quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Orquestra de Tambores de Alagoas - Bantus e Caetés [2008]


A Orquestra de Tambores de Alagoas, mais do que só uma orquestra, é um laboratório de experimentações sonoras e de resgate de tradições. A própria formação do grupo, em 2004, explica isso. O mentor e "regente" da orquestra é o percussionista alagoano Wilson Santos, que desde 1989 se dedica ao estudo da tradição percussiva africana. A partir de oficinas e aulas que ministrava, juntou alguns de seus alunos e a orquestra estava formada - e o enfoque já não era apenas a música africana, mas a sua influência no Brasil. A tradição de música popular alagoana é em parte o fruto do encontro de duas culturas distintas: os escravos bantus trazidos da África subsaariana e os índios caetés, que habitavam a região de Alagoas. Essa dupla influência é o enfoque desse disco de 2008.

O duplo eixo de trabalho da Orquestra - tradição e experimentação - talvez seja a principal razão do resultado sonoro ser tão interessante. O grau de intimidade com o trabalho começa da matéria prima: assim como os bantus e caetés de séculos atrás, os membros da Orquestra de Tambores constroem seus próprios instrumentos. A pesquisa musical, histórica e cultural é extensa, a música é feita com a propriedade de quem vive aquele contexto. E ao mesmo tempo, há espaço para o moderno. Efeitos eletrônicos, instrumentos não convencionais e todas as sonoridades que só o século XXI pode nos proporcionar. Mas nada soando fora do lugar.

Vale mencionar a participação especial de Naná Vasconcelos na última faixa, Mundo Nagô.


Tracklist:

01 - Áyàn Enluará
02 - Tempestade Festa
03 - Zumba
04 - Helena
05 - Banzo
06 - Ação Dinâmica ao Caçador
07 - Tambor ou Bola
08 - Luanda pra Cá
09 - Ancestralidade
10 - Zé
11 - Dandalunda
12 - Baianá
13 - Mooyo (Horizontal)
14 - Mundaú-Nagô

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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Pedro Santos - Viva Pedro Santos! Antologia Musical [2005]


O post de hoje vem comemorar uma coisa e homenagear outra. A comemoração é modesta: é só porque um ano atrás publiquei a primeira postagem desse blog. Eu até imaginei que o blog fosse dar uma crescidinha com o tempo, mas foi bem mais rápido do que eu pensava: obrigado a vocês que vieram baixando as coisas nesse último ano. Como eu disse lá na introdução ao blog, não fiz nenhuma escolha consciente por algum tipo de música específico para as postagens do blog, mas os padrões aparecem e, querendo ou não, acabei priorizando a música paraibana - de preferência aquela que não seja (ou não seja mais) tão divulgada por aí.

O que nos leva ao homenageado da vez. Vinte e cinco anos atrás, no dia 29 de agosto, faleceu o maestro amazonense Pedro Santos (não confundir com o percussionista carioca Pedro Sorongo Santos). Nasceu em Manaus em 1932, e em 1958 se radicou permanentemente em João Pessoa. O rapaz, um careca-cabeludo de jeans, camisa xadrez e sandálias franciscanas, tinha tido aulas com ninguém menos do que Heitor Villa-Lobos. Ao chegar na Paraíba, tornou-se um dos principais agentes de movimentação cultural. A lista de contribuições é extensa: fundou inúmeros corais, regeu inúmeras orquestras e grupos de câmara, fundou cineclubes, fez trilhas sonoras pra teatro e cinema e ainda foi professor e jornalista. Junto a Elpídio Navarro e Altimar Pimentel, foi um dos responsáveis por levar o teatro paraibano a um patamar de reconhecimento nacional durante cerca de três décadas.

Sem nem ao menos ter um piano em casa, compôs um número enorme de obras - canções de natal, missas, músicas folclóricas, música de vanguarda, sambas, choros, aboios... Uma produção tão vasta que espanta que hoje em dia ele seja tão pouco lembrado. Talvez ele seja, junto a José Alberto Kaplan, uma das figuras mais importantes para a música paraibana da segunda metade do século XX. Essa antologia, em forma de CD duplo, foi feita numa tentativa de resgatar o legado do maestro de jeans. Foi um esforço coletivo de vários músicos paraibanos, populares e eruditos, novos e velhos, amigos íntimos de Pedro e pessoas que nunca tinham ouvido falar dele. Eu na minha pequenez tento fazer a minha parte, introduzindo finalmente esse trabalho à era da internet.

