sexta-feira, 24 de junho de 2011

Killamu - A Minha Face [2010]


Alguns posts atrás eu tinha prometido a vocês um pouco do verdadeiro kuduro angolano. E aí vai: DJ Killamu é um dos principais produtores de kuduro, vindo do bairro do Rangel, na capital angolana de Luanda: o lar desse ritmo marginalizado. Killamu começou por volta de 2000, nos primórdios do gênero, e durante dez anos foi o principal produtor, realizador e incentivador, tendo produzido artistas como Puto Prata, Noite e Dia e Fofandó & Saborosa. Foi o responsável por introduzir vozes femininas no gênero, e por fazê-lo avançar um passo: do kuduro como mero espetáculo de divertimento para um estilo musical estruturado, adicionando elementos tirados da cultura ocidental – o rap e o beat dos guetos americanos.

Apenas em 2010 Killamu resolveu lançar seu primeiro trabalho solo. Foi apenas no final dos anos 2000 que o kuduro começou sua jornada para longe da marginalização, quando bandas da Europa (como o Buraka Som Sistema) começaram a se interessar pelo gênero, e desde então os DJs de Angola têm batalhado cada vez mais contra o preconceito – o mesmo preconceito que o funk carioca sofre aqui no Brasil. O A Minha Face é importantíssimo nessa cruzada: não se prende apenas ao kuduro "puro", e junta várias influências da música africana em geral, como a kizomba ou zouk, produzindo um disco longe do estereótipo do kuduro de putaria não melodiosa e com acabamento tosco. Um disco obrigatório pra quem se interessa pelos ritmos de periferia – os ritmos "vira-lata", segundo o DJ carioca Marcelinho da Lua.



Tracklist:

01 - Intro
02 - Dança e Yoyo
03 - Vai Com Calma
04 - Yuya
05 - Não Aceito Não
06 - Não Maya
07 - Tchilu
08 - Tarraxu
09 - Flaminguinho
10 - Tiramakossa (Remix)
11 - Ta Ndjeff
12 - Sukuma
13 - Melodia de Semba
14 - 7 Pecados

Clique na capa do álbum pra baixar.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Laver Bariu - Tirana [????]


Dentre as formas de música folclórica balcânica, pouco se fala sobre a música albanesa. Pode-se dividir a o povo albanês em dois grupos principais: os Tosks, ao sul, e os Ghegs ao norte – é uma fronteira lingüística, geográfica e cultural. A música do norte é conhecida por seus épicos, temática bélica e mais rudimentar, enquanto a do sul tende a ser mais suave. Uma das características marcantes da música do sul é a polifonia vocal, que usa um tipo de canto harmônico parecido com o do povo de Tuva, na Mongólia. O centro de inovação musical folclórica da Albânia é a cidade de Permët, no extremo sul, lar da família Lela de Permët, uma das mais famosas dinastias musicais do país.

Também de Permët é Laver Bariu. Filho de Bari Nurka, um cantor e tocador de llautë (uma espécie de alaúde) local, desde cedo Laver demonstrou interesse pela música – no começo queria tocar gajde, uma versão folclórica da gaita de foles, mas seu pai começou a instruí-lo a tocar llautë, e Laver inclusive começou a fabricar seus próprios instrumentos. Durante a Segunda Guerra, Laver conheceu um clarinetista grego refugiado que o chamou para tocar percussão em seu grupo. Depois o próprio Laver fugiria por causa da guerra, e foi parar na cidade de Korçë, um grande centro cultural da época. Lá se juntou a vários grupos, inclusive ao do clarinetista Vangjel Leskoviku, tocando llautë. Vangjel aumentou seu interesse pelo clarinete, e lhe ensinou várias canções. Voltou a Përmet em 1944 e montou seu próprio grupo, que permaneceu ativo durante seis décadas, e gravou diversas vezes para a Radio Tirana, da capital do país.

Eu suponho que esse disco deve ser de alguma das sessões para a Radio Tirana, mas não tenho certeza, nem encontrei nenhuma informação sobre o disco. O registro mais famoso de Laver Bariu no ocidente é o Songs from the City of Roses, de 1996 – o do post de hoje é de circulação bem menor. É uma raridade da música folclórica balcânica, ótimo para quem gosta de música grega, mediterrânea ou leste-européia em geral.



