terça-feira, 30 de outubro de 2012

Polar Bear & Jyager - Common Ground [2010]


Por mais visionário que Miles Davis fosse, quando ele fez seu álbum Doo-Bop em 1991, o primeiro a misturar jazz e hip-hop, dificilmente ele imaginaria até que ponto essa fusão poderia chegar.

Common Ground, feito dezenove anos depois do disco pioneiro de Miles Davis, é um desses resultados mais surpreendentes. É uma colaboração entre uma das bandas mais criativas do underground jazzístico londrino, Polar Bear, e o rapper inglês nascido em Portugal, Jyager. Nem um nem outro são conhecidos por serem óbvios na sua música. Polar Bear, o projeto do baterista Seb Rochford, faz um free jazz que mistura elementos acústicos e pesada manipulação eletrônica dos sons, e Jyager tem um ritmo potente e uma fluidez impressionante ao dizer suas rimas em inglês, português ou francês. A idéia para a colaboração entre os dois surgiu quando Seb Rochfrod comprou um CD de Jyager e mandou uma mensagem por myspace sugerindo que fizessem algo juntos. O resultado foi um curto porém interessantíssimo disco do hip-hop mais experimental que se pode imaginar. As bases para as letras de Jyager foram feitas manipulando uma cópia em vinil do disco de 2010 de Polar Bear, Peepers, no melhor estilo turntablist. Feito despretensiosamente, Common Ground acabou se tornando um dos melhores exemplos do hip-hop alternativo dos últimos anos. Apesar de ser bem diferente do Doo-Bop, Miles Davis aprovaria.




Tracklist

01 - Recording in secret
02 - Never Giving Up
03 - New Love
04 - Dont Think I Wont
05 - Stay in Control
06 - The Role I Choose
07 - Flowerpot Remix
08 - Fire it Up
09 - Enterprize

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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

New Zion Trio - Fight Against Babylon [2011]


New Zion Trio é um grupo incomum. A formação é a clássica formação dos trios de piano que abundam no jazz: piano, contrabaixo acústico e bateria. Mas a música do New Zion Trio é muito diferente da dos grandes trios de jazz como o de Bill Evans. A proposta aqui é levar o reggae um passo adiante. Em vez das progressões harmônicas complexas do jazz, o New Zion pode passar mais de dez minutos em apenas dois acordes, explorando toda a música que existe neles.

O projeto é uma criação do pianista e tecladista Jamie Saft, conhecido na cena underground novaiorquina por seus trabalhos experimentais em diversos estilos, do death metal ao dub ao jazz acústico. Aqui o dub, estilo essencialmente elétrico e dependente de efeitos e manipulação do som, aparece em seus elementos mais básicos. New Zion Trio é dub no sentido estrito da palavra: reggae instrumental. O baixo e a bateria criam aquela solidez típica do gênero enquanto o piano (e eventualmente teclado) de Jamie fica mais livre, passando do ritmo em contratempo do reggae a virtuosismos jazzísticos com uma naturalidade impressionante. A atmosfera predominante é a de pura tranqüilidade. Embora não seja nem jazz nem reggae propriamente ditos, quem gosta de um e de outro vão gostar do disco.




Tracklist

01 - Slow Down Furry Dub
02 - Niceness
03 - The Red Dies
04 - Gates
05 - Hear I Jah
06 - Ishense
07 - Lost Dub
08 - Fire Blaze
09 - Ina Sade Dub (Christian Castagno Dub)

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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Mikey Smith - Mi Cyaan Believe It [1982]


Mikey Smith é um dos nomes mais importantes, e talvez um dos mais esquecidos, da poesia dub. A poesia dub é um gênero musical jamaicano surgido no final dos anos 70, cronologicamente entre os experimentos de Gil Scott-Heron e o hip hop político americano, parecido com a jazz poetry dos beats. O poeta dub mais famoso é Linton Kwesi Johnson, que em 1978 lançou Dread Beat an' Blood, o primeiro disco do gênero. Radicado em Londres, Linton Kwesi Johnson fundou a sua própria gravadora, LKJ Records, por onde passou a lançar seus discos e os de outros jamaicanos que moravam na Inglaterra. Entre eles estava Mikey Smith.


