quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Mauricio Kagel - Heterophonie; Improvisation Ajoutée [2002]


Mauricio Kagel era filho de judeus russos refugiados na Argentina, nasceu em Buenos Aires e com 26 anos mudou-se definitivamente para a Alemanha. Sua obra pode ser descrita como uma versão absurda e menos megalomaníaca da noção de Obra de Arte Total de Wagner. As partituras das suas obras contém não só instruções sobre a música a ser tocada, mas também a distribuição dos músicos no palco, falas, gestos, figurinos, interações físicas com outros músicos, mímicas e todo tipo de coisa não musical. Muitas vezes também existia um grande espaço para improvisação nas suas peças.

Esse álbum contém duas composições de Kagel, Heterophonie e Improvisation Ajoutée. Apesar de ter sido lançado em 2002, as gravações são muito mais antigas: a primeira foi gravada em 1967 e a última em 1966. Heterophonie é uma peça para orquestra em que várias linhas melódicas se sobrepõem aleatoriamente criando uma espécie de polifonia caótica que flutua em vários níveis de densidade sonora. Improvisation Ajoutée é uma peça de improviso para órgão, para um organista e dois assistentes que gritam, gemem e mexem nos botões que mudam os timbres do órgão.

Uma das pessoas que foram afetadas por essas gravações foi o jovem John Zorn, que quando tinha quinze anos comprou por 98 centavos um vinil da Improvisation Ajoutée e colocou pra tocar na casa de um amigo dele que gostava de Rolling Stones. Enquanto o amigo o olhava com terror e a mãe do amigo gritava mandando tirar o disco da vitrola, John Zorn pensava: "essa é a música!".

Abaixo, uma pequena amostra das obras mais teatrais de Kagel: uma partida de ping-pong para dois violoncelos (os jogadores) e um percussionista (o juiz):


Tracklist:

01 - Heterophonie I
02 - Heterophonie II
03 - Heterophonie III
04 - Heterophonie IV
05 - Heterophonie V
06 - Improvisation Ajoutée

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domingo, 9 de dezembro de 2012

David Gould - "Adonai and I" e "Adonai in Dub" [2001]


David Gould é um baixista judeu nova-iorquino. Começou sua vida musical como quase todo adolescente que começa a tocar um instrumento: escutando rock. Mas os horizontes foram se ampliando: do rock descobriu o soul de Sly and the Family Stone, depois o jazz de Charles Mingus, a música de Fela Kuti e por aí foi. No meio dos anos 90, descobriu o reggae, e o abraçou plenamente (talvez por causa da conexão que existe entre o rastafarianismo e o judaísmo). Começou a pesquisar, tocar e compor reggae com uma dedicação quase religiosa, e em 2001 lançou seu primeiro disco, Adonai and I, versões roots reggae de orações judaicas. No mesmo ano, entrou em contato com John Zorn, o dono da gravadora Tzadik e possivelmente um dos judeus mais criativos dos Estados Unidos atualmente. Dentro da Tzadik existe uma coleção chamada Radical Jewish Culture em que Zorn desafia os artistas a criar algo de novo e relevante para a cultura judaica. E dentro dessa coleção, Gould lançou o disco Adonai in Dub, com versões dub do seu primeiro disco, produzidas pelo pianista Jamie Saft, outro grande nome dentro desse meio. O resultado são dois discos de reggae de altíssima qualidade - e você não precisa ser judeu pra escutar e gostar.





Tracklist de Adonai and I:

01 - Adonai Adonai
02 - Leha Dodi
03 - Veshamru
04 - Vihoo Vihoo
05 - Siman Tov
06 - L'Dor Vador
07 - Shalom Alechem
08 - Hiney Ma Tov
09 - Adon Olam (Minor)
10 - V'nemar
11 - Etz Chayim Hee




Tracklist de Adonai in Dub:

01 - Hinei Ma Tov Dub
02 - Etz Chayim Hee Dub
03 - Leha Dodi Dub
04 - L'Dor Vador Dub
05 - Siman Dub
06 - Adonai Noise Dub
07 - Sim Shalom Dub
08 - Adon Olam Dub
09 - V'nemar Dybbuk Dub
10 - Yigdal Dub

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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Grupo Etnia - Canto Cereal [1992]


O Grupo Etnia foi um grupo que, entre 1986 e 1994 reuniu quatro músicos que moravam em João Pessoa: Alice Lumi, etnomusicóloga paulista descendente de japoneses, que toca uma profusão de instrumentos étnicos de sopro, cordas e percussão; Fernando Pintassilgo, graduado em flauta transversal na UFPB e especialista em instrumentos de sopro folclóricos; Paulo Ró, também conhecido pelo seu trabalho solo e com o Jaguaribe Carne; e Milton Dornellas, que há muito tempo desenvolve seu trabalho como intérprete e compositor em João Pessoa.

A idéia do Grupo Etnia era a de compor e interpretar músicas folclóricas e tradicionais de vários lugares do mundo. Há uma profusão de músicas andinas, com charangos e flautas tradicionais, além de samba, ciranda, música japonesa e até experimentações com música eletrônica e atonal. Apesar da disparidade de estilos, uma música céltica irlandesa é seguida de um caboclinho com naturalidade, dando ao disco uma sonoridade impressionantemente coesa. Além disso, o disco é de um grande interesse histórico, pelo simples fato de reunir quatro grandes personalidades da história da música paraibana recente.

