quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Pedro Osmar e Loop B - Farinha Digital [2007]


Na música, a maior parte das coisas que deram os resultados mais interessantes surgiram a partir da fusão de elementos contrastantes, muitas vezes até opostos e à primeira vista inconciliáveis. Visto daí, esse disco deve ser uma das obras mais interessantes desse começo de século.

Por um lado, temos Pedro Osmar, paraibano, veterano de música experimental com o Jaguaribe Carne, fundado em 1974, um dos primeiros e até hoje ainda poucos praticantes da livre improvisação no estado. Sua especialidade são percussões, violas, violões, a sonoridade acústica da música popular nordestina. Junto a ele, temos Loop B. Paulista, programador de sons, um mestre da música eletrônica, dos samples, do que há de mais moderno em relação à tecnologia musical. Dois perfis aparentemente tão distantes, mas na verdade muito próximos, graças ao prazer pela experimentação. Entre a instrumentação usada por Loop B, além dos xing lings eletrônicos temos uma geladeira, uma furadeira, um bujão, um tanque de chevette (que aparece ligado num pedal delay) cápsulas vazias de balas de canhão, um serrote, um monitor de computador, um painel de carro, uma placa e uma espada de brinquedo.

Entretanto, se você espera um disco barulhento, experimentações que vão longe demais e não chegam em lugar nenhum, aquela excentricidade pelo mero prazer da excentricidade, está enganado. O cuidado com a sonoridade é tão grande que mal dá pra notar que tem um tanque de chevette cantando - algumas músicas quase beiram o easy-listening. Um disco para provar que não necessariamente o que é experimental é barulhento e que nem necessariamente o agradável tem que ser simples e desinteressante - uma concepção comum entre os experimentadores mais brabos.


Tracklist:

01 - Farinha Digital
02 - Ninguém Leva Nada a Sério
03 - Suíte Negona
04 - Racuntá
05 - Que Carro de Boi é Esse?
06 - Nordeste Indiano
07 - Pirão de Viola
08 - Nega Dida
09 - Maracatu Colibri
10 - Tema de Lira
11 - Uma Espada ou Tosse

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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Quaternaglia - Quaternaglia [1995]

O Quaternaglia Guitar Quartet é um dos, senão o mais importante quarteto de violões do Brasil. Formou-se em 1992, em São Paulo, e passou seus primeiros anos de existência estudando, experimentando e transcrevendo peças para a linguagem pouco usual do quarteto de violões. Em 1995 gravaram seu primeiro CD e em 1998 ganharam o "Ensemble Prize" do Concurso Internacional de Violão de Havana, em Cuba. Começou então uma carreira internacional e o reconhecimento como autoridades dessa linguagem musical - tanto na música erudita quanto em arranjos de música popular -, tendo trabalhado junto a compositores como Egberto Gismonti e Leo Brouwer, um dos principais compositores de violão do século XX.

Seu CD de estréia, o homônimo Quaternaglia, foi um marco. Trouxe interpretações das três únicas obras de Leo Brouwer até então para quarteto de violões, formação com a qual o compositor estava experimentando; transcrições feitas por Sérgio Abreu de obras de Villa-Lobos; oito peças do compositor russo Igor Stravinsky e uma suite escrita especificamente para o grupo, a Suiternaglia de Estércio Marquez Cunha. Estabeleceu um nível de interpretação e sonoridade para o violão brasileiro da segunda metade da década de 90, e consolidou o formato do quarteto.


Tracklist

01 - Heitor Villa-Lobos - Bachianas Brasileiras no. 1 - Embolada
02 - Heitor Villa-Lobos - Modinha (Prelúdio)
03 - Heitor Villa-Lobos - Conversa (Fuga)
04 - Heitor Villa-Lobos - A Lenda do Caboclo
05 - Leo Brouwer - Paisaje Cubano con Rumba
06 - Leo Brouwer - Toccata
07 - Igor Stravinsky - March
08 - Igor Stravinsky - Waltz
09 - Igor Stravinsky - Polka
10 - Igor Stravinsky - Andante
11 - Igor Stravinsky - Española
12 - Igor Stravinsky - Balalaika
13 - Igor Stravinsky - Napolitana
14 - Igor Stravinsky - Galop
15 - Estércio M. Cunha - Suiternaglia
16 - Leo Brouwer - Paisaje Cubano con Lluvia

