segunda-feira, 23 de maio de 2011

Xeno - Moving to Town... [1999]



Xeno (pronuncia-se Zeno) é um projeto de música eletrônica do belga Henry Krutzen, que desde 2001 mora no Brasil. O nome (que vem de xénos, a palavra grega para estrangeiro) não podia ser mais adequado: o cosmopolitismo emana dessa figura. Embora formado e atuante no campo da psicanálise, não deixa a música em segundo plano. Começou na Bélgica entre as décadas de 70 e 80 tocando em várias bandas, desde Earwigs, uma banda de heavy metal, até Bar, um projeto de chanson francesa, passando pelo rock progressivo, new wave, experimental e jazz.

Em 1993, ainda na Bélgica, funda a banda de rock progressivo Finnegans Wake, que queria ser algo nos moldes do que foram as bandas de Canterbury dos anos 70 (como Soft Machine ou Caravan), mas que acabou sendo mais influenciada pela música de concerto do século XX e pela música eletrônica. A banda existe até hoje, tendo contado com a participação do professor da UFPB Marcílio Onofre, que teve composições gravadas no álbum The Bird and the Sky Above, de 2010.

Chegando ao que interessa: em 1998, depois de já ter feito tanta coisa, Krutzen decide criar seu projeto de música eletrônica, Xeno. As composições são temáticas. O primeiro disco, lançado ainda em 98, chama-se Them, e consiste em peças baseadas em filmes de ficção científica, do homônimo Them! de 1954 sobre formigas radioativas gigantes, a THX 1138, o primeiro filme de George Lucas. Esse disco, lançado um ano depois, se propõe a fazer uma trilha sonora para várias cidades ao redor do mundo, de São Paulo a Dar es Salaam. O resultado é interessante, ainda mais levando-se em conta a época em que foi feito: a música eletrônica ainda estava sob a sombra dos anos 80, quase sempre associada a dance music. Muitas vezes pra quem ouve o disco em 2011 os timbres MIDI demais podem acabar parecendo artificiais, mas em 1998 com certeza soavam moderníssimos.

Tracklist:

01 - Gérardmer
02 - ...Or to the Country (romantic)
03 - Granada
04 - ...Or to the Country (mysterioso)
05 - Canterbury
06 - ...Or to the Country (heavenly)
07 - Marrakech
08 - ...Or to the Country (oriental)
09 - Cape Town
10 - ...Or to the Country (dark)
11 - Dar es Salaam
12 - ...Or to the Country (kosmisch)
13 - Bratislava
14 - ...Or to the Country (cosy)
15 - São Paulo
16 - ...Or to the Country (Part 3)
17 - Chicago

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domingo, 15 de maio de 2011

Buraka Som Sistema - Black Diamond [2008]


É sempre um pouco difícil pras pessoas perceberem a evolução das manifestações populares de uma população. Se você não olha com uma certa perspectiva, o que é evolução (no sentido de continuidade, não implicando necessariamente melhora) pode parecer deturpação. É por isso que hoje se acha o funk carioca uma desgraça anti-musical, que o samba era visto com maus olhos, que a capoeira era proibida por lei, que a polifonia franco-flamenga do século XV era vista como pecado e que o forró de plástico arranca tantas caretas e atiça tantas brigas por aí.

Quando se fala de música africana, todo mundo pensa em guerreiros de ébano no pôr-do-sol da savana vestidos com peles de antílope dançando no chão empoeirado ao som de ritmos hipnotizantes percutidos em instrumentos de ferro e de madeira, em línguas perdidas no tempo: aquela idéia world music dos anos 80. É só adicionar toneladas de sintetizadores em cima disso que temos Paul Simon. E os africanos não têm cidades? Não têm centros urbanos mais desenvolvidos do que a metrópole média do Nordeste? Não tiveram acesso à tecnologia?

Tiveram! Os africanos são gente como eu e você, que têm acesso à música que se faz no resto do mundo, e não são simplesmente matéria prima de influências musicais. Eles criam seu próprio conteúdo remixado – em Angola, um dos gêneros mais populares é o kuduro. É a música eletrônica que faz a alegria das festas do povão angolano:



Buraka Som Sistema é uma banda de Portugal que popularizou o gênero na Europa. Fazem o que se passou a chamar de "kuduro progressivo". Black Diamond é seu disco mais recente, de 2008, que conta com a participação dos principais DJs de kuduro de Luanda, como o DJ Znobia e Puto Prata, pra não falar da faixa Aqui Pra Vocês, com colaboração da funkeira brasileira Deize Tigrona, que na época fez um tour na Europa e conheceu os portugueses do Buraka.