Tracklist:

01 - Canto Cereal
02 - Will Ye Go To Flanders - Tae the Begin
03 - Caboclinhos
04 - Ciranda
05 - Huayno para la Luna
06 - Quarup
07 - Meu Canto tem Velas
08 - Kátems
09 - Deixa eu Tocar
10 - Piratas de Jaguaribe
11 - Pau-de-sebo

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boTECOeletro - boTECOeletro [2004]


boTECOeletro é o projeto solo do músico Ricardo Imperatore. Ricardo entrou no mundo da música em 1984, quando fundou junto a Toni Garrido a Banda Bel. Depois disso ainda saiu em turnê com os Titãs e se apresentou com o Monobloco em algumas ocasiões, mas desde 2001 se dedica quase que exclusivamente ao boTECOeletro. Esse projeto faz parte de uma tendência do novo milênio de transformar o trabalho do DJ em um trabalho tão criativo, autoral e respeitado quanto o de qualquer outro músico. Embora a maior parte das músicas do CD sejam construídas com base em samples, existe uma coesão que não seria possível simplesmente colocando um sample depois do outro. É possível escutar de Jackson do Pandeiro a Radamés Gnattali, de funk carioca a banda de pífanos de caruaru. Sem dúvida uma obra prima da música eletrônica brasileira.



Tracklist:

01 - Coco Nutz Mass
02 - Jackson de Aço
03 - Botecoeletro Visita as Baianas Mensageiras de Sta. Luzia
04 - Pife de Pá! Nela
05 - Celtic Charm
06 - É Ruim, Hein!
07 - Bonde da Cuíca
08 - Omelete Banana
09 - Leva eu Sodade
10 - Transbau
11 - Coco Nutz Mass Extended
12 -É Ruim, Hein! (Para DJs)

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terça-feira, 13 de novembro de 2012

Zé Manoel - Zé Manoel [2012]


Num gênero como o samba, que já conta na sua história com personagens tão imponentes quanto Cartola, Vinícius de Moraes ou Paulinho da Viola, parece difícil criar algo novo que tenha alguma relevância. Felizmente, ainda surgem personagens no Brasil que encaram o desafio da continuidade à altura. Mas mais difícil ainda é encontrar um desses saindo do Nordeste que consiga quebrar a hegemonia do samba do Sudeste. O pernambucano Zé Manoel quebra esses dois estigmas de uma vez só.

Vindo de Petrolina, na fronteira com a Bahia, Zé Manoel começou sua vida musical tocando guitarra, mas logo começou a estudar piano clássico e, por influência do gosto musical do pai, começou a tocar samba, e logo começou também a cantar e a compor no piano. As músicas desse disco, na beleza das composições e na qualidade dos arranjos, não deixa a desejar a nenhum dos grandes nomes do samba. Entre as suas composições, também está no CD o Samba Manco, uma música do paulista Kiko Dinucci, outro grande nome do samba feito pela nova geração. Ter essa música regravada por esse pianista pernambucano consagra Kiko Dinucci como autor dos novos standards do gênero, e a pura qualidade musical confere a Zé Manoel a credencial de continuador do samba, seguindo o conselho de Alcione de anos atrás.



Tracklist:

01 - Sol das Lavadeiras
02 - Deixar Partir
03 - Samba Tem
04 - Fantasia de um Alecrim Dourado
05 - Dizem (Quem Não Chora Não Mama)
06 - Acorda Flor
07 - Noites Brejeiras
08 - Cinema Nacional
09 - O Pintor de Retratos
10 - Valsa da Ilusão
11 - Samba Manco
12 - Saraivadas de Felicidade
13 - Acabou-se Assim
14 - Calundú

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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Amplexos - A Música da Alma [2012]


Desde Debussy, cem anos atrás, que se profetiza que os próximos caminhos a serem trilhados pela música serão ditados pelo timbre. Nesse tempo, maneiras cada vez mais sutis e detalhadas de se mexer com o colorido do som apareceram, e agora dominam também a música popular. A banda Amplexos, de Volta Redonda, no interior carioca, se posiciona nessa linha de frente. Numa época em que provavelmente existe mais gente fazendo afrobeat no Brasil do que na Nigéria e em que qualquer pipoqueiro monta uma banda de reggae, fazer uma banda nessa linha que tenha alguma relevância é um trabalho enorme de refinamento musical. E aí está o trunfo da Amplexos. Nesse segundo disco, dub, afrobeat, soul e funk se juntam em ambiências construídas meticulosamente - nada parece fora do lugar.

Duas pessoas contribuíram com grandes doses de esmero musical para o produto final, de modo a deixar claro que ninguém está brincando. Primeiro, Amplexos teve a tutelagem do veterano do afrobeat Oghene Kologbo, que já tocou com o próprio Fela Kuti e que foi parar em Volta Redonda, onde ensinou aos rapazes da banda como fazer o autêntico afrobeat e como levar a música pras ruas. Segundo, o disco foi produzido pelo mítico Buguinha Dub, o King Tubby brasileiro, o peso pesado do dub, conhecido, entre outras coisas, pelo seu trabalho solo e pelas suas colaborações com Nação Zumbi. Juntando isso tudo com as composições do vocalista, Guga, esse disco se torna uma pequena jóia do dub alternativo brasileiro.