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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Hermigervill - Lausnin [2003]


Escutando bandas da Islândia, dá pra chegar à conclusão de que o clima de um país talvez realmente influencie na sua música. Quando se fala em Islândia todo mundo lembra de Björk, Sigur Rós, múm, e é sempre aquela coisa meio etérea, meio flutuante, meio de outro mundo. A Islândia realmente é um país meio à parte do resto do mundo. É desse mundo paralelo que vem Hermigervill. O DJ da capital islandesa Reykjavík faz uma música eletrônica não muito diferente do normal, nada de experimental, mas de uma beleza incomum para o gênero. Um trip-hop quente, mas não nosso calor tropical, o calor de quem está aquecido num frio abaixo de zero, um frio confortável e contido.

Lausnin, lançado em 2003, foi seu primeiro disco (já fez três ao todo, até hoje). Em meio a batidas tradicionais de trip-hop, um contraponto de timbres cuidadosamente escolhidos formam aos poucos uma teia atmosférica envolvente. Lá pela metade do disco já se está tão sugado pela música que quase dá pra entender os poucos vocais em islandês.

Para escutar de preferência em algum lugar mais ou menos assim.

Tracklist:

01 - Upphitun
02 - Hristikista
03 - Eggjahvíta
04 - Tímabundin Tilviljun
05 - Brauð í Bobba
06 - Hávaðaseggurinn
07 - Bommlinn
08 - Gulur froskur
09 - Fermingarfræðsla
10 - Náttblinda
11 - Stolið frá pabba
12 - Furðufuglar
13 - Augun Endurgerð
14 - Frónbútar
15 - Drops
16 - Vorkvöld í París
17 - Yamaha Yoga

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Coletivo Rádio Cipó - Formigando na Calçada do Brasil [2005]


O Coletivo Rádio Cipó é na minha humilde opinião uma das melhores bandas que esse país já viu. Em alguns posts anteriores eu já citei um grupo de bandas que surgiram a partir dos anos 90, cada uma em um canto do Brasil, que têm uma característica em comum: a fusão de música pop moderna (rock, dub, hip-hop, jazz) com elementos tradicionais da cultura local. A mais famosa é sem dúvida nenhuma Chico Science & Nação Zumbi, talvez por ter sido uma das primeiras. Na Paraíba temos várias: As Parêa, Tocaia da Paraíba e Cabruêra (especialmente na época em que Zé Guilherme era a força criativa); no Ceará, o Maracatu Vigna Vulgaris, e provavelmente vários outros estados devem ter suas versões. A do Pará é o Coletivo Rádio Cipó .

A centelha inicial do Coletivo Rádio Cipó foi em 2001, quando começaram as primeiras experimentações e brincadeiras sonoras. A coisa evoluiu, fizeram oficinas de percussão e ritmos eletrônicos, e durante quatro meses chegaram inclusive a ter uma rádio pirata, a Rádio Cipó, no bairro da Pedreira que foi devidamente recolhida pelas autoridades. Mas a partir daí a coisa só cresceu - eles não se dizem uma "banda", mas um "núcleo de produção de mídias sonora, vídeo e arte". Em 2004, o coletivo estava pronto para gravar um disco. Esse período do grupo foi quase um happening em Belém. A integração entre o global e o popular e entre o urbano e o periférico foi muito mais abrangente do que com a Nação Zumbi. O processo contou com duas figuras históricas e até então mais ou menos obscuras da música paraense: Dona Onete, nascida em 1939 e cantora desde os nove anos, compositora de matutos, pássaros, quadrilhas, boi bumbás, sambas e carimbós; e o Mestre Laurentino, nascido em 1926, de acordo com o site da banda "completou 81 anos de vida e 60 de carreira sem ter gravado um único disco – um autêntico marginal". Cantadores populares acompanhados de uma band de electro-rap dub/jazz ou como você quiser chamar, letras que vão de jovem encontrado morto em rave após ter fritado a noite inteira a toda vez que eu vejo você meu corpo se desloca nas ondas da pororoca. Um espetáculo raríssimo, e muito bonito de se ver.