Esse post foi só pra vocês se familiarizarem com o kuduro, mais tarde vou postar algumas coisas de kuduro made in Angola. Enquanto isso, vamo todo mundo dançar!

Tracklist:

01 - Luanda/Lisboa (feat. DJ Znobia)
02 - Sound of Kuduro (feat M.I.A., DJ Znobia, Saborosa, Puto Prata)
03 - Aqui Para Vocês (feat. Deize Tigrona)
04 - Kalemba (Wegue Wegue) feat. Pongo Love
05 - Kurum
06 - IC19
07 - Tiroza (feat. Bruno M)
08 - General
09 - New Africas pt. 1
10 - New Africas pt. 2
11 - Beef
12 - Black Diamond (feat. Virus Syndicate)

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quarta-feira, 11 de maio de 2011

Forgarður Helvítis - Gerningaveður [2002]


Forgarður Helvítis surgiu em 1991 em Reykjavík, a capital da Islândia. Os rapazes, que cresceram ouvindo Death, mas esse som ainda era muito tranqüilo pros ouvidos deles – decidiram montar a própria banda. Sobreviveram no começo pelo software livre da época: fitas cassetes com gravações de seus ensaios e apresentações, que se espalharam e foram parar em compilações em vários lugares do mundo. Foi só em 2002 que veio à luz o primeiro (e até agora único) disco da banda.

O som é meio complicado de classificar: as músicas são curtas, pesadas, altas e rápidas, quase grindcore, mas com vocais e guitarras reminiscentes de um black metal rudimentar – ainda mais cheio de letras antirreligiosas (você pode não entender, mas por exemplo "Guð Er Stærsta Lygi Í Heimi" significa "Deus é a Maior Mentira da Terra") . Mas o básico é: não importa o nome que você dá – se você gosta de música extrema, essa é pra você.

Segue um vídeo da banda tocando a primeira faixa do disco ao vivo na Islândia em 2008:



Tracklist:

01 - Án Þess Að Depla Auga
02 - Baráttusöngur
03 - Legsteinn Grafar Minnar
04 - Ferðasýn
05 - Í Forgarðinum
06 - Mannfagnaður
07 - Fjandafæla
08 - Krossfest Börn
09 - Gerningaveður
10 - Óskhyggja
11 - Gelding Óskhyggjunnar
12 - Vítahringur Ömurleikans
13 - Ljósbrjótur
14 - Guð Er Stærsta Lygi Í Heimi
15 - Vængbrotnir Englar
16 - Tormentor
17 - Játning
18 - Þar Sem Hamingjan Ræður Ríkjum
19 - Skuggahiminn
20 - Eðlislægur Fasismi
21 - Heljarslóð
22 - Heljarslóð (2)

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domingo, 8 de maio de 2011

Molestrike - Cinza [2007]


Molestrike foi uma dessas bandas que surgiu e cresceu dentro do cenário da música extrema pessoense. Vi um show deles em 2008 no Galpão 14 – a banda já existia desde 2003, e já tinha um fã-clube fiel – e fiquei impressionado. Raramente uma banda local reunia tanta gente tão interessada pela música: foi uma das maiores rodas de poga que vi na época no lugar. Abriram o show com a música homônima, Molestrike, e aquele riff tinha tanta personalidade, preenchia tanto o ouvido, era tão sem medo que pensei "olha só, abriram o show tocando uma do Iron Maiden... so não consigo lembrar qual é essa". O engano se desfez quando no meio da música o Galpão 14 inteiro urrava o refrão: MOLESTRIKE!

O Cinza foi o único registro sonoro maior do Molestrike. Em 2010, a banda acabou, mas os integrantes não pararam. Se juntaram com a vontade de se profissionalizar, de refinar o trabalho. O projeto (que originalmente iria se chamar Encarnado) é a Hazamat, que é indiscutivelmente mais bem acabada, e que está conquistando um espaço amplo no cenário do rock paraibano. Esse EP é meio que um registro de onde tudo isso começou.

