O boliviano Cergio Prudencio é enfático: "não podemos continuar subsistindo em base a uma arte passada e estrangeira". Estas afirmações foram feitas mais de trinta anos atrás, mas ainda se aplicam. O compositor latino-americano tem no seu trabalho o desafio de trabalhar com as três vertentes culturais que compõem sua identidade: a européia, a índia e a negra. Historicamente, a européia se sobressai - e para as outras duas resta a luta pela sobrevivência.

Este disco é o oitavo volume da série Música Nueva Latinoamericana, do selo uruguaio Tacuabé. A tarefa proposta por essa série é a de oferecer um panorama introdutivo - porém não superficial - da música de concerto feita nos países da América Latina. Esse volume apresenta duas obras que exemplificam as duas soluções propostas para o compositor latino-americano que queira criar algo que seja relevante para a sociedade em que está inserido. As soluções são a busca da contemporaneidade e a definição de uma identidade cultural que se sobressaia à sua origem conflituosa e multipolar. A obra do cubano Brouwer exemplifica o primeiro ponto: com um título carregado de significado, La tradición se rompe... pero cuesta trabajo, composta no final dos anos 60, é uma grande colagem controladamente aleatória de clichês orquestrais dos grandes mestres da música clássica, de Bach a Beethoven a Dvorak, colocados juntos de maneira quase caricatural - a tradição é modificada forçosamente e emerge nessa obra como algo novo. A peça de Cergio Prudencio, La Ciudad, é um exemplo da incorporação de elementos nativos na música. É uma obra para orquestra de instrumentos nativos, incluindo o sicu, a tarka, o moceño, a quena ou o pinquillo, e é construída com base em um poema da boliviana Blanca Wiethüchter.

Tracklist:

01 - Leo Brouwer - La tradición se rompe... pero cuesta trabajo
02 - Cergio Prudencio - La Ciudad

quinta-feira, 29 de março de 2012

Chico Correa & Thomas Barrière - Canape Duo Concert


Estamos falando aqui de um duo de guitarras - mas se não fosse a capa do álbum e o vídeo lá embaixo pra comprovar, seria difícil convencer vocês de que nessas cinco faixas tem só duas guitarras tocando ao vivo.

Thomas Barrière e ChicoCorrea formam o Canape Duo. Thomas é francês e vive em Le Thor, no sul do país, e ChicoCorrea é paraibano. Os dois são guitarristas, mas acima de tudo experimentadores, com um currículo considerável no campo da improvisação livre. Com suas guitarras e um exército de aparelhos eletrônicos, os dois constroem atmosferas com texturas que vão se modificando lentamente e imperceptivelmente, numa polifonia de timbres, ruídos e fragmentos melódicos que flutuam à deriva na massa sonora. Técnicas expandidas do instrumento e os vários equipamentos à disposição do duo permitem o aparecimento de elementos impensáveis - aqui uma percussão meio africana, ali um som de sopros orientais, e vez por outra uma passagem mais ruidosa quase digna de John Zorn. Improvisando ao vivo durante quase uma hora, o Canape Duo consegue manter a música viva e respirando ininterruptamente, criando uma espécie de mantra eletrônico do século XXI.


Tracklist:

01 - ChicoCorrea&ThomasBarrière 1
02 - ChicoCorrea&ThomasBarrière 2
03 - ChicoCorrea&ThomasBarrière 3
04 - ChicoCorrea&ThomasBarrière 4
05 - ChicoCorrea&ThomasBarrière 5

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quarta-feira, 28 de março de 2012

Amambay Cardozo Ocampo - Recuerdos Musicales del Paraguay [1978]


Amambay Cardozo Ocampo, também conhecida como "as covinhas que cantam", nasceu em Buenos Aires em 1945, mas é muito mais paraguaia do que argentina. Seu pai, Don Mauricio Cardozo Ocampo, foi um dos principais compositores da chamada "época de ouro" da música popular paraguaia, e é autor de algumas das músicas mais famosas do país, como Galopera ou Regalo de Amor. Amambay cresceu num ambiente extremamente musical, e aos dezoito anos decide abraçar seriamente a carreira de cantora. Em pouco tempo tornou-se uma das principais vozes do Paraguai, chegando inclusive a vir ao Brasil para o 1º Festival da Canção Popular, em 1966. Neste disco de 1978, Amambay interpreta com sua voz potente, como se fosse uma Elis Regina guarani, alguns dos maiores clássicos da música de seu país, inclusive várias composições de seu pai.