Tracklist:

01 - Falsa Salsa
02 - Boladão
03 - Making Love
04 - Sim
05 - Afrobeat
06 - Filho
07 - O Homem
08 - Mistério
09 - Festa
10 - Leão

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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

The Silvias:20HorasDomingo - Ao Vivo no Casarão 34 [2007]


Recentemente postei aqui o (até agora) único EP de The Silvias:20HorasDomingo, banda de pós-rock do underground pessoense. Para quem não se contentou com as cinco faixas, aí vai um show ao vivo no Casarão 34, com músicas do EP, músicas novas e até uma versão de Careful With That Axe, Eugene, de Pink Floyd. O bootleg aqui também mostra uma formação diferente da do EP, com o percussionista João Cassiano (também da ChicoCorrea & Electronic Band).

Aliás, chamar The Silvias de uma banda de pós-rock talvez seja uma super-simplificação. Dub? Jazz fusion? Música oriental? Só ouvindo, meus caros.



Tracklist:

01 - Ciganos Romenos
02 - Por Trás da Porta Verde
03 - Canção Noir
04 - O Imaginário
05 - Dharma/Vinheta/Careful With that Axe, Eugene
06 - Fábula
07 - Preludium
08 - Roda Gigante
09 - Dub do Boi de Marrakech
10 - O Vácuo
11 - Ciganos Romenos (Versão II)

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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Metá Metá - MetaL MetaL [2012]


Conheça MetaL MetaL, o novo e surpreendente disco do trio Metá Metá, formado por Kiko Dinucci, Thiago França e Juçara Marçal. A trupe não é nova aqui no blog, e confirmo o que já disse sobre eles antes: fazem parte do grupo mais prolífico e criativo da música de São Paulo atualmente. Junto a outros músicos, como Gui Amabis, Rodrigo Campos, Rômulo Fróes e vários outros, criaram uma discografia afro-global de um nível musical altíssimo, do qual o trio Metá Metá é apenas uma das faces.

O primeiro disco do trio, também chamado Metá Metá, foi lançado no ano passado. É um disco conceitual, coeso, completamente original no seu tratamento de temas tradicionais. Uma africanidade lo-fi. Nesse segundo disco, os temas são os mesmos, mas a pegada é completamente diferente. Se no primeiro disco quase não havia percussão, nesse há participação especial de Sergio Machado na bateria e Samba Sam na percussão em todas as faixas, mais Marcelo Cabral no baixo dando um peso que não existia antes. Daí o nome MetaL MetaL: esse disco mostra o lado mais pesado do trio, com jams agressivas, grooves hipnóticos e até Kiko Dinucci abandonando seu habitual violão em algumas faixas e tocando guitarra. Entre composições novas, releituras de músicas antigas e até uma música de Itamar Assumpção, o MetaL MetaL entra no panteão dos melhores discos de influência africana feitas no mundo nos últimos tempos.


Tracklist:

01 - Exu
02 - Oya
03 - São Jorge
04 - Man Feriman
05 - Rainha das Cabeças
06 - Cobra Rasteira
07 - Logun
08 - Orunmila
09 - Tristeza Não

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terça-feira, 6 de novembro de 2012

The Silvias:20HorasDomingo - Rec In Para um Sonho [2003]


Hoje em dia João Pessoa é uma referência no meio da música alternativa na questão de bandas instrumentais, com grandes nomes de peso como Burro Morto, Ubella Preta ou Parahyba Art Ensemble. Mas a tradição de música instrumental e experimental é bem mais antiga que essa explosão recente. Desde o Úvulas Ardientes de Didier Guigue, passando pelo disco Instrumental de Jaguaribe Carne, até o mais recente The Silvias:20HorasDomingo.


Formado por Rodrigo Silvia, Bruno Sérgio, Thiago Verdee (hoje artista plástico) e o membro da ChicoCorrea & Electronic Band e SeuPereira e Coletivo 401 Thiago Sombra, The Silvias tinha uma forte influência de vários tipos de música instrumental e experimental, do dub jamaicano ao post-rock. Esse disco de 2003 é uma boa amostra da música instrumental paraibana do começo do milênio.




Tracklist:

01 - Limbo
02 - Vinheta (Greensleves)
03 - Preludium
04 - Canção Noir
05 - O Vácuo

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Sektor Gaza - Sektor Gaza [1989]


É possível que atualmente a banda punk russa mais conhecida mundialmente seja Pussy Riot, o grupo feminista que foi preso recentemente por fazer uma "oração punk" dentro de uma igreja de Moscou. Mas talvez a banda punk mais conhecida dentro da russa seja a já extinta Sektor Gaza. Essa banda surgiu em 1987, na cidade de Voronež, perto da fronteira com a Ucrânia, liderada pelo cantor e guitarrista Yuri Klinskikh.

Musicalmente, Sektor Gaza tem o punk como base, mas se ramifica pra onde for preciso para  passar a mensagem, do rap à música folclórica russa. Mas é nas letras que todo o espírito punk realmente transparece. De pesadas críticas ao governo, à sociedade industrial (o nome da banda não tem nada a ver com a faixa de Gaza no Oriente Médio: significa "setor de gás", e é o nome com que os habitantes de Voronež chamam uma parte da cidade com um índice altíssimo de contaminação industrial), até letras explicitamente obscenas contribuiram para que mesmo no auge de sua popularidade a banda tivesse quase nenhum reconhecimento oficial da mídia russa.