Mikey cresceu na Jamaica, e recebeu formação de ator na Jamaican School of Drama (que também formou outro grande poeta dub, Oku Onuora). Sua poesia logo ganhou projeção internacional, representou a Jamaica em vários festivais em Cuba, Barbados e na Inglaterra. Em Londres, conheceu Linton Kwesi Johnson, que lançou em 1982 seu único disco, Mi Cyaan Believe It. Acompanhado pela mesma banda que toca nos discos de Linton, a Denis Bovell Dub Band, o disco é uma impressionante performance vocal num patois jamaicano fortíssimo, com suas letras de contestação que beiram o anarquismo.

Infelizmente, a carreira de Mikey acabou repentinamente quando estava começando a se tornar conhecido. Um ano depois do lançamento de seu disco, durante um evento político do partido dos trabalhadores jamaicano, Mikey começou a fazer perguntas muito incovenientes e provocativas ao Ministro da Educação, que era do partido. No dia seguinte, três ativistas o perseguiram e acabaram matando o poeta a pedradas. Um destino comum entre os grandes provocadores da história. E como diz o próprio Linton, uma das vozes mais originais do Caribe.



Tracklist:

01 - Black and White
02 - Mi Feel It
03 - Mi Cyaan Believe It
04 - Long Time
05 - Trainer
06 - Picture or no Picture
07 - Roots
08 - It a Come
09 - Give Me Little Dub Music

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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Jamie Saft - Sovlanut [2000]


Jamie Saft (que também aparece na postagem anterior) é um personagem interessante. Um tecladista judeu, com uma daquelas barbas típicas, nascido e criado em Nova Iorque. Enquanto seus pais ouviam música tradicional judaica e klezmer, Jamie cresceu escutando os sons do maior centro urbano do mundo ocidental: rock, metal, reggae, música eletrônica, ruídos de cidade grande. Logo cedo na sua carreira musical, se encontrou com John Zorn, também judeu e criado na mesma zona de Nova Iorque que Jamie, um dos grandes nomes do novo jazz novaiorquino e dono da gravadora Tzadik. O encontro foi frutífero, e Jamie colaborou com diversos álbuns da gravadora, sempre numa linha experimental, entre o dub, o jazz e o noise.

E foi nesse terreno musical que ele lançou seu primeiro disco solo: Sovlanut ("tolerância"). O álbum é um monumento impressionante de paisagens sonoras, com momentos de dub de altíssima qualidade reminiscentes do trabalho de Blackbeard, intercalados com grandes seções de noise improvisado, colagens de temas judaicos, free jazz e drum'n'bass. O álbum foi produzido por John Zorn, e está numa coleção da Tzadik chamada Radical Jewish Culture. A coleção possuiu um catálogo enorme de trabalhos de músicos judeus que são provocados por John Zorn com a seguinte pergunta: "se você fosse fazer uma contribuição à cultura judaica, o que você faria?". Os resultados são tão diversos quanto o Sovlanut pode dar a entender.

Esse disco vem provar que existe reggae judaico muito além de Matisyahu.

Tracklist:

01 - Kasha Dub
02 - Sovlanut
03 - Mach-Hey
04 - Midwood Cowboy
05 - Tefachim
06 - Fresser Dub

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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Merzbow & Jamie Saft - Merzdub [2006]

Merzbow é um dj dadaísta japonês de noise e música experimental. Jamie Saft é um pianista e tecladista americano de jazz, música eletrônica e vários tipos de música experimental. Aqui os dois músicos se encontram pra tocar dub. O resultado é tão surpreendente quanto a dupla que o fez - uma paisagem sonora de ruído proporcionada por Merzbow paira sobre um instrumental minimalista que está quase sempre à beira de virar um reggae, mas que sucumbe poucas vezes. A faixa mais acessível a ouvidos mais puramente jamaicanos é a hipnótica Slow Down Furry Dub que fecha o álbum: doze minutos de dois acordes no característico contratempo do dub e numa lentidão mais do que apropriada para o estilo, mas que nem Lee Scratch Perry conseguiu atingir. Ideal para dias de consciências alteradas.

