Na música, a maior parte das coisas que deram os resultados mais interessantes surgiram a partir da fusão de elementos contrastantes, muitas vezes até opostos e à primeira vista inconciliáveis. Visto daí, esse disco deve ser uma das obras mais interessantes desse começo de século.
Por um lado, temos Pedro Osmar, paraibano, veterano de música experimental com o Jaguaribe Carne, fundado em 1974, um dos primeiros e até hoje ainda poucos praticantes da livre improvisação no estado. Sua especialidade são percussões, violas, violões, a sonoridade acústica da música popular nordestina. Junto a ele, temos Loop B. Paulista, programador de sons, um mestre da música eletrônica, dos samples, do que há de mais moderno em relação à tecnologia musical. Dois perfis aparentemente tão distantes, mas na verdade muito próximos, graças ao prazer pela experimentação. Entre a instrumentação usada por Loop B, além dos xing lings eletrônicos temos uma geladeira, uma furadeira, um bujão, um tanque de chevette (que aparece ligado num pedal delay) cápsulas vazias de balas de canhão, um serrote, um monitor de computador, um painel de carro, uma placa e uma espada de brinquedo.
Entretanto, se você espera um disco barulhento, experimentações que vão longe demais e não chegam em lugar nenhum, aquela excentricidade pelo mero prazer da excentricidade, está enganado. O cuidado com a sonoridade é tão grande que mal dá pra notar que tem um tanque de chevette cantando - algumas músicas quase beiram o easy-listening. Um disco para provar que não necessariamente o que é experimental é barulhento e que nem necessariamente o agradável tem que ser simples e desinteressante - uma concepção comum entre os experimentadores mais brabos.
Tracklist:
01 - Farinha Digital
02 - Ninguém Leva Nada a Sério
03 - Suíte Negona
04 - Racuntá
05 - Que Carro de Boi é Esse?
06 - Nordeste Indiano
07 - Pirão de Viola
08 - Nega Dida
09 - Maracatu Colibri
10 - Tema de Lira
11 - Uma Espada ou Tosse
Clique na capa do álbum pra baixar
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