sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Da Silva & D'MalassomBROSband - E o Pior Qu'Isso Tudo Não é Ficção [2011]


Paulo Ricardo da Silva, ou Maguinho da Silva, trabalha com música a mais de quinze anos, já fez parte das bandas potiguares Zaratustra, Casa de Orates e daSilva e a Síncope. E esse ano, finalmente, lança o primeiro disco que leva seu nome: dessa vez acompanhado da big band d'malassomBROSband - de um DJ a uma sessão de metais, os músicos não deixam o som cair em nenhum momento.

Para um disco que contém músicas compostas em épocas completamente diferentes, o resultado é surpreendentemente coeso e contemporâneo. Uma espécie de manguebeat que cresceu e aglutinou mais referências, um funk de BNegão ou um samba de Mundo Livre - inclusive a imagem de Maguinho da Silva no palco empunhando um cavaquinho faz logo pensar em um Fred 04 natalense. Num momento em que Natal parece estar acordando e buscando uma identidade própria que seja tão forte quanto aquela que se idealiza nos pernambucanos, uma vontade de criar uma cena coesa, identificável de longe, auto-suficiente (uma crise de identidade parecida com a que João Pessoa tem passado nos últimos anos - e que só agora dá sinais de que vai passar), o E o Pior Qu'isso Tudo Não é Ficção funciona muito bem como a afirmação de uma identidade natalense. Se dá pra dizer que o trabalho é influenciado pelos conterrâneos - e colegas - como MC Priguissa, DuSouto, Orquestra Boca Seca... - dá pra ver que ele também influenciará muita gente. Aí pra vocês, uma amostra da cena natalense.


Tracklist

01 - Me Chame Com'eu Sou(l)
02 - No Ar
03 - Cinicamente Romântico
04 -Eu só Quero Amar
05 - Tô Dizendo a Vc
06 - Tem a Ver
07 - Iiiisso
08 - Beat and Explosion
09 - Some Wonders Music
10 - Eita Beat
11 - Avenida da Canção
12 - Clareou
13 - Que Fantasia
14 - Se é Pra Chorar
15 - Clareou
16 - Some Wonders Music (itsallinmind)
17 - Dub-Me (remix)

Clique na capa do álbum pra baixar

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

I Gufi - Cantano Due Secoli di Resistenza [1965]


I Gufi talvez seja um dos grupos mais interessantes da Itália dos anos 60. Existiu apenas por cinco anos, entre 1964 e 1969, mas deixou um legado profundo na música italiana. Surgiu em Milão como um grupo de espetáculo de cabaret aos moldes do que se fazia na França, mas da maneira mais italiana possível. Seus shows misturavam teatro, pantomima, crítica política e social, e tudo era ligado pelo fio condutor da música. A Milão sessentista era um ambiente fértil para esse tipo de coisa: na mesma época estavam em alta artistas como Dario Fo, Giorgio Gaber e Enzo Jannacci, comediantes, músicos e atores que tinham em comum, em maior ou menor grau, a sátira social, a releitura da tradição local, o uso do dialeto. Nanni Svampa, o membro fundador dos Gufi, não era diferente. Começou sua carreira traduzindo canções de Georges Brassens para o dialeto milanês, e começou uma jornada de aprofundamento na tradição lombarda. Em 64 conhece o jazzista Lino Patruno e a partir daí monta I Gufi, com a adição de Gianni Magni e Roberto Brivio.

Embora sejam mais conhecidos por sua sátira bem humorada, o segundo disco do grupo mostra um lado mais sério. I Gufi Cantano Due Secoli di Resistenza (I Gufi cantam dois séculos de resistência) foi o fruto de uma pesquisa que resgatou canções desde o século XVIII, e é um panorama dos principais dramas vividos pelo italiano médio nesses duzentos anos de história. A mais antiga, Partire, partirò, partir bisogna, de 1799, data da época em que foi instituída a obrigatoriedade do serviço militar, durante as guerras napoleônicas, e as mais recentes são todas da época da Segunda Guerra, incluindo os dois hinos mais representativos da resistência anti-fascista: Bella Ciao e Fischia il Vento, que foram gravadas por artistas do mundo inteiro e que ainda hoje fazem raiva à direita italiana. Esse disco é uma ode a toda alma revolucionária, que fala direto ao ser humano que quer ser livre.