Tracklist:

01 - Conquerer
02 - Beware Dub
03 - Skinning JLO
04 - Kantacky Fried Dub
05 - Visions of Irie
06 - Dangermix
07 - Updub
08 - Slow Down Furry Dub

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Muslimgauze - Fatah Guerrilla [1996]



Dedicado a um Estado Palestino.
Livre do abuso zionista de direitos humanos.
Dedicado a um Chechênia independente.

São dedicatórias incomuns para um disco de música eletrônica dos anos 90 feita por um inglês nascido e criado na Inglaterra. Mas para Bryn Jones, conhecido no underground britânico como Muslimgauze, os conflitos do Oriente Médio são o ponto focal do seu trabalho. Quando Israel invadiu o sul do Líbano em 1982, sob o pretexto de pacificar a região, atacando grupos da Organização para a Libertação da Palestina, Bryn começou a fazer música. Sem nunca ter visitado países árabes e se informando principalmente através de bibliotecas, jornais e televisão, criou o pseudônimo Muslimgauze e passou a apoiar os palestinos e outros povos oprimidos por conflitos gerados pelo "interesse ocidental em recursos naturais e vitórias político-estratégicas", incluindo aí chechenos, iranianos, afegãos, tibetanos, paquistaneses e indianos. Ele justificou o fato de nunca ter visitado esses países dizendo que uma terra ocupada não é uma atração turística - você não visita o lugar até ele ser livre novamente: "quer dizer então que para ser contra o apartheid você tem que visitar a África do Sul?"

Mas Muslimgauze circula habilmente um dos problemas principais ao se misturar política e música. Seu trabalho está longe de ser panfletário. Tirando alguns poucos samples vocais, sua música é inteiramente instrumental. Os títulos das músicas e dos cds, as dedicatórias e as imagens das capas são o suficiente para instigar o ouvinte a aprender mais sobre esses conflitos mundiais. "Não tem letras, porque isso seria pregação. É música. Descobrir mais depende de você."

Musicalmente, Muslimgauze é tão interessante quanto sua imagem. Surgiu no clima do anarco-punk DIY que varria a Inglaterra da época, que produziu bandas como Crass (que também tem uma preocupação política muito grande). Seu som segue a mesma linha lo-fi caseira, mas adaptada para a música eletrônica. É uma espécie de noise dançante, que não fica devendo nada a pioneiros da música eletroacústica acadêmica, como Pierre Schaeffer, ou a DJs do noise mais extremo, como Merzbow, mas que ao mesmo tempo tem uma influência muito grande de música étnica do Oriente Médio, de dub e dos gêneros de música eletrônica do underground britânico.

Escutar preferivelmente virado para Meca.

Tracklist:

CD 1 - Muhammadunize

01 - Devour
02 - Devour
03 - Khalifate
04 - Imad Akel
05 - Khalifate
06 - Imal Akel
07 - Fatah Guerrilla

CD 2 - Takij and Persian Blind

01 - Shishla Nain Royal Bidjar
02 - Minaret Above All Others
03 - Saleem Bou
04 - Khidmutghar One-Two-Three
05 - Dizurt
06 - Iman Shamil 1837
07 - Enjinn
08 - Dacoit Guild
09 - Deceiver for Yourself
10 - Anti-Arab Media Censor
11 - Negev Gulag
12 - Hakeem Alkimi
13 - Shaduf

CD 3 - Chechnya Overdub
01 - Resume and Shaduf
02 - Gifts from an Afghan
03 - Pahlavi Engineer
04 - Guilded Gulag Mind-er
05 - Under the Influence of Kolera
06 - Devotion of Abdul Karim
07 - Camel Abuse Does Not Egzist in Mogadisu
08 - Girl in a Red Turban
09 - Peacock Headress
10 - Sari of Acidic Colours

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