Tracklist:

01 - Cowboy Sem Lei
02 - Matinha do Cruzeiro
03 - Foguete
04 - Majey - o Terror do Setor
05 - Brasil Especial
06 - Me Considera
07 - Homem Sem Baralho
08 - Planeta Canal
09 - Choque Elétrico Piau
10 - Maresia
11 - Amor Brejeiro
12 - Paixão Cabocla
13 - Louirinha Americana versão DubMix

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domingo, 21 de agosto de 2011

Maria Farantouri & John Williams - Songs of Freedom [1971]


Esse disco, que veio à tona em plena época de ditadura militar na Grécia, guerra do Vietnã e ainda no embalo sessentista de contra-cultura, protesto e consciência política, junta três músicos importantíssimos.

John Williams (que não é o mesmo John Williams que faz trilhas sonoras hollywoodianas) é um violonista clássico australiano, considerado junto com Julian Bream um dos melhores violonistas do século XX. É conhecido pela sua técnica impecável, pelo seu som limpo e brilhante, por fazer o violão soar como um piano. Além de sua carreira monumental na música clássica, a partir dos anos 70 ele também se aventurou na música pop, teve um grupo (meio brega, pra ser sincero) de jazz fusion, o SKY, que fez coisas como uma versão rock-anos-80 da Toccata e Fuga em Ré menor de Bach. E em 1971, se juntou a uma cantora grega para protestar contra a ditadura.

Maria Farantouri nasceu em Atenas em 1947. Começou sua carreira aos dezesseis anos, descoberta por Mikis Theodorakis, e encabeçou com ele um movimento de ressureição da música folclórica grega, com suas raízes bizantinas, porém com letras feitas por poetas contemporâneos, e alinhada ao movimento de folk de protesto dos Estados Unidos, com Bob Dylan e Joan Baez, e também no Brasil, com Nara Leão e Maria Bethânia no começo da carreira. Maria, com sua voz grave e forte, era um porta-voz feroz da situação política da Grécia. Em 1967, quando começa a ditadura militar, a música de Theodorakis é proibida no país, e Maria tem de fugir. Mikis Theodorakis é um compositor mais famoso pelas trilhas sonoras de Zorba, o Grego e de Z, um filme político sobre a ditadura grega. Embora seja músico, desde cedo foi um ativista político. Foi preso pelos nazistas durante a ocupação da Grécia, depois foi preso pelo regime monarquista durante a Guerra Civil da segunda metade da década de 1940, e foi preso duas vezes pela ditadura dos anos 60. Nessa jornada ele foi torturado, enterrado vivo, exilado em ilhas distantes e expulso do país. Nada mais natural que ele se tornasse o idealizador do movimento político de canções políticas, tentando mostrar que a arte tem uma ligação estreita com o dia-a-dia de uma sociedade.

Em 1971, quando Maria e Mikis estavam exilados, se juntaram a John Williams para gravar esse disco, Songs of Freedom, no melhor estilo voz e violão. Mas não qualquer voz nem qualquer violão. No meio do disco, há quatro peças instrumentais tocadas por Williams, do ciclo de Epitáfios de Theodorakis, em homenagem às vítimas de uma operação policial que reprimiu e matou dezenas de manifestantes numa greve de operários da indústria de tabaco em 1936. Além disso, há varias poesias de Federico García Lorca traduzidas para o grego e musicadas por Mikis. Embora as letras em grego não seja compreendidas facilmente pela maior parte das pessoas, esse disco é talvez uma das obras mais fortes pela liberdade produzidas pelos anos 60.