Tracklist:

01 - Recuerdos de Ypacaraí
02 - Cambá la Merce
03 - Anahí
04 - Canto a Itucurubí
05 - Pájaro Chovy
06 - Galopera
07 - Asunción - Noches del Paraguay - Canto al Paraguay
08 - San Baltazar
09 - Alma Vibrante
10 - India
11 - Momyry Guivé

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terça-feira, 20 de março de 2012

Chinese Cookie Poets - Worm Love [2012]


O Chinese Cookie Poets é um trio carioca de música inclassificável. Música experimental, free jazz, improvisação livre, math rock, escolha o que quiser, nenhum vai direto ao ponto. Worm Love é o terceiro lançamento do trio (que já havia lançado dois EPs, e agora lança seu primeiro CD), e ele é um processo com três fases bem distintas - e o disco em si, esse que você está baixando, é só a segunda delas.

A primeira fase foi a gravação. Um único take de 40 minutos de improvisação livre ininterrupta. Essa fase é a fase platônica, onde se criam os materiais não-corpóreos e ideais que existem apenas em um lugar imaterial no passado. A segunda fase é a fase em que o rótulo improvisação livre deixa de ser preciso - é a fase composicional, que se materializa no disco em si. É a fase em que o material bruto foi editado, processado, desmembrado, reconfigurado e - através de uma descarga elétrica como a que deu vida ao monstro do doutor Victor Frankenstein - trazido ao mundo terreno. As versões que aparecem no disco, bem diferentes do material original, são consideradas pelo trio como as versões definitivas das músicas. A terceira fase é a fase prática. A fase em que a criatura sai de sua torre e entra em contato com o mundo real - as apresentações ao vivo. O trio pega as versões definitivas e faz o possível para tirar as músicas em uma versão que possa ser apresentada ao vivo. Mas como as faixas foram completamente manipuladas em computador, esse processo não é perfeito - e é isso que o torna interessante. O disco não é igual ao que foi gravado, o show não é igual ao que está no disco, e um show não é igual a outro. O material que havia sido cristalizado no disco toma vida novamente e o ciclo se completa. O monstro do doutor Frankenstein, assim como o homem de lata do país de Oz, também recebe seu coração.


Tracklist:

01 - Plastic Love
02 - Free the Monkey
03 - En la Mano del Payaso
04 - European School of Homegrown Worms
05 - Chinatown Blues
06 - Hakkeyoi
07 - Discipline and Manners
08 - Three Worms - Jukai
09 - Three Worms - Koan
10 - Three Worms - Ziran
11 - Worm Love

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domingo, 18 de março de 2012

José Alberto Kaplan e W. J. Solha - Cantata pra Alagamar [1978]


José Alberto Kaplan foi um compositor argentino naturalizado paraibano que foi um dos principais responsáveis pela formação de inúmeros músicos no estado. Waldemar José Solha é um escritor, dramaturgo, poeta e artista plástico paulista que também decidiu se instalar definitivamente na Paraíba nos anos 1960. Esses dois foram responsáveis por, em 1978, compor a Cantata pra Alagamar, uma ópera camponesa que, em plena ditadura militar, denunciava a perseguição dos militares contra trabalhadores sem terra da região de Alagamar, entre Salgado de São Félix e Itabaiana, no interior do estado.

O arcebispo da Paraíba, Dom José Maria Pires, acompanhava as lutas pela reforma agrária desses camponeses. Kaplan na época era um grande amigo do arcebispo, e por causa da vontade de criar algo que tivesse alguma relevância social em seu meio, inteirou-se da causa e chamou Solha para escrever um libreto sobre o tema. Toda a estética da obra é popular, baseada em ritmos e gêneros populares - a começar pelos versos, que incorporam gêneros de poesia popular como o martelo agalopado e a gemedeira. Devido ao seu caráter político, a cantata não poderia ser apresentada em teatros, pois seria barrada pela censura - a solução foi apresentar em igrejas. Ao apresentarem a obra em Itabaiana, onde acontece a história, a polícia cercou a igreja onde acontecia a performance mas não conseguiu frear o ânimo do povo que aplaudia de pé. O próprio papa João Paulo II, em sua visita ao Brasil em 1980, ia ver a peça, mas chegou convenientemente atrasado ao descobrir dos temas que tratava.