Os agradecimentos dessa postagem vão a Nara Limeira, filha de Pedro que gentilmente disponibilizou o CD ao blog.

Abaixo, uma versão da música Zefa Cajá, feita para o filme Menino de Engenho de Walter Lima Jr., tocada pela banda de Cajazeiras Tocaia da Paraíba:


Tracklist:

CD 1

01 - Depoimento de Pedro Santos

Músicas do filme Romeiros da Guia (1962)
02 - Fugato sobre um Tema Folclórico
03 - Tema para Assobio

Músicas do filme Menino de Engenho (1965)
04 - Dobrado
05 - Primeira Valsa
06 - Juraci
07 - Segunda Valsa
08 - Zé Cotia
09 - Maxixe
10 - Zefa Cajá

Músicas do filme A Volta Pela Estrada da Violência (1971)
11 - Desfile
12 - Adágio
13 - Marcha

Música do filme O Salário da Morte (1970)
14 - Canção de Serviço

Missa de Nossa Senhora do Carmo (1966)
15 - Senhor
16 - Glória
17 - Credo
18 - Santo e Bendito
19 - Cordeiro de Deus

20 - Canaro Cantadô (1958)
21 - Cantiga (1956)
22 - Hino do Centenário da Cidade de Cajazeiras
23 - Hino da Escola de Serviço Social (1958)
24 - A Criação

CD 2

Suíte para Banda (sem data)
01 - Abertura
02 - Valsa
03 - Choro
04 - Bela Infanta

Músicas da peça Viva a Nau Catarineta (1970)
05 - Bela Infanta
06 - Saudades
07 - A Mulher do Mestre
08 - Trabalha Marujo
09 - Homens do Mar

Músicas da peça O Auto de Maria Mestra (1967)
10 - É Paz na Terra
11 - No Mundo Há Promessas
12 - Velho Lucas
13 - Vamos, Companheiras!

Músicas da peça Coiteiros (1983)
14 - A Princesa
15 - A Fome
16 - A Estrela

Músicas da peça O Auto da Cobiça (1970)
17 - Ao Senhor Dono da Casa
18 - Baiano
19 - Aboio
20 - Na Testa do meu Garrote
21 - Despedida

22 - Feliz Natal (1984)
23 - Canto de Natal (1955)
24 - Suíte Lapinha

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terça-feira, 22 de novembro de 2011

The Flying Luttenbachers - The Void [2004]


The Flying Luttenbachers foi uma banda de Chicago que em seu tempo de vida de 1991 a 2007 se tornou uma referência local de tudo o que é dissonante. Começou como um trio de punk jazz (saxofone, trompete e bateria), e um ano depois de sua origem começou sua fase eterna de instabilidade de pessoas saindo e entrando da banda. O membro condutor da história, o único que esteve lá do começo ao fim, foi o baterista Weasel Walter - que hoje toca em bandas de metal experimental como Behold... the Arctopus.

O som da banda mudou muito com o tempo, mas permaneceu o mesmo. Weasel Walter inventou um nome pro que eles fazem: brutal prog. Em seus anos em Chicago, a banda agregou os músicos mais interessantes do free jazz e do rock experimental da cena local, o que fez o som crescer muito. A partir de 1996, a banda começou a trabalhar em um tema só: a aniquilação do planeta Terra, as conseqüências dessa aniquilação e o embate intergalático entre duas entidades monolíticas: o planetóide Behemoth Iridescente e o Vazio - The Void, que dá nome ao álbum que vocês baixam aqui.

Eles têm um site, que (evidentemente) parou de ser atualizado. Prometem que a banda vai voltar quando a raça humana estiver finalmente preparada para o armageddon. Esse disco talvez seja uma boa maneira para criar o clima.