Abaixo, o primeiro show de Theodorakis e Farantouri depois de seu retorno à Grécia, cantando To Yelasto Pedi, "O Garoto Sorridente", trilha sonora de Z e hino contra a ditadura grega:


Tracklist:

01 - Tou Pikramenou [O Triste]
02 - Antonio Torres Xepentia I [Captura de Antoñito el Camborio]
03 - Antonio Torres Xepentia II [Morte de Antoñito el Camborio]
04 - Xamos Apo Agapi [Perda pelo Amor]
05 - I Kalogria i Tsingana [A Freira Cigana]
06 - Tou Anemou [O Vento]
07 - I Pandermi
08 - Epitafios no. 2
09 - Epitafios no. 3
10 - Epitafios no. 4
11 - Epitafios no. 5
12 - To Yelasto Pedi [O Garoto Sorridente]
13 - Silva
14 - Irthan i Anthropoi [Os que foram levados pela estrada]

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sábado, 13 de agosto de 2011

Marcelo Kayath - Guitar Classics from Latin America Vol. 01 [1987] e Vol. 02 [1992]


Marcelo Kayath, nascido em Belém do Pará em 1964 e criado no Rio de Janeiro, é um dos violonistas clássicos mais impressionantes do país, com uma história igualmente interessante. Começou a estudar música por insistência de sua mãe, pianista. Não gostava de piano, e por ser fã dos Beatles pediu à mãe uma guitarra - em vez disso ela lhe comprou um violão. Segundo ele, começou a estudar violão tarde: aos doze anos. Estudou com os melhores professores do Rio, entre os quais o mundialmente conhecido Turíbio Santos. Durante o tempo que estudou violão, conheceu figuras como Sérgio Abreu, ex-integrante do Duo Abreu, hoje famoso luthier. Por se sentir tão inferior tecnicamente às pessoas que ele conhecia, adotou um nível de exigência altíssimo consigo mesmo, e começou a estudar fanaticamente. Aos 16 anos, após apenas quatro anos de estudo de violão clássico, venceu o concurso internacional de violão Villa-Lobos, que acontecia no Rio. Foi quando Turíbio sugeriu que ele fosse para fora do país. Trancou a faculdade de Engenharia, e estudou durante um ano com a meta clara de passar nos concursos internacionais. No mesmo ano, venceu os concursos da Rádio de Paris e de Toronto, feito nunca antes alcançado.

A partir daí começou sua carreira internacional nas salas de concerto e no estúdio. Aí também ele decidiu tirar o máximo de proveito da situação: em sua brevíssima carreira, que abrangeu apenas a segunda metade da década de 80, gravou seis discos (quatro deles no intervalo de quinze meses) e viajou o mundo inteiro, adquirindo uma técnica e uma musicalidade que pareciam vir de outro mundo. Mas tão abruptamente quanto ele se jogou nessa carreira, Kayath desistiu dela. A rotina estressante de um concertista, estudando em quartos de hotel, tratando com agentes e empresários e no fim das contas mexendo tão pouco com música, acabou afugentando Marcelo. Alguns anos depois, se tornara o Co-CEO do Credit Suisse.

Sua carreira rápida e intensa deixou uma marca profunda na música clássica brasileira, mas hoje poucos o conhecem. Kayath faz parte de um grupo de violonistas quase em extinção que pensa no violão como uma "pequena orquestra", com uma variedade enorme de timbres e possibilidades a serem exploradas - e não como um piano, em que cada nota só tem um timbre, preciso e imponente. Na contramão da tendência de sons de violão cada vez mais precisos, enxutos e secos, Kayath nos trouxe um legado cheio de sentimento, expressão, nuances e colorido. (Leia mais aqui sobre a concepção do som do violão de Marcelo Kayath)

Esses dois discos são coleções de música de violão latino-americana. O primeiro volume traz de João Pernambuco a Astor Piazzolla, enquanto o segundo volume foca no mexicano Manuel María Ponce e no paraguaio Agustín Barrios, dois dos principais compositores de violão do final do período romântico.