Tracklist:

01 - Cantata pra Alagamar

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sábado, 17 de março de 2012

Cantos Religiosos Afro-Brasileiros [2000]


Não consegui encontrar nenhuma informação sobre esse álbum além da capa e do ano em que foi publicado, mas é um registro fantástico de vários pontos de umbanda, as canções de louvor dos cultos afro-brasileiros.

Tracklist:

01 - Solos de atabaque
02 - Chamada de Ogum, Pisa na Linha de Umbanda, Pisa no Reino ó Cangira
03 - Ogum Oiá, Ogum Guerreiro, Coroa de Ouro
04 - Popologundê, Ogum Dake, Ogum Megê
05 - Ogum vai ao Ló, Seu Cavalo Selei, É Madrugada, Imagem de Ogum
06 - Saudação à Falange de Oxóssi
07 - Caboclo Guiné
08 - Ô Gauinza
09 - Oxóssi da Pena Branca
10 - Caboclo Ubirajara
11 - Boiadeiro
12 - Caboclo Caçador das Matas
13 - Louvação aos Exus
14 - Exu Marabô
15 - Chamada de Pomba-Gira
16 - Louvação a Pomba-Gira
17 - Pomba-Gira Mulambo
18 - Ponto de Subida Geral

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quarta-feira, 14 de março de 2012

Canzoniere del Lazio - Quando Nascesti Tune [1973]


O Canzoniere del Lazio surgiu em Roma em 1972, uma época agitada na Itália. Politicamente, o país vivia numa atmosfera de contestação - movimentos sindicais, anarquistas e estudantis tomaram conta do país, e havia uma grande tomada de consciência política. Musicalmente - em paralelo à rica safra de rock progressivo que se desenvolvia - o revival da música folclórica, que começou por volta dos anos 50, estava em alta. Começava um debate entre pesquisadores e músicos: uns eram puristas, achavam que a música popular camponesa deveria ser reproduzida tal qual ela era, com os instrumentos originais, acústicos. Outros achavam que para que essa música tivesse a mesma função que tinha originalmente, deveria ser atualizada para os tempos modernos. O Canzoniere del Lazio fez os dois.

O grupo, originalmente um quarteto que contava apenas com instrumentos acústicos, começou uma pesquisa do cancioneiro popular da região do Lácio. Em 1973 lançaram seu primeiro disco, Quando Nascesti Tune: cantos camponeses, urbanos, de amor, políticos e inclusive cantos anarquistas e comunistas. O álbum teve pouco sucesso, e a partir do ano seguinte abraçaram a eletricidade e se tornaram um dos principais nomes do folk progressivo italiano.


Tracklist:

01 - Tutti Ci Hanno Qualche Cosa
02 - So' Stato a Lavora'
03 - Se Tu Ti Fai Monaca
04 - Morte di Gesú
05 - Cu Trenta Carrini
06 - Bevi Bevi Compagno
07 - O Roma Roma
08 - Sabato Vado a Marino
09 - Oggiggiorno a Piglia Moglie
10 - So Stato Alla Montagna Alla Sibilla
11 - Quando Nascesti Tune
12 - Lavoro Tra Le Pecuri e Li Cani
13 - A Pennese
14 - Su Comunisti della Capitale
15 - Uno, Evviva Giordano Bruno

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Limiares [2012]



O Limiares é um projeto da Ibrasotope que consistiu na produção e gravação de três discos. A Ibrasotope é uma fundação criada no final de 2007 com o objetivo de incentivar a música de concerto experimental. Nesse projeto, três grupos de intérpretes e compositores ligados à música eletro-acústica tiveram a oportunidade de gravar seus trabalhos. Embora permaneça largamente ignorada pelo público geral, a música eletroacústica no Brasil tem uma história extensa, que começa em 1951 com os trabalhos de Reginaldo Carvalho. Com as novas possibilidades tecnológicas do século XXI, o gênero tem se transformado e expandido, e há uma safra de jovens compositores tentando explorar tudo o que for possível. Os três discos que formam o projeto são:

Duo Henrique Iwao-Mário del Nunzio - Trios & Quartetos

O Duo Henrique Iwao-Mário del Nunzio, diretores do Ibrasotope, existe oficialmente desde 2003, e se dedica à experimentação de novas possibilidades para a performance de eletrônica ao vivo. Embora também toquem peças compostas para a formação do duo (que inclui um sintetizador, uma tábua amplificada e vários aparelhos eletrônicos), grande parte de sua produção também é focada na livre improvisação.