Tracklist

01 - The Void Introduction
02 - The Void Part One
03 - The Void Part Two
04 - The Void Part Three
05 - The Void Part Four
06 - The Void Part Five
07 - The Void Part Six
08 - The Void Part Seven
09 - Sword of Atheism

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Milton Dornellas - Sete Mares [2000]


Milton Dornellas é um carioca que chegou em João Pessoa em 1973, aos 14 anos, e se tornou uma das figuras mais importantes da cultura paraibana - tanto que em 2009 recebeu o título de cidadão pessoense. A partir da década de 80, Milton começou a se integrar ao cenário musical da cidade. Juntou-se a Pedro Osmar, Paulo Ró, Adeíldo Vieira, Totonho e outros músicos da época e fundou o Musiclube da Paraíba, um grupo que impulsionou imensamente a produção musical paraibana. Colaborou com grupos como Jaguaribe Carne, fundou o grupo Etnia e, junto a Xisto Medeiros e Marcos Fonseca, fez parte do projeto Assaltarte, que levou a música paraibana para os bairros mais remotos da capital em apresentações relâmpago.

Além disso, Milton também tem vários discos de suas próprias composições. Sete Mares, de 2000, é um disco quase conceitual, com músicas de temas bucólicos. Um espirito de simplicidade, aquela coisa da música folclórica, paira por todo o disco, que conta com composições de Milton em parceria com Pedro Osmar, Chico César, Totonho e vários outros nomes importantes da música paraibana.

Tracklist:

01 - Sete Mares
02 - Pernas e Bocas
03 - Lual
04 - Mar de Dentro
05 - Mural
06 - Lembrete
07 - Berço das Pedras
08 - Flamboyant
09 - Soma
10 - Dona Mariana
11 - Quer Dançar
12 - Da Roupa a Renda

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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

MC Priguissa - Original RaggaMuffin de Natal Vol. I [2011]


O raggamuffin é um subgênero do reggae que surgiu no meio dos anos 80 e se popularizou pelos Estados Unidos e pela Jamaica durante os anos 90. Desde o início de sua popularização, o Brasil teve representantes no estilo, mas foi só a partir de 2002 que o ragga começou realmente a se espalhar pelo país, principalmente em São Paulo. Recentemente, o Nordeste tem aparecido com nomes de peso. Em João Pessoa, Sacal se tornou um nome quase unânime. E em Natal (que também tem o Neguedmundo), parece ser a vez de MC Priguissa.

Desde 2003, MC Priguissa faz parte da cena do ragga nordestino, tendo participado de várias bandas em Natal. Nesse tempo, fez parcerias com músicos do Brasil inteiro e de fora. Oito anos depois, lança seu primeiro disco solo, com 23 faixas muito bem produzidas e com participações de vários desses parceiros, que incluem DJs da França, de Portugal, PumpKilla (que já trabalhou com Sacal), os conterrânes DuSouto e até Mr. Catra, um dos principais nomes do funk carioca.

É melhor não falar mais nada: baixem o original raggamuffin de Natal.


Tracklist:

01 - Essa Boe
02 - Menina Loucura (feat. PumpKilla)
03 - Louka
04 - Jeito Sensual
05 - Mulher Verão
06 - Swing Louco
07 - A Cura (feat. Manifestarte $A)
08 - Extresse
09 - Amor Bandido
10 - Bote Fé
11 - Bomba
12 - Marcas
13 - Única Certeza
14 - Uma Tequila (feat. DuSouto)
15 - Essa Boe (feat. Pro EFX)
16 - A Cura
17 - Extresse (feat. Jimmy Luv & Mr. Catra)
18 - Samba
19 - Esse Omi É Um Galado
20 - Ragaxote (feat. Pro EFX)
21 - Dignidade (feat. Fred Gomes)
22 - Babilon
23 - Nova Sensação (feat. Arcanjo Ras)

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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Procura-se Fabiano - Procura-se Fabiano [2011]


Procura-se Fabiano apareceu em João Pessoa em 2010: um power trio instrumental formado por três Fabianos. Fabiano Lira na bateria, percussão e pífano (que já participou da Conspiração Apocalipse e faz parte da banda de Naldinho), Fabiano Formiga na guitarra e efeitos (também conhecido como Furmiga Dub) e Fabiano Soares no baixo e nos efeitos vocais. Os três têm bagagens musicais diferentes que se harmonizam na hora de tocar, e o resultado vai de um experimentalismo extremo a elementos regionais.

O EP homônimo, gravado no Estúdio Peixe-Boi nesse ano, traz poucas músicas mas uma boa amostra do que é o grupo. Em cinco faixas, os Fabianos vão da Jamaica ao Pará, e o disco está recheado de referências sutis e nem tão sutis à cultura paraibana: um xote escondido no dub e uma longa sessão de baile de coco com pífanos. Mais uma banda para a safra de música instrumental paraibana.