Tracklist:

01 - Partire, Partirò, Partir Bisogna (1799)
02 - Inno a Oberdan (1882)
03 - Addio a Lugano (1894)
04 - Ninna Nanna della Guerra (1914)
05 - O Gorizia Tu Sei Maledetta (1916)
06 - Il Bersagliere ha Cento Penne (1915-18 / 1943-45)
07 - Bella Ciao (1943-45)
08 - Fischia il Vento (1943-45)
09 - Cosa Rimiri Mio Bel Partigiano (1943-45)
10 - Pietà l'è Morta (1943-45)
11 - Se Non Ci Ammazza i Crucchi (1943-45)

Clique na capa do álbum pra baixar.

Squizopop - Polvo [2011]


Numa João Pessoa em que o Galpão 14 fechou, em que ninguém mais vai pra um estacionamento de terra batida num sábado de tarde pra passar o dia pogando pra bandas cover de Ramones que mal sabem as letras - e não precisam saber, em que as pessoas vão pros shows pra ver a banda de longe, sentados, ouvindo do lado de fora e depois dizendo que foi ótimo; pra quem estava vivo alguns anos atrás, hoje tem muito progresso mas também muito tédio. Do tédio surge Squizopop, uma baforada de ar quente na madrugada da Anthenor Navarro. Uma banda contra a apatia, que quer que você suba no palco no meio do show, tome o microfone, grite uma putaria e jogue as calças em cima do público. Isso não vai acontecer ainda, o pessoal tem que se reacostumar.

Depois de mais ou menos um ano se preparando, ensaiando e juntando dinheiro, lançam seu primeiro EP: Polvo. Polvo é aquele bicho estranho com um monte de tentáculos apontando pra todas as direções, um cérebro desgarrado do seu corpo, que é feio mas que todo mundo quer ver de perto, e que se for grande o suficiente pode derrubar uma caravela de navegadores portugueses. Entendam como for, é o que melhor define Squizopop: o EP é quase um cartão de visita cínico, uma semente de revolução a ser incubada em quem a ouvir. Se conseguirem completar sua missão de implodir o tédio e a apatia, o que hoje é polvo pode se tornar um kraken.



Tracklist:

01 - Galleries
02 - The Same
03 - Harvest
04 - The Lost Ones

Você pode clicar na capa do álbum pra baixar, ou também pode usar o "Pay With a Tweet", um serviço que disponibiliza o disco para download por um preço mínimo: um tweet divulgando o álbum. Você ajuda a banda e não gasta nada. Para pagar com um tweet, clique no link abaixo:

terça-feira, 4 de outubro de 2011

The Honkers - Roll Up Your Sleeves and Help Us Rock Up This Honker World [2007]


The Honkers é uma banda punk de Salvador, daquelas bandas de bêbados mazelados que geralmente são as melhores bandas punk. A idéia da banda surgiu em 1997, mas foi só em 2000 que fizeram o primeiro show com esse nome. Nesses três anos, não ensaiaram quase nada, fizeram pouquíssimos shows mas criaram um mito ao redor deles. A história turbulenta e hilária do início da banda inclui destruição de equipamento emprestado em shows, o vocalista só de cuecas num lugar que não permitia nem que se tirasse a camisa e um baterista que não sabia como as músicas da banda começavam mas que tocava muito.

Vi um show da banda no Galpão 14 em 2008, quando a banda já tinha mais de dez anos, mas a energia era de uma banda recém formada: foi uma das performances de palco mais instigantes que já vi, daquelas que te lembram que punk não é só um power chord atrás do outro. Com direito ao vocalista subindo no balcão do bar e bebendo cerveja diretamente da sua bota.