O desafio para o disco Trios & Quartetos foi deslocar a prática da livre improvisação eletroacústica do palco - seu hábitat natural, onde todas as decisões são feitas na hora e a experiência presencial é tão importante quanto o próprio conteudo musical - para um álbum gravado, onde o resultado sonoro deve ser interessante mesmo após várias audições. Com a ajuda de convidados (um ou dois diferentes para cada faixa), o duo se desdobra em trios e quartetos e cria paisagens sonoras improvisadas distintas umas das outras, ditadas pela personalidade de cada músico. No final, os melhores takes foram selecionados, sem edição, para compor as faixas do álbum.


Tracklist:

01 - Quarteto 1, no. 2 (com Antonio Panda Gianfratti e Lucas Araújo)
02 - Trio 2, no. 7 (com César Villavicencio)
03 - Quarteto 2, no. 7 (com Matheus Leston e Pan&Tone)
04 - Trio 1, nos. 6 e 7 (com Matthias Koole)

Valério Fiel da Costa - Jogos Noturnos

Valério Fiel da Costa é paraense, estudou na Unicamp e ensina na Universidade Federal da Paraíba. Em Belém, foi membro do grupo de performance eletroacústica Artesanato Furioso; em São Paulo juntou-se como diretor musical ao grupo Teatro da Passagem e integrou o grupo de improvisação livre Ensemble Limite; em João Pessoa passou a fazer parte como professor e compositor do COMPOMUS.

Um especialista em técnicas de piano preparado e um estudioso de John Cage, Valério em suas composições coloca a partitura em um nível hierárquico inferior ao ouvido, à performance ou ao intérprete - em suma, a notação no papel deve servir como guia geral para que se atinja um resultado sonoro ideal, e não pode estar imune a modificar-se em função deste. Por isso as composições, feitas entre 2003 e 2009, recebem nesse disco versões singulares únicas do momento em que foram gravadas, em 2011.


Tracklist:

01 - Pranayama
02 - Sereias
03 - Kensho
04 - Marilia Range
05 - Silêncios, Peixes e Assombrações Sub-Aquáticas
06 - Matinais

Duo N-1 - Enemenosvideo

O Duo N-1 (lê-se "ene menos um"), formado por Alexandre Fenerich e Giuliano Obici, é um grupo que experimenta em todas as áreas que toca. A começar pelos instrumentos - segundo os próprios integrantes, o duo surgiu da "gambioluteria", a construção de dispositivos sonoros através da gambiarra. Não por acaso seu primeiro disco, lançado em 2009, chama-se Jardim das Gambiarras Chinesas.

Outro elemento chave do duo é a interação audiovisual. Suas performances, além dos objetos que produzem som, também incluem microcâmeras e retroprojetores. A gravação do álbum deixa de lado esse elemento, e acaba enfatizando as qualidades evocativas e mnemônicas do som. A obra em nove movimentos Rua de Lágrimas foi composta para servir de trilha sonora para o filme alemão de 1925, Die freudlose Gasse.

Tracklist:

01 - Surfing in Turntables
02 - Marulho Oceânico
03 - Rua de Lágrimas - Abertura
04 - Rua de Lágrimas - O Casal
05 - Rua de Lágrimas - O Escritório
06 - Rua de Lágrimas - Solilóquio e O Inferno
07 - Rua de Lágrimas - O Escriba
08 - Rua de Lágrimas - A Cidade
09 - Rua de Lágrimas - Ecos do Caos
10 - Rua de Lágrimas - Solilóquio Final



Clique na capa de cada disco para baixar.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Sambanzo - Etiópia


O primeiro filme alemão a juntar imagem e som foi um documentário experimental feito em 1929, chamado Melodia do Mundo. O filme de quase cinqüenta minutos não segue um roteiro linear, não tem narração, e consiste em uma colagem de cenas gravadas no mundo inteiro representando momentos do cotidiano: senhoras européias ajeitando seus cabelos em salões de beleza dão lugar a mulheres chinesas fazendo penteados tradicionais intrincados e marinheiros escalando mastros de navios transatlânticos dão lugar a rapazes de comunidades praieiras escalando coqueiros. A mensagem por trás dessas cenas sobrepostas é clara: as pessoas do mundo inteiro podem parecer diferentes no exterior, mas alguma coisa na essência une todos os povos.