A banda terminou em 2000, quando Yuri Klinskikh morreu de um ataque cardíaco repentino pouco antes de gravar um clipe para a banda.



Tracklist:

01 - Sektor Gaza [Setor de Gás]
02 - Angel Seksa [Anjo do Sexo]
03 - Avto-Mat [Metralhadora]
04 - Ja Močilsja v Noč'! [Eu Estava Mijando de Noite!]
05 - Estradnaja Pesnja [Canção de Variedade]
06 - Abort Ili Rody [Aborto ou Nascimento]
07 - Samogonščki [Fazedores de Luar]
08 - Spokojnoj Noči, Malyši [Boa Noite, Crianças]
09 - Ja - Mraz' [Eu - Otário]
10 - Sumasšedšij Trup [Cadáver Louco]
11 - Podkup [Propina]
12 - Duraki [Tolos]
13 - Vojna [Guerra]

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domingo, 4 de novembro de 2012

Shawn Lee & Clutchy Hopkins - Fascinating Fingers [2009]


Esse disco é um mistério. É uma colaboração entre dois músicos, Shawn Lee e Clutchy Hopkins. Shawn é um multi-instrumentista com uma variedade imensa de trabalhos que transitam entre o funk, o soul, o jazz e música eletrônica. Clutchy ninguém sabe quem é. Existem seis discos que levam o seu nome, cinco dos quais lançados pela Ubiquity Records, uma gravadora especializada em funk, soul e hip-hop - e que também lança os trabalhos de Shawn Lee. Há quem diga que Shawn e Clutchy são a mesma pessoa, há quem diga que Clutchy é o DJ Shadow, a primeira pessoa a lançar um disco feito exclusivamente de samples - e abundam teorias sobre a sua identidade. Mas a verdade é que ninguém sabe, e nenhuma dica significativa foi dada até agora. No video abaixo, Shawn Lee, usando uma máscara de tigre, fala sobre a primeira vez em que ouviu a música de Clutchy Hopkins. Sim, a música desse disco é tão excêntrica quanto seus autores. Pra quem gosta de jazz, funk e música estranha dançante.



Tracklist:

01 - 70 MPH Isn't Fast Enough to Get Out of Nebraska
02 - 7 Inch
03 - Mimi Tatonka
04 - Root Trees
05 - Cross Rhodes
06 - Chapter 2
07 - Ancient Chinese Secret
08 - Fish Sauce
09 - Name Game
10 - Bootie Beat
11 - Willie Groovemaker
12 - What More Can I Say (Top Chillin')

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terça-feira, 30 de outubro de 2012

Polar Bear & Jyager - Common Ground [2010]


Por mais visionário que Miles Davis fosse, quando ele fez seu álbum Doo-Bop em 1991, o primeiro a misturar jazz e hip-hop, dificilmente ele imaginaria até que ponto essa fusão poderia chegar.

Common Ground, feito dezenove anos depois do disco pioneiro de Miles Davis, é um desses resultados mais surpreendentes. É uma colaboração entre uma das bandas mais criativas do underground jazzístico londrino, Polar Bear, e o rapper inglês nascido em Portugal, Jyager. Nem um nem outro são conhecidos por serem óbvios na sua música. Polar Bear, o projeto do baterista Seb Rochford, faz um free jazz que mistura elementos acústicos e pesada manipulação eletrônica dos sons, e Jyager tem um ritmo potente e uma fluidez impressionante ao dizer suas rimas em inglês, português ou francês. A idéia para a colaboração entre os dois surgiu quando Seb Rochfrod comprou um CD de Jyager e mandou uma mensagem por myspace sugerindo que fizessem algo juntos. O resultado foi um curto porém interessantíssimo disco do hip-hop mais experimental que se pode imaginar. As bases para as letras de Jyager foram feitas manipulando uma cópia em vinil do disco de 2010 de Polar Bear, Peepers, no melhor estilo turntablist. Feito despretensiosamente, Common Ground acabou se tornando um dos melhores exemplos do hip-hop alternativo dos últimos anos. Apesar de ser bem diferente do Doo-Bop, Miles Davis aprovaria.




Tracklist

01 - Recording in secret
02 - Never Giving Up
03 - New Love
04 - Dont Think I Wont
05 - Stay in Control
06 - The Role I Choose
07 - Flowerpot Remix
08 - Fire it Up
09 - Enterprize

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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

New Zion Trio - Fight Against Babylon [2011]


New Zion Trio é um grupo incomum. A formação é a clássica formação dos trios de piano que abundam no jazz: piano, contrabaixo acústico e bateria. Mas a música do New Zion Trio é muito diferente da dos grandes trios de jazz como o de Bill Evans. A proposta aqui é levar o reggae um passo adiante. Em vez das progressões harmônicas complexas do jazz, o New Zion pode passar mais de dez minutos em apenas dois acordes, explorando toda a música que existe neles.