Tracklist:

01 - Dirge
02 - Dance from Dropoli
03 - I Went Down the Fields
04 - Berace Dance
05 - I'll Take my Rifle
06 - Gaida Dance
07 - Girl of the Waves
08 - Dance of Marika
09 - Mother, go tell Yanni
10 - The Bride's Dance
11 - The Muleteer
12 - Osman-Taka
13 - Devoli

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quarta-feira, 22 de junho de 2011

Tocaia da Paraíba - Botando Pra Quebrar [2005]


O segundo disco da cajazeirense Tocaia da Paraíba continua o trabalho preciosíssimo de seu primeiro disco (que você também encontra aqui): a simbiose muito bem orquestrada da música de raiz brasileira – especialmente nordestina – com o som funkeado e rockeado da globalização que se infiltrou na música dos anos 90, que gerou filhos em Belém, no Recife, em Fortaleza e em Cajazeiras com o Tocaia, representante paraibano dessa vertente junto com As Parêa e Cabruêra.

O disco é uma grande homenagem ao Nordeste como um todo, e a personagens individuais. A música Saóra, do baixista Naldinho Braga, é uma homenagem ao padeiro mais famoso de Cajazeiras, que alimentou a cidade inteira por anos com seu pão. Borracha, de Erivan Araújo, é uma homenagem ao homônimo boêmio e colecionador de fotografias da cidade. O grupo também faz releituras de músicas do maestro amazonense radicado na Paraíba Pedro Santos, que compôs a trilha sonora de Menino de Engenho de Walter Lima Jr., de onde saiu a música Zefa Cajá, que em 2005 ganhou guitarras com wah-wah.

E pra quem quiser comprar o CD, com caixinha e encarte (com design feito por Vant Vaz, da Tribo Éthnos), podem entrar em contato com Naldinho Braga, que disse que fazia até por cinco reais pra estudante. O e-mail dele para contato é naldinhobraga@yahoo.com.br – o contato também vale pra quem quiser comprar o CD do próprio Naldinho.

Tracklist:

01 - Desafio
02 - Zé Cutia
03 - Saóra
04 - E por falar em saudade...
05 - Tabajara
06 - Duas Gatas
07 - Farol
08 - João Grilo
09 - Tambores Silenciosos
10 - Mei de Fêra
11 - Zefa Cajá
12 - Náufragos
13 - Canção de Serviço
14 - Borracha
15 - Desafio

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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Scary Monsters - Desvios Subterrâneos [2010]


Um tempo atrás, ou você era mainstream, era filiado a uma gravadora e vendia milhões de discos, ou você era independente e, conseqüentemente, underground, pobre e com gravações artesanais – todo o movimento punk oitentista de São Paulo, por exemplo. Como Frank Zappa dizia, "o mainstream vai até você, mas você tem que ir ao underground" – e quando se chega lá geralmente se encontram as coisas mais interessantes. Hoje em dia a situação tem ainda mais variáveis. Você pode ser mainstream (uma categoria quase em extinção, ou pelo menos esvaziada de quase todo conteúdo interessante) e você pode ser independente. Mas hoje em dia é quase todo mundo independente – isso trouxe algumas melhorias óbvias: as pessoas fazem o que realmente gostam, existe muito mais verdade na cena musical brasileira (quem diz que a música brasileira está em decadência obviamente não conhece muita coisa: no mainstream realmente está, mas o mainstream é o que menos interessa). Mas já existe quase uma "indústria do independente", gravadoras independentes, coletivos independentes, produtoras independentes e até dinheiro independente. Isso adiciona um terceiro elemento: as bandas independentes que não estão no circuito independente, que realmente arcam com tudo sozinhas, que não deixam o do it yourself oitentista morrer.

Uma delas, aqui em João Pessoa, é a Scary Monsters. Surgiu em 2002, influenciada pelo punk, pelo hard rock, pelo glam, por David Bowie, mas que no fundo são uma coisa só: rock, não só no sentido musical (?) da coisa, nem no sentido filosófico e muito menos político, mas rock como estado de espírito. Se por um lado sofrem da dificuldade óbvia das bandas que precisam se auto-sustentar completamente, eles podem levantar a cabeça, sorrir, talvez levantar uma sobrancelha e afirmar com muito gosto que eles têm liberdade e muito mais verdade na sua música. Sua única bandeira política é mostrar que se agarrar a uma bandeira política pode te cegar. E além de tudo isso, também estão aí para divertir: esse EP, do ano passado, começa de cara com uma música quase à psychobilly sobre o Dr. Jekyll e Mr. Hyde se esgueirando nas sombras, prestes a atacar – se você quiser, até um pouco como a própria banda. Só baixe se você for subversivo.