Sambanzo: Etiópia, é a Melodia do Mundo. O projeto foi idealizado pelo saxofonista Thiago França, e executado por mais quatro músicos que estão entre os mais prolíficos de São Paulo nos últimos anos: o violonista, guitarrista, cantor e compositor Kiko Dinucci, o baixista e produtor Marcelo Cabral, o percussionista Samba Sam e o baterista Wellington Moreira "Pimpa". Esses músicos estão intimamente ligados à linha de frente da música paulista atual, acompanhando e produzindo, em diversos momentos, artistas como Criolo, Romulo Fróes, Céu, Lurdez da Luz, Instituto, Gui Amabis e tantos outros, além de desenvolverem seus próprios projetos. A maior parte desses projetos se dedica à exploração das possibilidades da música popular brasileira de raiz, muitas vezes chegando até a África colonial nessa expedição. O Sambanzo não é muito diferente, mas aborda o tema de maneira diferente. Pra começar, o disco é instrumental - quem canta é o sax de Thiago França. E agora a África não é apenas a África colonial distante, dos cantos de escravos: é a África contemporânea, modernizada, contestadora, a África de Fela Kuti e seu exército de saxofonistas, a África "que a gente idealizou como a meca do suingue", nas palavras de Thiago.

E como se fossem cenas de um filme, um tema africano dá lugar sutilmente a uma melodia oriental, um ponto de umbanda dá lugar a um groove caribenho, uma levada de reggae se transforma numa guitarrada. Antes dos créditos finais, a mensagem do disco fica clara: a Etiópia pode parecer um lugar muito diferente de São Paulo, mas alguma coisa, na essência, como se fosse uma melodia do mundo, une todos os povos.

***

O disco foi disponibilizado para download pelo próprio Thiago França no blog http://sambanzo.blogspot.com/ , e se encoraja que todos façam o mesmo. O único favor que se pediu é que quem quiser disseminar o disco pela internet use o mesmo link que ele criou, para garantir a qualidade de 320kbps dos arquivos mp3 e para que ele saiba quantas pessoas baixaram o disco. O link você encontra aqui ou clicando na capa do álbum no começo do post.


Tracklist:


01 - O Sino da Igrejinha
02 - Xangô
03 - Tilanguero
04 - Capadócia
05 - Xangô da Capadócia
06 - Etiópia
07 - Risca-Faca

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sábado, 3 de março de 2012

Aníbal Sampayo & Demetrio Ortiz - Arpa Paraguaya [1967]


Durante o período colonial da América do Sul, as tradições européias que chegava ao novo continente se misturavam com as tradições que já existiam, se transformavam, se reconfiguravam e se remoldavam. Muitos elementos da cultura ocidental de hoje em dia vêem dessa miscigenação - que acontecia dos dois lados. Um exemplo é o gênero barroco da passacaglia, que remete quase que imediatamente à Europa dos séculos XVII e XVIII - até Bach escreveu uma. Entretanto, muito provavelmente a passacaglia nasceu como um tipo de música popular mexicana por volta do século XVI.

Outra conseqüência desse intercâmbio foi a introdução da harpa barroca na América Latina. Isso levou à criação de algumas tradições do uso da harpa como instrumento popular em lugares esparsos do continente: nos Andes, no México, na Colômbia, na Venezuela e no Paraguai. Destes lugares, talvez o lugar com a tradição de harpa mais forte seja o Paraguai, onde ela é considerada o instrumento nacional - e atingiu uma moderada fama internacional com o grupo Los Paraguayos, que desde os anos 50 têm sido os principais porta-voz da música paraguaia.

Um dos principais nomes da música popular paraguaia é o compositor, cantor e violonista Demetrio Ortiz, autor de Mis Noches Sin Ti, seu maior sucesso, e Recuerdos de Ypacaraí, gravada inclusive por Caetano Veloso. Nesse disco de 1967, ele se junta a Aníbal Sampayo, um dos principais harpistas do Uruguai para prestar uma homenagem a essa tradição tão antiga, num disco que passeia entre melodias em espanhol e guarani, as línguas oficiais do Paraguai, e sonoridades que às vezes parecem exóticas e às vezes soam surpreendentemente familiares.


Tracklist:

01 - Mis Noches Sin Tí
02 - Amor Imposible
03 - Boquita de Miel
04 - Mburucuya
05 - Quisiera Decirte
06 - Teresita Mía
07 - Quiero Besar Tus Manos
08 - Yo No Sé Porqué
09 - Junto a Mí
10 - Tu Cabeza en Mi Hombro
11 - Al Verte de Nuevo
12 - Te Sigo Esperando
13 - Cuando Estoy Contigo
14 - Mi Asunción Porã

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