O projeto é uma criação do pianista e tecladista Jamie Saft, conhecido na cena underground novaiorquina por seus trabalhos experimentais em diversos estilos, do death metal ao dub ao jazz acústico. Aqui o dub, estilo essencialmente elétrico e dependente de efeitos e manipulação do som, aparece em seus elementos mais básicos. New Zion Trio é dub no sentido estrito da palavra: reggae instrumental. O baixo e a bateria criam aquela solidez típica do gênero enquanto o piano (e eventualmente teclado) de Jamie fica mais livre, passando do ritmo em contratempo do reggae a virtuosismos jazzísticos com uma naturalidade impressionante. A atmosfera predominante é a de pura tranqüilidade. Embora não seja nem jazz nem reggae propriamente ditos, quem gosta de um e de outro vão gostar do disco.




Tracklist

01 - Slow Down Furry Dub
02 - Niceness
03 - The Red Dies
04 - Gates
05 - Hear I Jah
06 - Ishense
07 - Lost Dub
08 - Fire Blaze
09 - Ina Sade Dub (Christian Castagno Dub)

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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Mikey Smith - Mi Cyaan Believe It [1982]


Mikey Smith é um dos nomes mais importantes, e talvez um dos mais esquecidos, da poesia dub. A poesia dub é um gênero musical jamaicano surgido no final dos anos 70, cronologicamente entre os experimentos de Gil Scott-Heron e o hip hop político americano, parecido com a jazz poetry dos beats. O poeta dub mais famoso é Linton Kwesi Johnson, que em 1978 lançou Dread Beat an' Blood, o primeiro disco do gênero. Radicado em Londres, Linton Kwesi Johnson fundou a sua própria gravadora, LKJ Records, por onde passou a lançar seus discos e os de outros jamaicanos que moravam na Inglaterra. Entre eles estava Mikey Smith.


Mikey cresceu na Jamaica, e recebeu formação de ator na Jamaican School of Drama (que também formou outro grande poeta dub, Oku Onuora). Sua poesia logo ganhou projeção internacional, representou a Jamaica em vários festivais em Cuba, Barbados e na Inglaterra. Em Londres, conheceu Linton Kwesi Johnson, que lançou em 1982 seu único disco, Mi Cyaan Believe It. Acompanhado pela mesma banda que toca nos discos de Linton, a Denis Bovell Dub Band, o disco é uma impressionante performance vocal num patois jamaicano fortíssimo, com suas letras de contestação que beiram o anarquismo.

Infelizmente, a carreira de Mikey acabou repentinamente quando estava começando a se tornar conhecido. Um ano depois do lançamento de seu disco, durante um evento político do partido dos trabalhadores jamaicano, Mikey começou a fazer perguntas muito incovenientes e provocativas ao Ministro da Educação, que era do partido. No dia seguinte, três ativistas o perseguiram e acabaram matando o poeta a pedradas. Um destino comum entre os grandes provocadores da história. E como diz o próprio Linton, uma das vozes mais originais do Caribe.



Tracklist:

01 - Black and White
02 - Mi Feel It
03 - Mi Cyaan Believe It
04 - Long Time
05 - Trainer
06 - Picture or no Picture
07 - Roots
08 - It a Come
09 - Give Me Little Dub Music

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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Jamie Saft - Sovlanut [2000]


Jamie Saft (que também aparece na postagem anterior) é um personagem interessante. Um tecladista judeu, com uma daquelas barbas típicas, nascido e criado em Nova Iorque. Enquanto seus pais ouviam música tradicional judaica e klezmer, Jamie cresceu escutando os sons do maior centro urbano do mundo ocidental: rock, metal, reggae, música eletrônica, ruídos de cidade grande. Logo cedo na sua carreira musical, se encontrou com John Zorn, também judeu e criado na mesma zona de Nova Iorque que Jamie, um dos grandes nomes do novo jazz novaiorquino e dono da gravadora Tzadik. O encontro foi frutífero, e Jamie colaborou com diversos álbuns da gravadora, sempre numa linha experimental, entre o dub, o jazz e o noise.

E foi nesse terreno musical que ele lançou seu primeiro disco solo: Sovlanut ("tolerância"). O álbum é um monumento impressionante de paisagens sonoras, com momentos de dub de altíssima qualidade reminiscentes do trabalho de Blackbeard, intercalados com grandes seções de noise improvisado, colagens de temas judaicos, free jazz e drum'n'bass. O álbum foi produzido por John Zorn, e está numa coleção da Tzadik chamada Radical Jewish Culture. A coleção possuiu um catálogo enorme de trabalhos de músicos judeus que são provocados por John Zorn com a seguinte pergunta: "se você fosse fazer uma contribuição à cultura judaica, o que você faria?". Os resultados são tão diversos quanto o Sovlanut pode dar a entender.

Esse disco vem provar que existe reggae judaico muito além de Matisyahu.

Tracklist:

01 - Kasha Dub
02 - Sovlanut
03 - Mach-Hey
04 - Midwood Cowboy
05 - Tefachim
06 - Fresser Dub

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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Merzbow & Jamie Saft - Merzdub [2006]

Merzbow é um dj dadaísta japonês de noise e música experimental. Jamie Saft é um pianista e tecladista americano de jazz, música eletrônica e vários tipos de música experimental. Aqui os dois músicos se encontram pra tocar dub. O resultado é tão surpreendente quanto a dupla que o fez - uma paisagem sonora de ruído proporcionada por Merzbow paira sobre um instrumental minimalista que está quase sempre à beira de virar um reggae, mas que sucumbe poucas vezes. A faixa mais acessível a ouvidos mais puramente jamaicanos é a hipnótica Slow Down Furry Dub que fecha o álbum: doze minutos de dois acordes no característico contratempo do dub e numa lentidão mais do que apropriada para o estilo, mas que nem Lee Scratch Perry conseguiu atingir. Ideal para dias de consciências alteradas.