Tracklist:

01 - Dr. Jekyll & Mr. Hyde
02 - O Comediante
03 - Doce Garota Fatal
04 - Cadafalso
05 - Indivíduo Imundo
06 - Amor Etílico

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domingo, 12 de junho de 2011

Dalva Suada - EP [2011]


Quem vem acompanhando de uns tempos pra cá tá vendo que a Paraíba tá se saindo com umas produções que merecem o adjetivo fuderosas com todas as letras. Talvez o exemplo mais evidente seja Burro Morto, que já circula nacionalmente com a maior tranqüilidade, tendo inclusive a moral de chamar Catatau pra tocar no disco deles.

Mas na minha modesta opinião, hoje em dia, a banda que mais se garante nessas nossas terras é Dalva Suada. Quando você acha que vai ser muito difícil fazer algo novo sair daquele velho power trio guitarra-baixo-bateria (e no caso deles mais um integrante só pra cantar), aparece a Dalva Suada.

As origens de Dalva (e de todo um monte de coisa) remontam à Dalila no Caos (que só nos deixou um registro de três músicas). Não era um movimento, não era uma cena, não era uma trupe vindo salvar a música: era somente (somente?) uma galera tirando um som. Tirando um som não no sentido preguiçoso de um monte de músicos se juntando pra se divertir. No sentido de um monte de músicos se juntando pra divertir os outros enquanto se divertem. Dessa galera da Dalila, uns entraram na onda mais experimental, e apareceu o Burro Morto (com Daniel Jesi, Leo Marinho e Ruy Oliveira vindos do Caos). Mais recentemente, outros entraram na onda mais pesada mesmo (e de lá sairam Felipe Augusto e de novo Daniel Jesi). E a Dalva Suada é essa: Felipe Augusto na guitarra e nos backing vocals, Daniel Jesi no baixo, Nildo Gonzales na bateria e, last but not least, Marcelo Piras nos vocais.

Lançaram seu primeiro EP no ano passado, eu escutei e fiquei de cara. A qualidade do trabalho era fantástica. Talvez não desse pra entender muito bem as letras, mas isso nem era o mais importante. Um stoner rock pra cima, vocais que parecem gritados mas não são, e que parecem cantados mas não são, redondinhos mas não bonitinhos. Tem seus momentos de psicodelia mas não é aquela fritação chapada demais que poderia manchar o rock macho que tem ali.

Nesse segundo EP (que está saindo hoje nos melhores blogs de música independente brasileira), eles mostraram que conseguiram segurar o nível. Inclusive ficaram mais corajosos: entraram no perigoso mundo das músicas de rock maiores do que seis minutos – e sairam vitoriosos. Algumas músicas (como Boca Seca) já conhecidas de quem vinha freqüentando os shows, nesse EP eles mostram melhor ainda a parte experimental da Dalva, e que rock não precisa ser besta, e que não, tudo ainda não foi feito.

E é impossível deixar de mencionar a arte do EP, feita pelo artista plástico anti-establishment Thiago Trapo, que já tinha dado uma força indispensável à capa do primeiro EP da Ubella Preta. Pra mostrar que Dalva Suada não deixa passar batido nenhum detalhe: afinal o visual de uma banda é às vezes até mais importante do que a gente imagina que seja.

Pra terminar, um pedaço do show da Dalva Suada no primeiro Festival Derrame, lá na Piollin, só pra vocês sentirem o drama:



Tracklist:

01 - Amarelo
02 - Cabritado
03 - Inseto Castanho
04 - Boca Seca

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Krøyt - One Heart is Too Small [2001]


Tem umas coisas que só aquela atmosfera fria da Escandinávia consegue produzir. Parece que o tempo lá anda diferente – as músicas são quentes, mas é aquele calor de quem está aquecido no frio, e não aquele calor da gente aqui. O jazz deles é mais cool que o de Miles Davis. Alguns são mais famosos: o trompetista Nils Petter Molvær, o saxofonista Jan Garbarek ou o pianista Bugge Wesseltoft. Os que trago aqui nem tanto.

Krøyt surgiu na Noruega em 1993, quando o acid jazz tinha acabado de surgir: um ano depois do lançamento do último disco de Miles Davis, o Doo Bop, o primeiro a misturar jazz com hip-hop (pra manter a tradição de Miles de criar novos estilos de jazz: desde o cool em 1949, até o acid jazz em 1991, quando morreu – quem sabe o que ele ainda não teria inventado?). O trio lançou seu primeiro disco, o Sub, em 1997, e em 1999 ganharam o Grammy norueguês pelo seu álbum Low.