Guitar Classics from Latin America Vol. 01
Tracklist:

01 - M. M. Ponce - Valse
02 - Astor Piazzolla - La Muerte del Ángel
03 - Agustín Barrios - Vals op. 8, no 3
04 - Agustín Barrios - Choro da Saudade
05 - Agustín Barrios - Julia Florida
06 - Antonio Lauro - Vals Venezolano no. 2
07 - Antonio Lauro - El Negrito
08 - Antonio Lauro - El Marabino
09 - Leo Brouwer - Canción de Cuna
10 - Leo Brouwer - Ojos Brujos
11 - João Pernambuco - Sons de Carrilhões
12 - João Pernambuco - Interrogando
13 - Dilermando Reis - Se Ela Perguntar
14 - João Pernambuco - Sonho de Magia
15 - Heitor Villa-Lobos - Prelúdio no 1 em mi menor
16 - Heitor Villa-Lobos - Prelúdio no 2 em mi maior
17 - Heitor Villa-Lobos - Prelúdio no 3 em lá menor
18 - Heitor Villa-Lobos - Prelúdio no 4 em mi menor
19 - Heitor Villa-Lobos - Prelúdio no 5 em ré maior

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Guitar Classics from Latin America Vol. 02
Tracklist:

01 - Agustín Barrios - Mazurka Apassionata
02 - Agustín Barrios - Danza Paraguaya
03 - Agustín Barrios - Tango no 2
04 - Agustín Barrios - Confesión-Romanza
05 - Agustín Barrios - La Catedral: Prelúdio
06 - Agustín Barrios - La Catedral: Andante Religioso
07 - Agustín Barrios - La Catedral: Allegro
08 - Agustín Barrios - Study in b minor
09 - Agustín Barrios - Study in A "Las Abajas"
10 - Agustín Barrios - Tremelo - Una Limosna por el Amor de Diós
11 - M. M. Ponce - Preambulo & Allegro
12 - M. M. Ponce - Gavotte
13 - M. M. Ponce - Suite in a minor: Preludio
14 - M. M. Ponce - Suite in a minor: Allemande
15 - M. M. Ponce - Suite in a minor: Sarabande
16 - M. M. Ponce - Suite in a minor: Gavotte
17 - M. M. Ponce - Suite in a minor: Gigue
18 - M. M. Ponce - Balletto
19 - M. M. Ponce - Mazurka

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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

João Cassiano - Nômade Riddim Vol. 04 [2011]


João Cassianoteve um post aqui, com os três primeiros volumes dessa série. Trago-vos o recém lançado quarto volume.

Além de seus trabalhos com a ChicoCorrea & Electronic Band e com a Cia. Lunay, Cassiano também tem seu projeto solo de música eletrônica, quando deixa de lado a percussão pela qual é mais conhecido. O projeto é um conjunto de beats eletrônicos sentados ali na fronteira entre o lo-fi e o bem produzido, e entre o experimental e o massificado. Entre uma linha de synths dissonantes e outra, vem uma virada de bateria digna de swingueira. É uma grande compilação em homenagem à música do terceiro mundo, afundado numa espiral de globalização e pobreza, uma homenagem àquelas músicas que são tão marginalizadas quanto o morador da Rocinha no Rio ou do bairro do Rangel de Luanda, do funk carioca ao bhangra à música bérbere eletrônica do Maghreb. É fácil imaginar que a música da série Nômade Riddim, primitiva, repetitiva, hipnótica, poderia ser tocada por tribos africanas de séculos atrás se eles tivessem turntables e synths. É uma rave no deserto do Senegal.

Tracklist:

01 - Amor Tropical
02 - Loa
03 - Wooblezabumba
04 - Lajedo
05 - Boda Boda
06 - Cobra 0.9
07 - As Caveiras Se Levantam (Tututu Riddim)
08 - Sertão

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Os Carioquinhas - Os Carioquinhas no Choro [1977]


Os Carioquinhas já seria um grupo historicamente importante para a música brasileira só pelo fato de ter sido o primeiro grupo do qual participou Raphael Rabello, um dos violonistas mais geniais do Brasil dos últimos tempos. Os Carioquinhas se juntaram pela primeira vez em 1975, por idéia dos irmãos Raphael e Luciana Rabello: ele com 12 anos e ela com 14. Os únicos da idade deles que gostavam de chorinho. Depois de muito tempo procurando, encontraram os nomes que faltavam e completaram o grupo, que também contou com Maurício Carrilho e Celso do Pandeiro.