Tracklist:

01 - Usina Dub
02 - Procura-se Fabiano
03 - Sambinha
04 - No Alto Sertão
05 - Carimblé

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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Ongo Trogodé - Banda Linda Horns


Os banda são a principal etnia da República Centro-Africana, uma ex-colônia da França e um dos países mais pobres do mundo. Os linda são o principal ramo dos banda. Trogodé é um vilarejo na região de Ouaka, uma savana no coração do país. Ongo são instrumentos feitos pelos banda que podem ser de dois tipos: os maiores são feitos de raízes de kapok (uma árvore tropical também presente na América do Sul) que foram comidas por dentro por cupins e ficaram ocas. Adiciona-se um bocal e a raiz se torna uma espécie de trombeta que emite apenas uma nota (parecido com o didgeridoo dos aborígenes australianos). Outro tipo de ongo é feito com chifres de antílopes - esses são capazes de fazer trinados e linhas melódicas simples. Esses instrumentos são usados em cerimônias e rituais - por exemplo em ritos de passagem de meninas adolescentes - onde grupos de até 20 músicos tocam uma polifonia hipnótica e ritmicamente complexa.


Tracklist:

01 - Linga
02 - Kambali
03 - Dangaye
04 - Ameya
05 - Dangaye
06 - Ameya
07 - Etoman
08 - Azou Baidou
09 - Alissa
10 - E Tchene Letro
11 - Eye Damba
12 - Eye Kouzouma
13 - Mambo
14 - Wanza Tilago
15 - Wanza Tilago
16 - Kro Kro Tche Pa Kada
17 - Gbangapou
18 - Tchebou Ganza Tche Gate
19 - Mbariga
20 - Zakalla Kuta

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Romulo Fróes, Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Marcelo Cabral - Passo Torto [2011]


O Passo Torto, junto com o Metá Metá e o disco do MarginalS, é mais uma colaboração entre figuras chave de uma das cenas mais interessantes musicalmente de São Paulo. Um núcleo de compositores e intérpretes com trabalhos individuais, fazendo o que a mídia já chamou de "a nova MPB", que têm cada vez mais se juntado para trabalhar juntos - cada combinação diferente desses artistas gera um resultado diferente. Esse disco é o mais recente desses, e traz quatro nomes: Romulo Fróes, Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Marcelo Cabral.

Romulo Fróes talvez seja dos quatro o de mais visibilidade - tem quatro discos solo, num trabalho que tem o samba como base. Ficou famoso também pelas suas entrevistas e opiniões sólidas, despertou comparações com Caetano e se tornou um ícone do que se começou a chamar de nova MPB.

Kiko Dinucci também é sambista, mas seu samba é bem diferente do de Romulo. A raiz africana está muito presente, e entre suas colaborações mais interessantes está Juçara Marçal, que participou do grupo de pesquisa de música folclórica nordestina A Barca. Esse ano, Kiko lançou o disco Metá Metá junto a Juçara Marçal e ao saxofonista Thiago França (que também toca na banda de Romulo Fróes).

Rodrigo Campos toca cavaquinho, lançou seu primeiro álbum em 2009 e no ano seguinte apareceu tocando Tempo de Amor junto a Céu, Curumin e Herbie Hancock no Imagine Project de Hancock.

Marcelo Cabral aparece no disco como baixista, arranjador e produtor. Junto a Thiago França e ao baterista Tony Gordin, Marcelo integra o trio MarginalS, fazendo música de livre improvisação. Mas os trabalhos mais conhecidos de Marcelo Cabral são provavelmente a produção de dois dos principais discos do novo rap nacional: o de Lurdez da Luz e o polêmico Nó na Orelha de Criolo, junto a Daniel Ganjaman.

Tracklist:

01 - A Música da Mulher Morta
02 - Da Vila Guilherme Até o Imirim
03 - Faria Lima Pra Cá
04 - É Mesmo Assim
05 - Cidadão
06 - Samuel
07 - Por Causa Dela
08 - Três Canções Segunda-Feira
09 - Sem Título Sem Amor
10 - Detalhe Azul
11 - Cavalieri

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O álbum também está disponível para download gratuito no site oficial do projeto, com encarte, release e mais informações: http://passotorto.com.br/site/