O One Heart is Too Small é de 2001 – o grupo já estava bem consolidado, e sabia o que queria. O som é meio trip-hop, meio acid jazz, com seus momentos de rock bem pra cima pra contrastar. A primeira música já envolve numa atmosfera de neblina, com os vibrafones cristalinos fazendo um dueto com uma voz feminina ainda mais cristalina, cantando uma versão boreal do poema As Adam Early in the Morning, do poeta americano Walt Whitman. Ótimo pra fingir que esse nosso inverno é um pouquinho mais frio do que ele é.



Tracklist:

01 - As Adam Early in the Morning
02 - Grown and Flown
03 - Heart's Heart
04 - Don't Cry For Me
05 - Werving
06 - If There Be Anyone
07 - Who Has Seen The Wind
08 - Mountain
09 - Calm With Reason
10 - Seals in Vain (Come Away)
11 - Bride

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sexta-feira, 10 de junho de 2011

Companhia Carroça de Mamulengos - Afilhados do Padrinho: Juazeiro do Norte [2009]


Já postei antes o disco mais conhecido da Cia. Carroça de Mamulengos, a família de malabaristas, artistas circenses, músicos, palhaços e contorcionistas que há mais de vinte anos roda o Brasil com seus espetáculos. Algumas semanas atrás estiveram em João Pessoa, com espetáculos antigos e novos, e não deu pra eu ficar indiferente. Encontrei esse CD pra baixar no site oficial da Companhia, e coloco pra vocês aqui.

Esse CD é produto do grupo "Afilhados do Padrinho", que é basicamente o nome que a Companhia adotou ao se juntar a mais alguns músicos pra gravar essas músicas, compostas por Carlos Gomide, o fundador e pai da maior parte dos integrantes. Juazeiro do Norte é o lar espiritual do grupo, que não tem uma sede fixa, e a inspiração pra esse trabalho. No estilo característico da Companhia, vários forrós, cantigas de roda e cantos de louvor, com uma nordestinidade fortíssima. Entre as faixas, a "Bendito Tupiniquim", uma espécie de hino contra o McDonalds que fez o público daqui aplaudir fortemente.



Tracklist:

01 - Bendito Nossa Senhora das Candeias
02 - Voar de Afilhado
03 - Canto Generoso
04 - Fogo Sagrado
05 - Vida de Jaó
06 - Conselho Inspirado
07 - Bendito Tupiniquim
08 - Sanfoneiro de Lampião
09 - Rosário Mariano
10 - Irmão Sol Irmã Lua
11 - Cachorro Homem
12 - Beijo na Janela
13 - Marchinha do Tatu
14 - Canoa do Amor
15 - Pedacinho do Céu

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quinta-feira, 2 de junho de 2011

Maracatu Vigna Vulgaris - O Regional Pelo Universal e o Universal pelo Regional [2008]


A Maracatu Vigna Vulgaris nasceu em 2003, em Fortaleza. É uma daquelas bandas pós-manguebit, misturando maracatu cearense com rock, reisado com rap, com uma propriedade e refinamento invejáveis. E por que uma banda de música de raiz cearense tem um nome em latim? Explico: o nome científico do nosso querido feijão verde (ou feijão de corda) é Vigna unguiculata, do qual o Ceará é um dos principais produtores. Já o nome do feijão carioca (ou mulatinho), popular no resto do Brasil inteiro, é Phaseolus vulgaris. O nome da banda e sua proposta é essa simbiose: o regional pelo universal e o universal pelo regional.

Começaram a carreira tocando em eventos da UFC, e foi aos poucos que foram ganhando visibilidade, ganhando concursos e prêmios. Foi só em 2008 que lançaram seu primeiro CD, com composições próprias e também do compositor Pingo de Fortaleza, um dos principais nomes do maracatu cearense. Completam o ciclo das manifestações folclóricas urbanas do Norte/Nordeste, junto a Chico Sciene & Nação Zumbi em Pernambuco, o Tocaia na Paraíba ou o Coletivo Rádio Cipó no Pará.

Segue o clipe de Açaizeiro Popular, gravado num 20 de novembro, dia da consciência negra:



Tracklist:

01 - Açaizeiro Popular
02 - Afroporinbras ou Prelúdio do Renascimento
03 - Baião Rock do Preto Velho
04 - Beato José Lourenço
05 - Besouro de Madagascar
06 - Dia de Festa
07 - Filhos do Caldeirão
08 - Guaramiranga ou Gen da Segregação
09 - Maculelê
10 - Maracatu Estandarte
11 - Maracatu Vigna Vulgaris ou Corda de Mulatinho
12 - Siri-Ará

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