E tenho quase certeza que esse vídeo é o do show que eu tava falando que fui:



Tracklist:

01 - Intro
02 - Molestrike
03 - A Mais Bela
04 - Neurótico
05 - Abaladinha
06 - Prelúdio
07 - O Declínio em Si

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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Sodoma - Sadomazocristo [2005]


No metal extremo paraibano você não tem nórdicos loiros com armaduras medievais e corpse paint impecável, não tem músicos morrendo de hipotermia ao vagarem solitários pelos bosques noruegueses, nem épicos sobre as histórias da traição que levou o deus Baldr à morte. Quem vivenciou pelo menos um pouco da cena daqui sabe que o metal paraibano é quase uma manifestação espontânea do adolescente niilista, é uma coisa do terceiro mundo revoltado mesmo, de quem anda pra cima e pra baixo no centro no sol quente todo vestido de preto e de chinelo, indo pra show improvisado em estacionamento, no Galpão 14, pogando num chão cheio de pedregulho, com todo mundo doido de carreteiro, comprando ou ganhando os cds das bandas daqui em banquinha montada do lado do show por cinco reais, quando é caro.

Sodoma é dessas bandas. Surgiu em 2003, "vociferando em português" acompanhados pela "impiedosa marcha de guerra" que é a banda. É com esse sentimento de ódio niilista que começam a tocar por aqui, e em estados vizinhos, culminando em 2005 com a gravação desta primeira demo, Sadomazocristo. Desde aí, cresceram bastante, tocaram no Brasil inteiro, lançaram uma segunda demo com qualidade bem melhor, e agora se preparam para lançar seu primeiro CD full-length, o Sempiterno Agressor – inclusive o lançamento será amanhã na Casa de Musicultura, no centro:


Essa demo é um registro de uma época me que as pessoas faziam as coisas, feias ou bonitas, do jeito que desse, porque se gostava de fazer aquilo, e se gostava de consumir aquilo. Pra quem gosta de Cannibal Corpse e de metal sujo, é prato cheio

Trecho do show de lançamento do Sempiterno Agressor:



Tracklist:

01 - Vocífero - Ódio Absoluto
02 - Manto de Lúcifer
03 - Obsessão Vingativa
04 - Sadomazocristo
05 - Matem seu Criador
06 - Aurora Sangrenta

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quinta-feira, 5 de maio de 2011

Metal Brain - The Core of Life [1996]


A Metal Brain começou em novembro de 1991, como uma Metallica Cover, e assim permaneceu até 1994. O baixista Elyzomar Braga e o vocalista e guitarrista Kléber Alexandre, que são de Cajazeiras, faziam parte da Conspiração Apocalipse, uma das primeiras bandas de rock a vir do sertão. Quando a Apocalipse veio tocar no SESC, o caminho estava aberto para os meninos (além desses dois, havia o baterista Marcus Vinicius e o guitarrista Walter Guimarães). Em 1995, eles entram em reclusão para ressurgir no ano seguinte com um CD pronto, o The Core of Life. A produção impressionava para uma banda paraibana: o CD foi feito pela Sonopress, agenciada pela MCK, gravado no SG Studio de João Pessoa, e vinha completo com encarte em inglês – buscando um público internacional. Não só, a Metal Brain inovou ao ser uma das primeiras bandas, em plenos anos 90, a disponibilizar o CD inteiro para download na internet, naqueles precários sites de mp3 em que cada musica vinha compactada e você tinha que baixar uma por uma. A banda terminou em 2000, segundo o site oficial devido a uma estagnação do cenário do rock. Um segundo CD, Lost in Time, estava sendo planejado, mas nunca saiu.

Escutando o The Core of Life, você esquece que é uma banda paraibana dos anos 90. Os vocais em inglês, que muitas vezes traem a origem dos integrantes, funcionam perfeitamente, e a competência dos músicos é comparável à de seus ídolos Metallica, Megadeth, Sepultura... Serve pra nos lembrar de vez em quando que a Paraíba tem uma diversidade musical maior do que se pode pensar, e que é possível fazer metal de qualidade. Indispensável pra headbangers nordestinos – e do mundo todo.

01 - The Core of Life
02 - Night Escape
03 - The Obscure
04 - Life and its Lies
05 - Dirty Religions
06 - Neverland
07 - War Film
08 - Christ's Lips
09 - Kill or Die
10 - Dream

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