Tracklist:

01 - Conquerer
02 - Beware Dub
03 - Skinning JLO
04 - Kantacky Fried Dub
05 - Visions of Irie
06 - Dangermix
07 - Updub
08 - Slow Down Furry Dub

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Muslimgauze - Fatah Guerrilla [1996]



Dedicado a um Estado Palestino.
Livre do abuso zionista de direitos humanos.
Dedicado a um Chechênia independente.

São dedicatórias incomuns para um disco de música eletrônica dos anos 90 feita por um inglês nascido e criado na Inglaterra. Mas para Bryn Jones, conhecido no underground britânico como Muslimgauze, os conflitos do Oriente Médio são o ponto focal do seu trabalho. Quando Israel invadiu o sul do Líbano em 1982, sob o pretexto de pacificar a região, atacando grupos da Organização para a Libertação da Palestina, Bryn começou a fazer música. Sem nunca ter visitado países árabes e se informando principalmente através de bibliotecas, jornais e televisão, criou o pseudônimo Muslimgauze e passou a apoiar os palestinos e outros povos oprimidos por conflitos gerados pelo "interesse ocidental em recursos naturais e vitórias político-estratégicas", incluindo aí chechenos, iranianos, afegãos, tibetanos, paquistaneses e indianos. Ele justificou o fato de nunca ter visitado esses países dizendo que uma terra ocupada não é uma atração turística - você não visita o lugar até ele ser livre novamente: "quer dizer então que para ser contra o apartheid você tem que visitar a África do Sul?"

Mas Muslimgauze circula habilmente um dos problemas principais ao se misturar política e música. Seu trabalho está longe de ser panfletário. Tirando alguns poucos samples vocais, sua música é inteiramente instrumental. Os títulos das músicas e dos cds, as dedicatórias e as imagens das capas são o suficiente para instigar o ouvinte a aprender mais sobre esses conflitos mundiais. "Não tem letras, porque isso seria pregação. É música. Descobrir mais depende de você."

Musicalmente, Muslimgauze é tão interessante quanto sua imagem. Surgiu no clima do anarco-punk DIY que varria a Inglaterra da época, que produziu bandas como Crass (que também tem uma preocupação política muito grande). Seu som segue a mesma linha lo-fi caseira, mas adaptada para a música eletrônica. É uma espécie de noise dançante, que não fica devendo nada a pioneiros da música eletroacústica acadêmica, como Pierre Schaeffer, ou a DJs do noise mais extremo, como Merzbow, mas que ao mesmo tempo tem uma influência muito grande de música étnica do Oriente Médio, de dub e dos gêneros de música eletrônica do underground britânico.

Escutar preferivelmente virado para Meca.

Tracklist:

CD 1 - Muhammadunize

01 - Devour
02 - Devour
03 - Khalifate
04 - Imad Akel
05 - Khalifate
06 - Imal Akel
07 - Fatah Guerrilla

CD 2 - Takij and Persian Blind

01 - Shishla Nain Royal Bidjar
02 - Minaret Above All Others
03 - Saleem Bou
04 - Khidmutghar One-Two-Three
05 - Dizurt
06 - Iman Shamil 1837
07 - Enjinn
08 - Dacoit Guild
09 - Deceiver for Yourself
10 - Anti-Arab Media Censor
11 - Negev Gulag
12 - Hakeem Alkimi
13 - Shaduf

CD 3 - Chechnya Overdub
01 - Resume and Shaduf
02 - Gifts from an Afghan
03 - Pahlavi Engineer
04 - Guilded Gulag Mind-er
05 - Under the Influence of Kolera
06 - Devotion of Abdul Karim
07 - Camel Abuse Does Not Egzist in Mogadisu
08 - Girl in a Red Turban
09 - Peacock Headress
10 - Sari of Acidic Colours

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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Madalena Moog - Philipéia [2012]


Madalena Moog é uma banda que já participa há algum tempo do cenário independente de João Pessoa. O seu mentor, Patativa Moog, não é paraibano de nascença, mas é de vivência. Mora no centro histórico da cidade, e tem o privilégio de ser quase vizinho de um dos principais pontos de encontro de figuras interessantes do lugar: a Cachaçaria Philipéia. Philipéia de Nossa Senhora das Neves é o nome colonial da capital paraibana. A cachaçaria é um ponto focal do centro, um daqueles lugares tão carregados de conversas sóbrias e bêbadas que só de se entrar a pessoa já se sente parte da história da cidade.

Philipéia, o disco novo de Madalena Moog, funciona como ode a João Pessoa e como homenagem à cachaçaria, que por si só também é uma ode a João Pessoa. É um daqueles discos pra ser escutado do começo ao fim, na ordem. O som se distancia cada vez mais do rock dos primeiros discos, e abraça uma coisa mais light, mais samba, mais carnaval. As letras, mesmo quando não falam sobre a cidade, falam sobre a cidade. Um trecho de uma letra diz: "deu no jornal, vai ter aumento de passagem". Pode ser qualquer lugar do Brasil, mas ao mesmo tempo soa extremamente pessoense no contexto.