Embora fosse basicamente um grupo de adolescentes, Os Carioquinhas impressionavam todo mundo e até faziam os mais velhos chorar. Em 1976, já encontraram emprego, e fizeram seu primeiro show na quadra da Mangueira. A partir daí, choveram convites de gravadoras. Mas em plena década de 1970, um monte de criança tocando choro não era exatamente o que as pessoas procuravam - a maior parte dos contratos queriam que eles tocassem rock em ritmo de choro. No final aceitaram o convite da Som Livre, que os deixou escolher seu próprio repertório. O resultado foi essa pérola do choro brasileiro, que pra quem escuta poderia muito bem ter sido tocada pelos chorões mais experientes do bairro.

O grupo acabou em 1978, no meio das brigas entre os meninos. Joel Nascimento chamou a base do grupo (inclusive os dois irmãos) para tocar um arranjo de uma suite de bandolim que tinha pedido ao maestro Radamés Gnattali, que no começo achou que não ia dar certo. No final, o maestro se emocionou e acabou querendo tocar com o novo grupo, que foi batizado de Camerata Carioca. A partir daí, começou uma relação estreita entre Radamés e Raphael, que foi indispensável para a formação do violonista, que virou quem virou.

Abaixo, trecho de entrevista de Raphael no Jô Soares, em que ele menciona Os Carioquinhas:


Tracklist:

01 - Gadu Namorando
02 - Carolina
03 - Fala Clari
04 - Santa Morena
05 - Assim Mesmo
06 - Ansiedade
07 - Os Carioquinhas no Choro
08 - Não Gostei dos Seus Modos
09 - Flausina
10 - Intrigas no Boteco do Padilha
11 - Chora Bandolim
12 - Minha Lágrima

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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Kayu - Kayu [2003]


A banda Kayu surgiu em março de 2002, na Holanda. A palavra kayu é tailandesa, e significa madeira: a matéria prima de todos os instrumentos da banda, que tem uma formação estritamente acústica, com instrumentos convencionais ou exóticos, como o didgeridoo, a setâr, o udu ou o berimbau. O som é aquela world music pós-new age, aquele entusiasmo europeu pela música folclórica dos países distantes. As influências vão desde música nórdica a baladas célticas até música tradicional do Irã, as línguas em que eles cantam vão de farsi e norueguês até línguas inventadas ("línguas sonoras") que se baseiam mais em som do que em sentido. Esse disco homônimo, gravado em 2003, foi seu primeiro registro sonoro.

Tracklist:

01 - Kereki Optan
02 - Die Weise
03 - Mushtiva
04 - Odayé
05 - Parvaz
06 - Ažida

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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Paolo Fresu - Sonos 'e Memoria [2001]


Paolo Fresu é atualmente um dos principais trompetistas de jazz da Italia. Nasceu em 1961 na minúscula cidade de Berchidda, na ilha da Sardenha, que permaneceu como forte influência musical. Começou a carreira com música pop, até descobrir o jazz no começo dos anos 80, e ter dedicado todos os seus esforços ao gênero – porém não se limitando ao óbvio do gênero. Fresu, em sua extensíssima discografia, explorou dentro da linguagem jazzística a música popular sarda, música antiga e música étnica do mundo inteiro. Essas pesquisas e experimentações já lhe renderam comparações inclusive com Miles Davis.

Gianfranco Cabiddu é um cineasta também da Sardenha, que no começo dos anos 2000 estava trabalhando em algum projeto quando encontrou um arquivo de filmes com cenas da Sardenha entre as décadas de 1930 e 1950. A partir daí nasceu o projeto do Sonos 'e Memoria, para o qual Paolo Fresu foi chamado para compor a trilha sonora. O resultado foi um curta-metragem de 25 minutos, com uma colagem dessas cenas ambientadas pela música de um grupo de jazz étnico sardo. As imagens mostram desde as atividades mais artesanais, como mulheres tecendo lã e depenando galinhas, até os trabalhadores de fábricas das indústrias da época – um registro um pouco histórico e um pouco romântico de um Sardenha que só existe na memória dos mais velhos.




Tracklist:

01 - Pregadoria
02 - Freentry
03 - Ballu
04 - Sa Pastorina
05 - Salisolo
06 - Wanderlust
07 - Mi e La
08 - Ite Bella
09 - Filugnana
10 - Bass 'n' Drum
11 - Sonos 'e Memoria

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