quinta-feira, 29 de setembro de 2011

MarginalS - (Disco Sem Nome) [2011]


Existe algum debate entre os músicos sobre até que ponto aquela que se chama free improvisation é realmente free. Com o tempo a coisa se tornou quase idiomática, quando a improvisação livre prevê justamente o abandono de qualquer idioma musical. Acabou que quando se fala em improvisação livre se pensa que o resultado sonoro tem que ser aquela coisa caótica, barulhenta e que não dá em lugar nenhum - na verdade não é bem assim.

No Brasil, pelo menos até onde eu conheço, há poucos grupos que se dediquem à livre improvisação, e a maior parte deles está ligada à academia ou aos círculos mais experimentais e obscuros do mundo da música. E em 2010, em São Paulo, do meio de um círculo de músicos que fazem parte de uma cena não muito bem definida, mas que inclui Romulo Fróes, Criolo, Kiko Dinucci e o Instituto, surge um trio tocando uma música bastante diferente. O MarginalS é formado por Thiago França no sax e na flauta, Tony Gordin na bateria e Marcelo Cabral no baixo.

Thiago França é uma das figuras centrais do samba que se faz em São Paulo atualmente, toca com Romulo Fróes e Criolo, tem projetos próprios de música instrumental e recentemente se tornou mais conhecido graças ao seu trabalho com Kiko Dinucci e Juçara Marçal, o disco Metá Metá. Tony Gordin, irmão do legendário guitarrista da Tropicália, Lanny Gordin, já tocou com CéU, com o Instituto, e no tempo em que morou nos EUA tocou com Airto Moreira, Mike Patton e até com o Rivers Cuomo da Weezer. Marcelo Cabral foi skatista nos anos 80, entrou pra música e produziu o "Nó na Orelha" de Criolo e o disco de estréia de Lurdez da Luz.

Nessa entrevista do trio, explicam o processo criativo do grupo, que no final é uma aula do que é o processo criativo da livre improvisação. O engraçado é que o trio, como o nome diz, é de maloqueiros skatistas que já tocaram de punk a sambinhas sem vergonha: estão longe da abstração teórica da academia sobre a livre improvisação, e de uma certa maneira - talvez por causa disso - conseguem tocar o gênero e escapar de sua única amarra: a busca obsessiva por não ser idiomático. Se Thiago toca uma frase que poderia ter sido tocada por um saxofonista de Fela Kuti ou que poderia ser parte de uma improvisação modal de Coltrane, a improvisação não é menos livre por causa disso. O CD em si é reflexo da abertura que a música traz: o disco não tem capa, nem nome, e as faixas na verdade são divisões de um único take de quarenta minutos, dividido em células que demarcam idéias fechadas. Não há nada no CD que tendencie o ouvinte a qualquer lado, que leve a uma interpretação prévia. Tudo fica a cargo de quem ouve. Seria fácil e desnecessário listar todos os tipos de música que aparecem no disco em um momento ou outro, mas no final o que interessa é o resultado final dessa amálgama. Listar gêneros talvez fosse até injusto à proposta de não-tendenciamento de quem ouve - se eu escutei um afrobeat e você não encontrou onde ele entra, então não teve afrobeat pra você.


Tracklist:

01 - Prólogo
02 - Parte 1, Parte 1
03 - Parte 1, Parte 2
04 - Parte 1, Parte 3
05 - Parte 1, Parte 4
06 - Intermissão, Parte 1
07 - Intermissão, Parte 2
08 - Parte 2, Parte 1
09 - Parte 2, Parte 2
10 - Parte 2, Parte 3

Clique na capa do álbum pra baixar

Um comentário:

  1. Valeu, Matteo, som instrumental massa essa banda faz. Descobri por acaso, aliás, do mesmo modo como descobri que vc tinha um blog. Entrei lá no "música da paraíba" e vi um link pro Odhecaton, quando cliquei, pra minha surpresa, o blog era uma criação sua.
    Valeu mesmo, vou baixar muita coisa por aqui.
    Até.
    João.

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