O disco fecha com um interessantíssimo depoimento de um dos pioneiros do samba, um conselho para qualquer pessoa que faça música brasileira e que queira ter alguma relevância musical em qualquer época.

O lançamento do CD acontece hoje (23/08) no Sebo Cultural, no Centro Histórico.





Tracklist:

01 - Ela Só Pensa Em Namorar
02 - Bifurcação
03 - Felicidade
04 - Philipéia
05 - As Borboletas
06 - Como É Triste!
07 - Beco da Cachaça
08 - Elogio ao Mestre Donga

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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Bole 2 Harlem - Vol. 01 [2006]


Bole 2 Harlem é o projeto de três músicos que se encontraram no Harlem, em Nova Iorque: a cantora Tigist Shibabaw, o rapper Maki Siraj e o produtor Duke Mushroom Schommer. Shibabaw e Siraj são etíopes de nascença (Siraj escapou por pouco de ter que lutar na guerra aos 13 anos), e quando se conheceram em Nova Iorque começaram a discutir o conceito de Abesha MC. Os Abesha são uma das etnias mais características da Etiópia, e o Abesha MC incorpora elementos da sua terra natal com o hip hop e a música urbana americana. A imagem mental que eles queriam criar era a de alguém pegando um táxi no Harlem e saindo em Bole, a região em que fica o aeroporto internacional de Addis Abeba, a capital da Etiópia.

Mas as influências não se limitam a isso. Maki Siraj pensa em uma nova maneira de fazer hip hop, que ele chama de World Flow. Suas influências incluem música do Marrocos, da Jamaica,  de Mali, da França, do Senegal e inclusive do Brasil - na faixa Endegena há a participação especial de Davi Vieira, percussionista brasileiro que tem uma banda de forró em Nova Iorque, Forró in the Dark.



Tracklist:

01 - Bole 2 Harlem
02 - Hoya Hoye
03 - Enseralen Gojo
04 - Ametbale
05 - Hi Loga
06 - Endegena
07 - Home
08 - Ya Selam
09 - Aya Bellew
10 - Harlem 2 Bole
11 - Quralew
12 - Enseralen Gojo (remix)
13 - Africaye!

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sábado, 11 de agosto de 2012

João Cassiano - Nômade Riddim Vol. 05 [2012]


João Cassiano, percussionista da ChicoCorrea & Electronic Band e da companhia de dança Lunay, lança o quinto volume de sua coleção de beats e riddims eletrônicos. A coleção Nômade Riddim é fruto de uma dedicada pesquisa sobre as culturas de música eletrônica e música folclórica do mundo inteiro, principalmente dos países de terceiro mundo, que têm uma estética singular. Você encontra os outros volumes da série aqui e aqui.

 


Tracklist

01 - Warp Zone
02 - Caipirinha Freestyle
03 - Nes Pad
04 - Calango Riddim
05 - Cumbia da Espera
06 - ARAB
07 - Maresia Riddim
08 - La Craw 68

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Milton Dornellas - Bom Mesmo é a Gargalhada no Final [2012]


Milton Dornellas, uma das figuras centrais da música paraibana atual, lança seu disco mais novo, Bom Mesmo é a Gargalhada no Final - título tirado de uma frase que seu amigo Pedro Osmar costuma falar. O álbum é incomum na discografia de Milton por ter relativamente muito poucas músicas com letra, fato que ressalta uma de suas principais habilidades: compor melodias. Melodias simples, com aquele frescor típico da música popular, que se repete sem nunca se tornar cansativo, arranjados em uma textura leve. Muito do êxito do álbum se deve também aos instrumentistas: além do próprio Milton cantando e tocando violões e bandolins, participam do grupo desse disco na sanfona Helinho Medeiros (que entre outras coisas toca com Paulo Ró, no Remandiola Trio e ocasionalmente com o grupo de música barroca Camena), no baixo Chico Limeira (que toca cavaquinho com o grupo de samba Trem das Onze e baixo com o Sonora Samba Groove), na guitarra Marcelo Macedo (dono do estúdio Peixe Boi, onde foi gravado o disco, e também guitarrista do Néctar do Groove) e na percussão Paulinho Tazz (também do Trem das Onze).



Tracklist


01 - Encanto
02 - Abismo
03 - Jaborandi
04 - Frei Tito
05 - Praça Rio Branco
06 - Capeta Jr.
07 - Vôo do Passarinho
08 - Bom Mesmo é a Gargalhada no Final

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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Archie Shepp & Chris McGregor - En Concert à Banlieues Bleues [1989]


Nesses tempos em que a música africana está tão em alta, esse disco merecia ser amplamente conhecido pelos amantes do afrobeat e similares. Ele reune dois grandes mestres pouco conhecidos do público. Um deles é Archie Shepp, saxofonista famoso por seu envolvimento com a luta pelos direitos negros, tema muito presente em sua música, que explora principalmente o free jazz (Shepp já tocou inclusive com John Coltrane), e a partir do final dos anos 60 começa a incorporar elementos africanos. O outro é africano de nascença: Chris McGregor é um pianista sulafricano que desde muito cedo foi influenciado pela cultura xhosa (a etnia de Nelson Mandela). Sua banda mais famosa foi a Brotherhood of Breath, montada em Londres e composta principalmente de músicos sulafricanos exilados, tocando free jazz com influências de sua terra natal.