E ao mesmo tempo, o CD deles é muito bem trabalhado para uma banda do gênero. Ficam claras as influências além do punk: o ska, o psychobilly, o rock de garagem dos anos 60. Talvez o CD seja até bem trabalhado demais em comparação ao que é a banda ao vivo, mas continua sendo um grande disco punk por uma grande banda punk.


Tracklist:

01 - She'll Be My Little One
02 - Psychedelic Yellow Sugars
03 - People Love Hate
04 - Devil Girl
05 - Let Me Feel The Sun
06 - Be Your God
07 - These Things Happen ALL the Time
08 - This Is An Old World
09 - Distorced Party
10 - Something's Wrong With My Girl
11 - Where Do I Go
12 - Pretty Punk Girl
13 - Between the Devil and the Deep Blue Sea

Clique na capa do álbum pra baixar

Ou siga a dica do vocalista Rodrigo Sputter e vá no fotolog deles: http://www.fotolog.com/thehonkers/ e baixe o CD mais dois EPs em boa qualidade

domingo, 2 de outubro de 2011

Parahyba Art Ensemble - Ao Vivo - Festival MIMO 2011


Reunindo instrumentistas de diferentes bagagens e nacionalidades que se encontraram na Paraíba, vos apresento um concerto com influências do jazz, da música eletroacústica e, claro, da música nordestina. Surpresas visuais vão criar o ambiente que alimenta os rumos sonoros do coletivo. O ensemble é formado pelo baterista americano Gregg Mervine, o multi-instrumentista belga Henry Krutzen, o francês Didier Guigue nos sintetizadores e flauta baixo, o DJ Guirraiz, o trompetista alemão Burgo, o baixista Mateus Alves e o VJ Spencer. Solicitamos que sejam desligados os aparelhos celulares e desejamos a todos um ótimo concerto. E agora, com vocês, Parahyba Art Ensemble!
Apresentação da banda no início do CD

No último post, falei do MarginalS, um trio paulista que se dedica à livre improvisação. Do outro lado do país, em terras paraibanas, o Parahyba Art Ensemble também se dedica a essa prática. O MarginalS é a livre improvisação "de rua", sem nenhum vínculo com a academia ou com as teorizações sobre o gênero. Já o Parahyba Art Ensemble junta as duas coisas: entre seus integrantes há desde professores da Universidade Federal da Paraíba até DJs.

Além dos músicos citados na apresentação, o Ensemble conta também com Esmeraldo Marques, o ChicoCorrea, que reuniu o grupo pela primeira vez em 2010, para uma apresentação no Festival Mundo. A apresentação durou cerca de quarenta minutos (foram duas improvisações que duraram mais ou menos vinte minutos cada), e seguiu um pouco nos moldes de projetos precursores, como o extinto Volante Filipéia, que era um coletivo de discotecagem e videotecagem (que também incluía Esmeraldo), ou algumas apresentações da Burro Morto. A experiência da banda não se limita ao auditivo - e aí vocês baixando esse CD vão sair perdendo -, mas também há um VJ improvisando superposições de imagens, que são projetadas em cima da banda. Mas ao mesmo tempo o Ensemble traz algo de novo ao cenário ao popularizar a livre improvisação e trazer uma espécie de big band de jazz eletrônico. Ornette Coleman aprovaria.


Tracklist:

01 - Improv 1
02 - Improv 2
03 - Improv 3
04 - Improv 4
05 - Improv 5
06 - Improv 6

Clique na capa do álbum pra baixar

Baixe também aqui dois artigos acadêmicos do músico Cesar Villavicencio sobre livre improvisação: "A Retórica do Silêncio" e "The Discourse of Free Improvisation" (este último em inglês).

E acesse http://freeformfreejazz.blogspot.com/ para mais informações, discos, vídeos e resenhas sobre livre improvisação e free jazz