Esse disco foi gravado ao vivo no festival parisiense de jazz Banlieues Bleues, um ano antes da morte de Chris McGregor - mas a vitalidade presente na gravação é impressionante. Uma hora de afrojazz impecável, com participações vocais de Sonti Mndebélé que dão o toque africano à música e provam que afrobeat não é a única maneira de juntar saxofone com música africana e conseguir um resultado bom.

Tracklist:

01 - Sangena
02 - Mayebuye
03 - Country Cooking
04 - Jikele
05 - Presentation
06 - Steam
07 - Sweet as Honey
08 - Bessie Smith's Blues

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terça-feira, 7 de agosto de 2012

Areia e Grupo de Música Aberta - Para Perdedores [2012]


Quando se fala de música improvisada hoje em dia, na maior parte das vezes se pensa apenas em jazz. Mas na verdade o improviso é o ponto central de inúmeras culturas musicais no mundo inteiro e em todas as épocas, da música da grécia antiga à cantoria dos violeiros nordestinos. O baixista Areia (que também toca numa das principais bandas do manguebit recifense, Mundo Livre S/A) decide em seu trabalho mais recente abandonar as convenções da improvisação jazzística clássica e adotar maneiras de improviso derivadas da música nordestina e da música do oriente médio - todos os músicos brincam livremente com o material musical do tema principal, que é sempre reexposto, ainda que completamente transformado. Essa maneira de proceder resultou em um trabalho que é jazz e não é; é música nordestina e não é - poderia ser o disco perdido de John Coltrane em retiro espiritual no sertão.




Tracklist:


01 - Do Início ao Fim de Tudo
02 - Maracatu de Baque Etéreo
03 - Ciranda de Trêsz
04 - A Jóia do Universo

Clique na capa do álbum pra baixar, e clique aqui para baixar o documentário de 15 minutos com entrevistas com os músicos sobre o projeto.

domingo, 1 de julho de 2012

Nightime - Cinema [2012]



A arte mais verdadeira é aquela que nasce de uma vontade descontrolada e esmagadora de criar - a sensação de que aquela forma de arte é a única maneira de se expressar, uma espécie de inquietação. Inquietação é uma coisa que não falta no rock de nenhum lugar do mundo. Mas pra que essa inquietação tome uma forma concreta (ou auditiva), é preciso um trabalho duro de lapidação desses instintos em prol de uma estética (em alguns casos, a estética é a ausência deliberada dessa lapidação, mas isso já é outra história). O triste é que em muitos casos esses espíritos criadores e inquietos não se dão tanto trabalho, e o resultado acaba ficando comum - e em outros casos tem tanto trabalho que a inquietação desaparece e o tédio domina: o resultado é o mesmo do caso anterior.


Nightime está num equilíbrio saudável entre os dois extremos. É uma banda recém-nascida mas com integrantes cheios de experiências de projetos anteriores, e que se propõe a zelar pela qualidade. A inquietação de criar é evidente: com poucos meses de existência, já sai do forno um single. E o trabalho está evidente no single: aquele esquema de primeira gravação feita nas pressas pra mostrar logo o trabalho da banda dá lugar a um esmero pelos arranjos e pela qualidade da gravação. É com esse cartão de visita que a banda surge ao público: a organização da inquietude, aquele artesanato que faz falta na música. 


Tracklist:


01 - Cinema


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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Orquestra Boca Seca - Nega Balance [2012]


A Orquestra Boca Seca nasceu em Natal lá pelo meio da década de 2000. Nasceu de três amigos que se encontravam regularmente pra tomar uma cerveja e curar a secura da boca no bar do Otto, na capital potiguar. Os três amigos gostavam de várias coisas diferentes, mas uma era comum a todos: o samba rock. A partir daí nasceu o Trio Boca Seca, que com a adição de mais um membro virou a Orquestra Boca Seca. Começaram a ensaiar assim, meio informalmente, tocando Tim Maia, Jorge Ben, Nação Zumbi e tudo que tivesse groove. Aos poucos a coisa foi ficando organizada, a orquestra começou a tocar na noite natalense, gravaram um EP (aptamente chamado de Samba Rock), e finalmente, depois de quase cinco anos de banda, sai seu primeiro CD completo.


Nega Balance estava sendo orquestrado há anos, mas só agora viu a luz. Com dez músicas autorais, a Orquestra Boca Seca vem com um samba rock de alto nível, para ser colocado no panteão nacional junto a Eddie ou o Fino Coletivo; e num contexto local, junto a trabalhos recentes como o de Maguinho da Silva (que inclusive faz participações especiais no disco da Boca Seca), a Orquestra compõe uma paisagem sonora de groove que é bem viva em Natal. Uma boa epígrafre para o disco seria a paráfrase que a própria banda faz de Dorival Caymmi: "quem não gosta de samba rock, bom sujeito não é".





Tracklist:


01 - Nêga Amor
02 - Te Dizer
03 - Muda o Tempo
04 - Olhos Cegos
05 - Trilha Sob o Sol
06 - Deus e o Diabo na Cidade do Sol
07 - Animal
08 - Dando um Tempo
09 - Samba Rock do Superficial
10 - La Podrita de Buena
11 - Nêga Amor (ao vivo)


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